Thursday, August 25, 2016

CAFÉ E BOM DIA #36 (por Carlos Eduardo Brizolinha)



Paul Verlaine (1844-1896) estreou com sete poemas no primeiro número do Parnasse Contemporain (1866), coleção que inaugurou o parnasianimo. No mesmo ano publicou seu primeiro livro, Poèmes saturniens, em que, apesar da acentuada influência de Baudelaire, a começar pelo título do livro, já se pressentiam alguns traços que, posteriormente desenvolvidos, iriam contribuir para a definição do simbolismo. Pois é na direção do simbolismo que se vai produzir a melhor poesia de Verlaine, como a de Fêtes galantes (1869), Romances sans paroles (1874), Sagesse (1881) e Jadis et Naguère (1884). A década 1870-80 foi de grande importância para a definição de sua poesia. Ao lado da crescente ascendência de Baudelaire, considerado mestre pela nova geração, houve o aparecimento de Rimbaud. Ainda que a glória de Rimbaud só apareça a partir de 1855, é inegável que ele teve decisiva influência na poesia de Verlaine. Foi durante o ano de prisão em Bruxelas que Verlaine conseguiu imprimir novos rumos espirituais e estéticos à sua produção poética, procurando uma linguagem que não ficou apenas na poesia, chegando também a manifestar-se criticamente em metalinguagem, como no poema Art poétique, escrito em 1874 e só publicado dez anos depois em Jadis et Naguère, título aliás bastante sugestivo para a nova dimensão estética que seu livro iria auxiliar a construir. Parece que a gênese da Art poètique foi, além da reviravolta espiritual de Verlaine, o artigo que Brémont escreveu sobre o Romances sans paroles, editado quando o poeta cumpria a sua pena em Bruxelas. O referido artigo, severo mas atencioso, intitulava-se C’est encore la musique (É ainda sobre música), frase que teria motivado o verso inicial do poema de Verlaine (“De la musique avant toute chose”), o qual se repete, ligeiramente modificado, no início da penúltima estrofe (“De la musique encore et toutjours!”). Na verdade, a Art poétique, antes da edição em livro foi publicada pela primeira vez em novembro de 1882, no Paris-moderne. Recebeu dura crítica de Charles Morice, o que valeu a resposta de Verlaine que se defendia da acusação de hermetismo e de menosprezo à rima, numa polêmica que serviu para tornar conhecido o nome do poeta, cujas Fêtes galantes haviam passado despercebidas do público, entusiasmado na época com o sucesso de um livro de François Coppée. Logo depois o poeta passa a colaborar na revista onde havia saído a crítica (La nouvelle rive gauche), tornando-se amigo de Morice e, em agradecimento talvez pela agitação agora em torno do seu nome, dedica-lhe a Art poétique ao publicá-la em livro dois anos depois. Na opinião de Verlaine, num artigo de 1890, a sua Art poétique deveria ser vista apenas como uma canção . Não se sabe se o poeta estava sendo irônico, tal como o nosso Carlos Drummond de Andrade quando disse que o seu poema No meio do caminho era apenas uma repetição de vocábulos. Sabe-se que dentro do espírito da época, a palavra canção possuía sua conotação musical inteiramente de acordo com as tendências expressionistas que se queriam implantar. Daí porque o seu poema foi o ponto de partida da funda aventura simbolista. Superando os padrões parnasianos e desenvolvendo o legado inventivo de Rimbaud, seu texto passou imediatamente a ser estudado e assimilado por jovens poetas, repartidos nessa altura entre Verlaine e Mallarmé, mas todos dentro do pessimismo decadentista que já começava a se definir na direção do simbolismo.



