Wednesday, January 16, 2019

BELLE AND SEBASTIAN - TODA POESIA (por Flávio Viegas Amoreira)


Qual gênero estilo tendência atmosfera!? Do rock que mais se aproxima da poesia livre que fazemos para encantar meiga e profundamente o mundo? Sem pestanejar ! Belle and Sebastian !  minha nossa trilha feita para acariciar esse planeta e seus seres com toda doce estranheza duma canção ou poema....Revendo o lindo filme ´´Hoje eu quero voltar sozinho´´ deparei com toda ternura rascante dessa peça ´´There´s Too Much Love´´  ilustrando os amores assim assim tão Belle and Sebastian de viver.....com a internet a poesia a literatura o rock ´indies´ se tornaram quase continente ser cotidianamente redescoberto por almas atentas ao encantamento:  fazemos aquilo que denomino ´arqueologia digital´ a fuçar melodias esquecidas do folk dos anos 70 que iriam germinar em garagens obscuras de Seattle, Dublin e na exótica Escócia passando pela efervescência de Berlin..... não seria também o ´indie´ do grupo um preâmbulo para o delicioso movimento ´hipster´: gosto que me enrosco da transcendência terna , da ambigüidade natural das letras e por que não mesmo nos trópicos das camisas de flanela empunhando fartas canecas de café num fim de tarde de outono dos pálidos rapazes .....Stuart Murdoch figuraça antes da musica fez o antológico percurso da poesia e leitura voraz da física quântica ao cristianismo primitivo:  diria até que fez do Belle um proto-estilo literário através das baladas que nos percorrem desde 1996 quando nos presenteou com a banda .  Não canso dizer que minha relação com o rock e arte em geral, especialmente poesia é antes de cerebral  um trato epidérmico com a sensibilidade:  quando debruço-me escrever essas linhas lanço me a uma viagem sensorial já que informação vocês podem achar nas Wikipédias da vida não? o lance é abrir gavetas e armários para destacar relevos da alma que a musica me mobiliza:  Belle & Sebastian assim representa toda estranheza solitária dos jovens poetas lembrando que o rock é estranho , essencialmente estranho no deslocamento de notas, percepções de melodias e zonas mais ou menos turbulentas do espírito.... ´´I want the world to stop´´ pode bem ser um manifesto dessa inadequação a um ambiente bruto ao qual não queremos nos adaptar:  poesia replicante nas perfomances melancólicas naquele modo meio desengonçado que é todo charme do ´´Belle and Sebastian´´.... e bota estranheza quando é Sarah Martin a cantar ´´The Power of Tree´´ :  o poder hibrido da trindade quando tudo é feito tridimensionalmente o que me faz lembrar meu romance ´´Edoardo , o Ele de Nós´´   inventando uma terceira entidade num caso amoroso de entrega mítica:  afinal todo Sherlock tem seu Watson bem como um beat carrega no bagageiro seu Dean Moriarty.....prefiro ouvir Belle no inverno ou na garoa paulistana,- intimista conforme acorde blasé cult da banda : casamento do intelecto e sensação de integração com um ego aconchegado....não largo de jeito nenhum CD de ´´Storytelling´´  ( Histórias Proibidas ) , que aliás ganhei do poeta Marcelo Ariel , com trilha sonora do Belle: fita dark de Todd Solondz que só permanece pelas faixas da banda escocesa: que soundtrack!  Vinte anos de estrada cafeinada e gim , o Belle & Sebastian  compõem um painel de sofistação rara:  cult nascido cult,-  banda altura de papo ‘a mesa em filme francês, sessão de terapia lacaniana ou bebericando depois de uma sessão da meia noite dum Tarkovski:    uma entidade , assim é o Belle.  Agora deixa-me ir contemplar o horizonte empunhando vinho seco ouvindo um hit particular: ´´The State I am in´´ porque melhor que isso talvez só Debussy com gelo.....


Poeta, contista e crítico literário,
Flávio Viegas Amoreira é das mais inventivas
vozes da Nova Literatura Brasileira
surgidas na virada do século: a ‘’Geração 00’’.
Utiliza forte experimentação formal
e inovação de conteúdos, alternando
gêneros diversos em sintaxe fragmentada.
Participante de movimentos culturais
e de fomento à leitura, é autor de livros como
Maralto (2002), A Biblioteca Submergida (2003),
Contogramas (2004) e Escorbuto, Cantos da Costa (2005).
Este é seu mais recente trabalho publicado:


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