Friday, January 25, 2019

TUBARÃO (um poema de Germano Quaresma)




TUBARÃO

Lá no fundo do mar, enquanto dorme a gente
Um triste penitente nada, olhos de vidro
Como eu, na madrugada, escrevo, renitente
Meu caro Tubarão, 'stamos mesmo fodidos.

Que sina o Criador nos deu, peixe doente,
Escrevo pra viver, coração comprimido
Escrevo enquanto nadas, seguimos em frente
Sou solidário à tua dor, monstro querido.

Tua sede por sangue, a minha por libido
Não nos deixam dormir, põem-nos em movimento
Levanto pra fumar um cigarro sentido

Enquanto segues cego pelo mar profundo.
Tens que nadar pra sempre, quieto, triste, lento -

Eu, se não escrever, também, meu peixe, afundo.


  1. Germano Quaresma, ou Manoel Herzog,
    nasceu em Santos, São Paulo, em 1964.
    Criado na cidade de Cubatão,
    trabalhou na indústria química
    e formou-se em Direito.
    Estreou na literatura em 1987
    com os poemas de Brincadeira Surrealista.
    É autor dos romances
    A Jaca do Cemitério É Mais Doce (2017),
    Dec(ad)ência (2016), O Evangelista (2015)
    Companhia Brasileira de Alquimia (2013),
    além dos livros de poemas
    6 Sonetos D’amor em Branco e Preto (2016)
    A Comédia de Alissia Bloom (2014).
    Este é seu mais recente trabalho publicado: 



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