Fiquei muito triste com a morte do Leon Cakoff, quase quatro anos atrás.
Leon foi um realizador como poucos na área cultural, um exemplo e um motivador para a minha carreira e de quem mais transita no meio cultural.
Em 2006 o convidei para vir a Santos bater um papo com um público um pouco diferente para ele, os leitores. Acostumado a conduzir a Mostra Internacional de Cinema e a conduzir milhares de pessoas para salas escuras desta vez ele viria falar de seu livro de contos, publicado pela Cosac Naify, "Ainda Temos Tempo".
Não são bem contos, são histórias de viagem, em busca das latas de filme que iniciaram muita gente na sétima arte no nosso país. Pode ser também um livro de aventura em terras exóticas, afinal sabemos que se produz cinema de qualidade pelos quatro cantos do mundo.
O Leon tinha topado participar de um projeto que tínhamos em parceria com o SESC, chamado "Terceiras Terças". Sempre na terceira terça recebíamos um nome da literatura brazuca.
Pois bem, quando faltavam uns poucos dias para o evento recebi uma ligação do Leon. Ele estava fulo, a sua assessoria havia agendado o papo no mesmo dia da estreia de um filme que ele próprio havia dirigido.
Ele me perguntava: “Como posso faltar a estreia do meu próprio filme?”
Fiquei ali na linha, sem palavras.
E ele desligou, áspero não comigo, mas com o enrosco em si.
No dia seguinte, com mais calma recebo um e-mail dele. A proposta era de vir na quinta-feira, dois dias depois do combinado. Claro que ele não se lembrou que o nome do evento era Terceiras terças, e eu não fui doido de lembrá-lo!
E então lá estávamos nós, felizes da vida, proseando numa quinta que na verdade era terça!
Depois de umas duas semanas recebi uma ligação do Leon, que me pediu uma ajuda num trabalho de um amigo dele, um diretor de cinema.
Estávamos nos dias da Mostra e, para ilustrar o assunto ele me perguntou se eu tinha por perto uma Folha de SP.
Abri na Ilustrada e vi o Leon e mais algumas figuras, dentre elas o amigo, um diretor do Japão.
A missão: acompanhar Kore Eda numa visita guiada ao Porto de Santos, para reconhecimento e registro de imagens que servirão de base para um futuro longa metragem a ser filmado em parte aqui em Santos.
Detalhe: Kore Eda só fala japonês.
No dia seguinte levei o diretor e seu intérprete ao porto, depois de uma difícil credencial viabilizada pela imprensa, que registrou a visita do ilustre cineasta.
Depois deste episódio ficamos camaradas e volta e meia eu ligava pro Leon, tendo idéias relacionadas a eventos, sempre nos lembrando do japonês e do seu longa.
Gosto de me lembrar das aventuras que podem nos oferecer um balcão de livraria, tanto na ficção como na vida.
Um grande abraço, Leon...
José Luiz Tahan, 41, é livreiro e editor.
Dono da Realejo Livros e Edições em Santos, SP,
gosta de ser chamado de "livreiro",
pois acha mais específico do que
"empresário" ou "comerciante",
ainda mais porque gosta de pensar o livro
ao mesmo tempo como obra de arte e produto.
Nas horas vagas, transforma-se
no blues-shouter Big Joe Tahan.
(a ilustração acima é do Seri)
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