Thursday, August 4, 2016

CAFÉ E BOM DIA #33 (por Carlos Eduardo Brizolinha)



Um dia que posso me sentir Indiana Jones ou Howard Carter. Queria muito algumas peças de teatro, entre as quais Nikolai Nikolaievich que apresenta um personagem na peça "O Que Recebe as Bofetadas" foi batizado como ELE. Pois Ele era um homem elegante que pede admissão num circo. O Dono do circo fica inconformado por Ele não ter experiência alguma, não leva a sério e entende que seja um gracejo. Ele porém insiste e diz poder ocupar o lugar de um dos palhaços. Ele ganha o apoio no pedido e é admitido. Como afirma que não sabe fazer nada, é admitido para levar bofetadas dos palhaços. A trama ganha corpo com outras situações. Faz muito tempo que não comprava textos de teatro e achar entre inúmeros títulos " O Castiçal " de Giordano Bruno, peça de 1586, quatro anos antes de ser queimado vivo. Nunca imaginei uma ironia sutil tão grande e um desprezo tão grande pela sociedade do seu tempo e foi vitimizado por ideias precisas de se horrorizar da luta desigual de néscios contra inteligentes. Dentro outras peças, me valeu anos de espera para ter " Henrique IV " de um dos meus autores mais querido, Pirandello. Essa peça foi encenada no Brasil por Sergio Cardoso, segundo minha querida Mãe, com uma performance de Sergio altamente respeitável, dando ao personagem todos os matizes do qual se reveste. Li um estudo de W. Starkle sobre o teatro de Pirandello e algumas peças, diz Starkle que nenhuma peça consubstancia o pensamento e atitude de cético como " Seis Personagens à Procura de um Autor". Sempre foi muito difícil encontrar textos de teatro em estantes de usados, creio que não consegui mais do que 40 títulos e consegui de uma só vez 92.


François Villon (Paris, 1431-1463) é o poeta francês mais importante da Baixa Idade Média, poeta que em seus escritos antecipou muito o que viria a surgir na poesia moderna. e se vincule, por conseguinte, à tradição realística do século XIII, de Colin Muset e Rutebeuf. E Villon tem uma biografia extremamente acidentada, na qual avultam crimes e prisões. Villon tem uma vida controversa, cheia de polêmicas, ele era um misto de poeta e criminoso, e embora haja pouca informação proveniente dos processos jurídicos que sofreu, tais acontecimentos se confundem facilmente com a sua persona de poeta, e muito pode ser inferido disto em seus versos. De nome François de Montcorbier ou des Loges, mais tarde adotou o Villon, de mestre Guillaume de Villon, cônego de Saint-Benôit-le-Bétourné e professor de direito canônico, que foi para ele mais que pai. Junta a poesia ao banditismo, que quero frisar neste texto que não tem nada de glamouroso ou romantizado, é apenas um fato biográfico, nada mais que isto. Esteve provavelmente em Bourg-la-Reine, Angers, Bourges, Blois, na corte de Charles d`Orléans, o príncipe-poeta, que compila diversos poemas seus, dentre eles a célebre “Dupla Balada”, e onde participa de um concurso de poesia e escreve a balada “Je meurs de soif auprès de la Fontaine”, segundo parece, sendo este mote fornecido pelo duque, ele próprio poeta de primeira linha. Talvez aprisionado em Orléans, foi-o com certeza em Meung-sur-Loire, por ordem do bispo Thibaut d`Aussigny, em 1461, passando o verão num calabouço, onde provavelmente compõe “O debate do coração e do corpo de Villon”. Nessa oportunidade, o bispo o teria degradado de sua condição de clérigo, por fim. Foi libertado quando Luís XI passou pelo lugar, indultando os presos. No ano seguinte volta a Paris e é encarcerado no Châtelet, sob acusação de roubo. Quando estava para ser libertado, voltou à baila o roubo do Colégio de Navarra; foi solto em novembro, sob a promessa de devolver 120 escudos ao mesmo Colégio, no prazo de três anos. Villon é de fato um poeta de biografia complicada, e não lhe dou a pecha de herói romântico, algo que a cepa de poetas malditos glorificará, creio muitíssimo equivocadamente, pois tal epíteto é uma das afetações da história da poesia. Louvo teu trabalho Gustavo Bastos, pois vinha encontrando muita dificuldade de ter as poesias de Villon que aprecio desde muito.



Álbuns eram coisa de gente grande, um LP era um objeto de culto, um altar, uma escolha muito adulta para nós, os jovens de então. Singles e EP preenchiam gloriosamente os nossos momentos pop. Depois dos anos da inocência e de todos os Verões do amor e dos amores, anos 70, chega a primeira de muitas maturidades musicais, aí sim, o álbum e os seus protagonistas atingem os nossos sonhos, lançam ideias, abrem a discussão e tomam conta dos nossos sentidos, a música popular revoluciona o mundo, a contracultura entra em cena. Quando era adolescente sonhei viajar no tempo. Primeiro destino, Londres, 1965, epicentro de uma Renascença Pop movida a canções do calibre de Satisfaction, Help, ou Like A Rolling Stone. Segundo, Califórnia, para curtir Califórnia Girls. Tive a oportunidade de formar uma discoteca com discografias completas de muitas bandas, lamentavelmente vendi, considerei novas tecnologias e confesso um arrependimento muito grande. Obviamente que tenho muito mais do que tinha antes em cd's, pendrives, hd externos, ocorre que bate a vontade de ouvir tal banda e fico louco procurando. Está no passado a facilidade de puxar um lp, namorar a capa, decorar a ordem das musicas como um ritual mágico. Tinha eu recortes de críticos dentro das capas, informações adicionais e hoje sei lá o destino deles, mas é um vazio que jamais será preenchido. Lendo o querido Chico Marques falando de Paul Simon e com a ilustração das capas que um dia estiveram em minhas mãos, não nego meu dissabor de morrer com essa saudade.

BOM DIA E CAFÉ NA XÍCARA PARA ABRIR A SEXTA.


Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada na Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
onde bebe vários cafés orgânicos por dia,
e da loja de equipamentos de áudio ORLANDO,
do amigo Orlando Valência.


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