Aristóteles disse certa vez que escolher entre suas habilidades aquelas necessárias à sua época é o caráter da vocação. Creio no contrário, e às vezes uma época desperdiça seus melhores espécimes em prol de um declarado programa de castração. Julien Sorel (herói de “O vermelho e o negro”, de Stendhal) é o símbolo do grande homem desperdiçado graças ao caráter mofino de sua época. Todo o romance conta a saga desse desperdício, e a mestria de Stendhal está em justamente fazer a própria época soar anacrônica em relação ao herói. A história se desenvolve inicialmente em uma pequena cidade do interior em que Julien Sorel, filho de carpinteiro, é “um rapaz pobre, e que só é ambicioso porque a delicadeza de seu coração cria a necessidade de alguns dos prazeres fornecidos pelo dinheiro. “O jovem camponês nada via entre si e as mais heroicas ações senão a falta de oportunidade”. As camadas do solo que Julien pisava estavam num processo de ajustamento, de movimento constante, gerando um sensação de insegurança e medo permanente. Crenças democráticas radicais coexistindo com o pensamento liberal, nostalgia pelo Ancien Régime. A ideia permanente era de dualidade, transição. Tal situação interfere nas relações entre os indivíduos, modificando-as: 'as pessoas só podem conviver harmoniosamente como sociedade quando suas necessidades e s socialmente formadas, na condição de indivíduos, conseguem chegar a um alto nível de realização; e o alto nível de realização individual só pode ser atingido quando a estrutura social formada e mantida pelas ações dos próprios indivíduos é construída de maneira a não levar constantemente as tensões destrutivas aos grupos e aos indivíduos'. Assim sendo, o romance clássico stendhaliano resiste no tempo e no espaço, nos cristalizando, através de Julien, afetos estranhos, em extremo, à nossa leitura, muito embora saibamos que somos seres humanos feitos para ter sentimentos, amar, odiar e desejar.
Faz 20 anos que o amigo Thomé me incentivou ler Styron. Recusei a ideia. Rimos muito de como Styron foi dispensado da McGraw Hill, mas Thomé não me dobrou. Anos depois assisti o filme, considerei muito bom. William Clark Styron Jr. que nasceu em 11 de junho de 1925 em Virgínia, EUA. Ensaísta, editor e romancista dos mais expressivos da geração pós II Guerra Mundial, considerado como o sucessor de William Faulkner. Ficou conhecido, desde cedo, como a voz do Sul, através de dois livros fundamentais: As confissões de Nat Turner (1967), que lhe valeu o Prêmio Pulitzer, e A escolha de Sofia (1979), que foi levado às telas com Meryl Streep e Kevin Kline. Um filme, sobre a história de uma sobrevivente polaca do Holocausto, obrigada por um oficial de um campo de concentração a escolher qual dos dois filhos deveria viver. Eu não o teria feito daquela maneira, mas é um ótimo filme. Eu teria dado uma visão diferente, enfatizando mais a relação ente Sofia e Natham, o caráter destrutivo desta relação. Mas o produtor adquiriu os direitos para fazer o filme daquela maneira e fez um bom trabalho. O filme foi meu grande estimulo. Peguei o livro da minha mãe que não é fã do autor e acha balela essa de ser um novo Faulkner Escreveu, também, um relato corajoso sobre a depressão, que ele mesmo padecia: Perto das trevas (Rocco, 2000). Nada chegará perto da depressão de Wiston Churchill batizada "Black Dog". O livro ampliou seu público com um contingente razoável de pessoas ávidas em conhecer uma doença tão desconhecida. Além de escrever, atuou como editor trabalhando na MacGraw-Hill e ajudou a fundar a famosa revista The Paris Review. Foi um autor que transferiu as obsessões com a raça, classe social e culpa pessoal para narrativas atormentadas como Lie Down in Darkness (1951); A longa marcha ( 1952); Set this house on fire (1960). Seu último livro foi autobiográfico: Uma manhã em Tidewater (Rocco, 1993). Faleceu em 1º de novembro de 2006.
Três romenos escolheram Paris como lar: Mircea Eliade, lonesco e E. M. Cioran. Este último nasceu em Rosinari, na Transilvânía, em 1911. Dois de seus livros estão traduzidos em português: Breviário da Decomposição e Exercícios de Admiração. As críticas feitas por Cioran ao positivismo e ao cientificismo têm como finalidade diagnosticar a queda do homem no horror do existir. Uma queda que a filosofia tradicional procura esconder ao construir um universo inverossímil e, por intermédio desse universo, tenta falar em nome de todos os homens, esquecendo-se de considerar que cada homem é único, capaz de discorrer apenas sobre si próprio. Impossível se faz, portanto, prosseguir nesta pretensa fala em nome de uma coletividade. O pensamento de Cioran estrutura-se nessa tese e é marcado por um ceticismo crítico, predominantemente sombrio. Nos textos de Cioran, o passado é percebido como um estágio falso e obscuro, e o futuro não irá além de uma mera ilusão. Esta posição é defendida com firmeza tal que transforma o filósofo em um renegado da humanidade. O que não importa, já que os céticos são assim classificados.
Ao atacar o homem em suas fragilidades, Cioran evidencia ser ele o único animal capaz de transformar o paraíso em um inferno, malgrado suas fraquezas ou até mesmo por causa delas, construindo destarte o reino da negatividade. Importante perceber, no entanto, que essa negatividade não se configura como um espaço circunscrito, tão pernicioso quanto a prisão da positividade. O raciocínio em Cioran é desenvolvido a partir de situações limites. Na sua composição, são elementos básicos a negatividade, a morte, Deus, a demência e a loucura. Ingredientes que ao se combinarem formam um universo governado pela injustiça e impostura. Não sem propósito. Abrir o dia com Godoy na porta, soprar Cioran, tomar café e ir para a luta. BOM DIA
Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada na Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
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