Se ainda existe cultura rock em Santos, ela respira sem ajuda de aparelhos em pelo menos um lugar: dentro da Blaster, no Gonzaga. É naquela loja de CDs aparentemente comum que fãs e músicos da região se encontram.
Os frequentadores são quase sempre os mesmos. Dificilmente entra um “intruso” para pedir algum disco que não tenha a ver com a pegada da loja. Por mais diferentes que sejam os figurões da Blaster, quase sempre com camisetas de ícones do rock e estilo de quem não se preocupa com a opinião alheia. Alienígena é quem pede MPB ou qualquer outro gênero nacional nesse ambiente.
É na Blaster onde também se encontram raridades em vinil e CDs novos e usados, principalmente de classic rock, metal e indie rock. A loja é pioneira na Cidade em trazer discos – na época, ainda em vinil - das principais tendências do rock logo que elas surgiam. Foi assim com bandas eletrônicas muito cultuadas, como Front 242, Skinny Puppy e Cabaret Voltaire, além do próprio Fairy Tales, disco de estreia do Harry. Também foi ali que apareceram os primeiros discos de grunge em Santos, incluindo os álbuns que o Nirvana e o Mudhoney gravaram pela Sub-Pop.
Quem controla os ânimos exaltados dos “torcedores” musicais é o proprietário, Rafael Paulino Neto, o Rafa. Ele exerce mais a função de mediador, nisso tudo, há 26 anos. Isso porque as divergências de opiniões são tão ou mais polêmicas do que as que rolam entre torcedores de Palmeiras e Corinthians. Um exemplo clássico é quem acha que o Paul Di’Anno foi melhor vocalista do que Bruce Dickinson no Iron Maiden. E ele, melhor do que ninguém, conhece bem os detalhes rock and roll da música.
Para Rafa, rock é assunto sério há pelo menos 40 anos. Seu interesse começou na escola, de onde saía direto para a casa dos amigos. Lá, eles trocavam discos e informações. Com 16 anos, aprendeu os primeiros acordes na guitarra e não demorou para perceber que ser professor do instrumento era sua vocação. Isso até assumir o comando da Blaster, em 1989. O detalhe é que, ao chegar em casa, ele ainda faz questão de explorar seu acervo com 5 mil discos. “Gosto de ouvir, curtir o som, colecionar, conhecer os ícones, conversar sobre o assunto, saber a cultura do rock”.
Pelo que se vê nesse espaço intermediário entre a luz e a sombra, como diria Rod Serling, ainda existe esperança na geração que empurra a porta de vidro e entra na Blaster. Segundo Rafa, são jovens, muitas vezes acompanhados dos pais e na faixa de 14 anos, que se arriscam a reverenciar quem já fez história nesse universo. Que eles façam questão de se manter no mundo além da imaginação do rock em Santos.
POR DENTRO DA LOJA
Não se iluda pensando que dá
para fazer o diabo na hora de pagar.
Nada de parcelar ou passar no cartão.
A loja só aceita verdinhas.
Os preços variam bastante.
Nos CDs usados, são a partir de R$ 10,00.
Já nos vinis novos, na média,
o valor passa de R$ 100,00.
O público é basicamente masculino,
com idade entre 30 e 50 anos,
em sua maioria fãs de metal e classic rock.
A loja funciona de segunda a sexta,
das 14 às 20 horas.
Aos sábados,
das 12 horas até o último cliente.
Onde achar a Blaster:
Galeria Ipiranga
(Rua Fernão Dias, 4, loja 8,
no Gonzaga, em Santos)
Tel.: 3284-5615| Facebook
publicado em A TRIBUNA de Santos,
no dia 12 de Julho de 2015,
véspera do DIA MUNDIAL DO ROCK
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