JK HUYSMANS tive o prazer de conhecer nas mão de Flávio Amoreira, de ser presenteado por Maísa Reis e de discutir horas a fio com Ila Barja e tantas outras horas com Pajé e Salomão Rabinovich. Às Avessas foi um dos grandes livros que li ano passado. Francês e fruto de uma família de pintores, além de romancista, Joris-Karl Huysmans também foi crítico de arte. Sobre as escolhas dos artistas que figuram em seus textos, afirma que optou por aqueles que estavam à margem, não reconhecidos pelas instituições legitimadoras da época. Nas páginas do livro As avessas, artistas como Moreau, Luyken, Bresdin e Redon. Este último deve boa parte de seu reconhecimento posterior às menções de Às avessas. Além disso, encontramos textos de crítica de arte, de autoria de Huysmans, sobre os mesmos autores. O texto Pesadelo, que aborda obras de Odilon Redon. A discussão sobre o seu papel como escritor, e não pintor, como foram seus descendentes, é vasta. São diversas, também, as afirmações sobre Huysmans fomentar o embate hierárquico entre literatura e pintura. Huysmans declara a literatura como superior e lembra que, em suas obras e em seus textos críticos, os artistas estão frequentemente associados a escritores. Independente de uma superioridade literária ou não, Huysmans não considera as duas artes, literatura e pintura, como distintas, afirmando que transposições de uma arte para a outra são possíveis. Isto remete à teoria das Correspondências Baudelairianas, e, ainda, ao postulado de Baudelaire sobre a melhor crítica de arte ser aquela realizada através da arte. Segundo suas afirmações, um soneto poderia ser uma crítica de arte mais eficaz do que um texto destinado apenas à finalidade crítica, por exemplo. O romance Às avessas, de J. –K. Huysmans, publicado em 1884, pode ser considerado como uma obra que engloba todas as principais características da estética fin de siècle decadentista. Me faz lembrar a letra da canção Sinal Fechado, de Paulinho da Viola, mas ativa sabores que jamais poderão ser esquecidos.



Na sexta passada, foi entregue ao querido Manuel Marcelino uma carta que leva o registro do resultado da biografia de Camões, precioso livro. Tivemos todo seu encantamento. O livro está classificado junto a duas outra preciosidades. Uma das quais sintetizo; Em junho de 1930, Fernando Pessoa é consultado por um jovem literato, com 23 anos incompletos, sobre um livro que este produzira. A carta do amigo foi respondida com amabilidade, em lições de mestre, com observações claras sobre o que ele interpretava como sensibilidade artística e sua aplicação na obra de arte. Dá conselhos, critica o que ainda crê imaturo e indica caminhos para o amadurecimento. O nome do amigo: Adolfo Rocha, que, mais tarde, adotaria o pseudônimo de Miguel Torga e se tornaria também um dos grandes mestres da literatura portuguesa. Transcrevo parte da carta de FP a Adolfo Rocha, o cerne de seu aconselhamento. Em substância, e expondo discursivamente, o ponto de vista que lhe expus é o seguinte: 1) Toda a arte se baseia na sensibilidade, e essencialmente na sensibilidade; 2) A sensibilidade é pessoal e intransmissível; 3) Para se transmitir a outrem o que sentimos, e é isso que na arte buscamos fazer, temos que decompor a sensação, rejeitando nela o que é puramente pessoal, aproveitando nela o que, sem deixar de ser individual, é todavia susceptível de generalidade, portanto, compreensível, não direi já pela inteligência, mas ao menos pela sensibilidade dos outros. 4) Este trabalho intelectual tem dois tempos: a) a intelectualização direta e instintiva da sensibilidade, pela qual ela se converte em transmissível (é isto que vulgarmente se chama “inspiração”, quer dizer, o encontrar por instinto as frases e os ritmos que reduzam a sensação à frase intelectual (prim. versão: tirem da sensação o que não pode ser sensível aos outros e ao mesmo tempo, para compensar, reforçam o que lhes pode ser sensível); b) a reflexão crítica sobre essa intelectualização, que sujeita o produto artístico elaborado pela “inspiração” a um processo inteiramente objetivo – construção, ou ordem lógica, ou simplesmente conceito de escola ou corrente. 5) Não há arte intelectual, a não ser, é claro, a arte de raciocinar. Simplesmente, do trabalho de intelectualização, em cuja operação consiste a obra de arte como coisa, não só pensada, mas feita, resultam dois tipos de artista: a) o inspirado ou espontâneo, em quem o reflexo crítico é fraco ou nulo, o que não quer dizer nada quanto ao valor da obra; b) o reflexivo e crítico, que elabora, por necessidade orgânica, o já elaborado.Dir-lhe-ei, e estou certo que concordará comigo, que nada há mais raro neste mundo que um artista espontâneo – isto é, um homem que intelectualiza a sua sensibilidade só o bastante para ela ser aceitável pela sensibilidade alheia; que não critica o que faz, que não submete o que faz a um conceito exterior de escola ou de moda, ou de “maneira”, não de ser, mas de “dever ser”.

BOM DIA PARA TODOS E CAFÉ BEM FORTE


Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada na Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
onde bebe vários cafés orgânicos por dia,
e da loja de equipamentos de áudio ORLANDO,
do amigo Orlando Valência.


2 comments:

  1. ♡♡♡♡♡♡♡♡♡-all only for you,special men!;-):-)

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  2. Я знаю, мы увидимся

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