Marcel Proust, o autor de “Em Busca do Tempo Perdido”, é universalmente conhecido. Mas sua faceta de duelista e poeta é menos conhecida. Em 1896, quando lançou seu primeiro livro, “Os Prazeres e os Dias” (Nova Fronteira, 260 páginas, tradução de Fernando Py), o crítico Jean Lorrain atacou, no “Le Journal”, com acidez: “Qualquer um, hoje, se considera escritor e vem incomodar a imprensa e a opinião púbica com sua pequena glória, a golpe de jantares, influências mundanas, pequenas intrigas de ventarolas. (...) Todos os esnobes querem ser autores. (...) ‘Os Prazeres e os Dias’, do sr. Marcel Proust: melancolias graves, frouxidões elegíacas, pequenos nadas de elegância e sutileza, ternuras vãs, flertes inanes em estilo precioso e pretensioso”. Possesso, Proust desafiou-o para um duelo. Lorrain aceitou e duelaram, em Paris, sob os olhares de uma plateia animada. Nenhum acertou os tiros e ficou por isto mesmo. Lorrain despontou para o anonimato — porque aquilo que apontava como “defeito” era “virtude” (como o estilo era praticamente desconhecido, soava estranho) — e Proust refinou a qualidade de sua literatura, que já aparecia em relances no livro criticado, e nos legou uma bíblia da sociedade francesa de seu tempo, “Em Busca do Tempo Perdido”. Uma poesia do cirurgião da alma humana
Desde o tempo de Catarina de Médici, a Galeria de Apolo era decorada com os retratos dos reis da França. Maria de Médici, mulher de Henrique IV, encomendou a Rubens uma série de quadros, entre os quais a obra-prima Desembarque da Rainha. Os vinte e sete quadros dessa série estão expostos na Grande Galeria do Louvre. O Cardeal de Richelieu doou em 1636, a Luís XIII, entre outras obras, A Virgem, de Leonardo, e Os Peregrinos de Emaús, de Paolo Veronese. Entre 1660 e 1671, o rei Luís XIV adquiriu, do banqueiro Everhard Jabach, uma coleção que incluía todas as obras de Tiziano, que estão no museu, além de uma das mais importantes obras de Caravaggio, A Morte da Virgem. Em 1649, o colecionador Louis La Caze, ao morrer, deixou sua extraordinária coleção para o Louvre, que incluía a Cigana, de Frans Hals, e o célebre Betsabé no Banho (ou O Banho de Betsabé), de Rembrandt. O enriquecimento mais espetacular das coleções reais, porém, foi, sem dúvida, conseguido por Luís XIV, pois sob o seu reinado foram adquiridas cerca de 1.500 pinturas, com predominância dos mestres da época, entre eles Nicolas Poussin, Claude Gellée (ou Claude Lorrain) e Charles Le Brun. O Rei Sol recebeu de presente, da República de Veneza, a Refeição em Casa de Simão, de Veronese, e o Príncipe Pamphilj ofereceu a Deusa da Boa Ventura, de Caravaggio. O rei já possuía, em 1681, quatorze obras de Van Dick. A compra de vinte quadros do Príncipe de Carignan, em 1742, permitiu a entrada de obras importantes, como A Virgem com Cordeiro, de Rafael, o Anjo Gabriel Abandonando Tobias, de Rembrandt, e a Virgem da Almofada Verde, de Andrea Solari. Quando o museu foi inaugurado em 10 de agosto de 1793, pôde oferecer um panorama quase completo da pintura italiana, flamenga e holandesa dos séculos XVI e XVII. Além das coleções reais, houve um incrível acúmulo de obras apanhadas na Itália e em Flandres, e o acervo continuaria a aumentar no período do Primeiro Império. Além dos espólios de guerra, o acervo cresceu como consequência da Revolução. Nessa época, o confisco dos bens da Igreja levou ao Museu Central, transformado em Museu Napoleão, obras excepcionais, como A Virgem do Chanceler Rollin, de Van Eyck, e em 1802 o museu adquiriu a série única de Francesco Lazzaro Guardi, A equestre Pestre Senef. Precioso trabalho de Jeannine Baticle que me foi indicado após assistir " Francofonia " do diretor Aleksandr Sokurov um documentário fantástico que nos faz refletir com o tema "arte e poder".
Dando sequência ao ótimo e ilustrativo artigo de Jeannine Baticle contando a história do Museu do Louvre sigo caminho do ponto que parei. O Congresso de Viena tendo imposto a restituição da maioria das obras tomadas pelo Diretório e por Napoleão (cerca de cinco mil peças), o museu conseguiu conservar centenas de quadros, dentre eles As Bodas de Canaã, de Veronese, São Francisco, de Giotto di Bondone, a Virgem com Anjos, de Cenni di Petro Cimabue, a Coroação da Virgem, de Fra Angelico, e a Virgem da Vitória, de Andrea Mantegna, entre outros. Em 1863, com a aquisição da Coleção Campana -- um total de 643 telas italianas dos séculos XIV e XV -- veio a Anunciação, de Leonardo da Vinci. As compras continuaram e, em 1870, foi adquirida a tela Rendeira, o primeiro Johannes Vermeer do Louvre, e Boi no Açougue, de Rembrandt. Foi nesse ano, na III República, que o museu passou a ser Museu Nacional e as obras tornaram-se propriedade do Estado. Posteriormente, em 1897, foi criada a Sociedade dos Amigos do Louvre, a quem o museu deve uma série de impressionantes doações. Os Mendigos, o único quadro de Pieter Brueghel (o Velho) existente no museu, foi doado por Paul Martz. A doação de Carlos de Beistegui, em 1942, levou ao museu uma das maiores telas de Goya, o Retrato da Marquesa de Solana. O Barão de Rothschild, por sua vez, doou o Retrato de Lady Alston, do pintor inglês Thomas Gainsborough. Os numerosos quadros franceses do século XVII procedem, na sua maioria, das igrejas e conventos de Paris. O Louvre deve muito também a Mazzarino, e depois a Jean-Baptiste Colbert, a formação do acervo de pintura francesa. O primeiro tinha adquirido grande quantidade de telas de Nicolas Poussin, a maior parte (32 quadros) adquirida de início por Luís XIV. O rei encomendou ao pintor Hyacinthe Rigaud o magnífico Retrato de Luís XIV, pintado em 1701. A pintura francesa se enriqueceu com as telas de Ferdinand Victor Eugène Delacroix, dentre elas a famosa A Liberdade Guiando o Povo, adquirida diretamente do pintor em 1831. As aquisições continuaram regularmente até 1915 e, mais recentemente, o museu recebeu a preciosa pintura A Virgem da Cartuxa, de Jean de Beaumetz.
Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as coleções do Museu do Louvre foram evacuadas, com exceção das peças mais pesadas, que permaneceram protegidas por sacos de areia. Esse acervo foi inicialmente depositado no Castelo de Chambord (Real Château de Chambord), no Vallée de la Loire, e a seguir foi dispersado em vários locais, permanecendo constantemente em mudança, por medidas de segurança. Mesmo esvaziado, o museu reabriu ao público em 1940 com uma coleção de cópias em gesso de estátuas célebres.A reorganização das coleções do museu na década de 1980 dividiu o conjunto de pinturas, e as peças produzidas após 1848 foram transferidas para o Musée d'Orsay. O restante permanece exposto na Ala Richelieu, no Cour Carré e na Ala Denon. É inegável o prazer que tenho com textos históricos e esse de Jeannine Baticle e Kean Chatelain é sintético e ilustrativo.
BONJOUR E CAFÉ
Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada na Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
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