por Chico Marques
Estou feliz.
Chegou ontem pelo Correio minha edição da Library Of America com a coleção completa dos escritos de Philip Roth em 9 volumes.
Pretendo em breve começar a reler todos os romances que li -- às vezes em traduções, outras no original em inglês -- ao longo desses últimos 35 anos, sempre com imenso prazer. Dessa vez não num paperback qualquer, mas numa edição capa dura que, se não é exatamente luxuosa, chega bem perto.
Sou admirador incondicional de Philip Roth. Vibro com tudo o que ele escreveu. Não conheço nenhum outro romancista que me desperte esse tipo de sensação. É um estilista denso e admirável.
Para mim, Roth é o melhor romancista americano, judeu ou não, surgido no Século XX.
Ouso dizer que ele é melhor que Dostoievski e Tolstoy juntos.
(tem gente que vai querer me apedrejar por isso, mas tudo bem, eu aguento o tranco)
Roth é uma figuraça.
Quando afirmou à revista francesa Les Inrockuptibles que abandonaria a literatura em novembro de 2012, com a frase "a verdade é que cansei", poucos acreditaram.
Quando afirmou à revista francesa Les Inrockuptibles que abandonaria a literatura em novembro de 2012, com a frase "a verdade é que cansei", poucos acreditaram.
Afinal, como alguém como ele, que se dedicou de forma tão tenaz à sua literatura por tantos anos, poderia estar falando sério?
Pois ele estava.
Ano passado, numa entrevista à BBC, Roth não só reafirmou sua aposentadoria literária como garantiu diante das câmeras que "esta foi minha última aparição na televisão, absolutamente minha última aparição pública, em qualquer forma e em qualquer lugar".
Essa última frase de Roth veio em tom de piada, já que ele estava parafraseando uma citação do boxeador norte-americano Joe Louis, que disse, ao se aposentar: "fiz o melhor com aquilo que tinha".
Só que, apesar da piada, a afirmação era verdadeira.
Philip Roth fez o que a imensa maioria dos escritores não consegue fazer: saiu de sua obra para cair na vida.
Quem mantém contato com ele, afirma que jamais pareceu tão relaxado e contente.
O caso é que escritores raramente se aposentam por conta de um mix de vaidade e necessidades financeiras. Com isso, eles acabam permanecendo em cena por muito mais tempo do que deveriam.
Convenhamos: vidas literárias muitas vezes acabam mal, com problemas de saúde, rejeição e abandono.
Daí, não deixa de ser notável a maneira como esse último ato de Roth confere um papel central a ele mesmo.
Convenhamos: vidas literárias muitas vezes acabam mal, com problemas de saúde, rejeição e abandono.
Daí, não deixa de ser notável a maneira como esse último ato de Roth confere um papel central a ele mesmo.
Em sua longa e espetacular carreira literária, Philip Roth, 82 anos, dedicou-se a se reinventar de incontáveis maneiras, todas provocantes.
Morou em várias cidades, casou-se com várias mulheres, viveu seu tempo mais que a imensa maioria dos escritores judeus americanos, constantemente obsecados com o passado.
E continua a provocar ao declarar a seus leitores e admiradores: "Parti para a grande tarefa do fazer nada. Desejem-me sorte".
CANTO DE PÁGINA deseja sorte, vida longa e uma feliz aposentadoria a Philip Roth.
Chico Marques devora livros
desde que se conhece por gente.
Estudou Literatura Inglesa
na Universidade de Brasília
e leu com muito prazer
uma quantidade considerável
de volumes da espetacular
Biblioteca da UnB.
Vive em Santos SP, onde,
entre outros afazeres,
edita a revista cultural
LEVA UM CASAQUINHO
Para conhecer o catálogo completo
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