Pepetela, antes de se tornar escritor, foi um dos militantes combatentes do MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola e é nessa experiência que se inspirou para escrever seu romance “Mayombe”. O nome vem de uma floresta na Província de Cabinda, que tem de um lado a República do Congo e, do outro, separando-a das demais províncias angolanas, essa extensão de mata. Foi uma região estratégica de luta pela característica da floresta que servia para ocultação da guerrilha, além da proximidade com o Congo. O MPLA foi fundado na década de 1950 e se somou a outros agrupamentos de guerrilha que, com apoio de Cuba e da União Soviética, se organizaram para lutar contra o colonialismo português que explorava os recursos de Angola escravizando sua população. No livro, os portugueses são registrados como exploradores da madeira da floresta, retirada a baixo custo e com o pagamento de salários miseráveis. Era contra eles que a guerrilha lutava, até conseguir a libertação em 1975, quando Agostinho Neto assumiu o poder. Pepetela, formado em sociologia em Argel durante um período de exílio após participar da guerrilha, com a vitória do movimento ocupou cargos de governante, foi professor e como escritor ganhou o Prêmio Camões de 1997, em reconhecimento ao conjunto de sua obra, fortemente marcada na história da luta pela libertação de Angola. Atualmente ele está morando em Santos por um tempo para escrever novo livro e em setembro participará da Tarrafa Literária, evento que terá sua oitava edição com escritores do México, Portugal e Holanda, além de muitos brasileiros. Seu romance Mayombe, mais que focar esse período de luta contra o colonialismo, esmiúça a forma de vida e de pensamento dos guerrilheiros através de oposições que sugerem que a guerra envolve a todos até mesmo em suas relações, numa somatória de conflitos motivados pela necessidade de mudança. Assim, podemos notar a diferença de estudos entre o Comissário da guerrilha e sua noiva, Ondina, mais estudada que ele, a diferença entre um homem e uma mulher, a diferença entre o homem que vai à guerra e um trabalhador explorado pelas empresas coloniais e as mulheres que cuidam dos filhos e ficam em casa ou, como Ondina, que são professoras e libertárias a ponto de colocar os homens em crise pela forma como se relacionam na sociedade e com as mulheres. Os veteranos de trinta e poucos anos do exército de libertação se contrapõem aos jovens de 17 a 20 que estão entrando na guerrilha, assim como é marcante a diferença rude entre os homens das diversas tribos representadas em cada militante do exército que age como se fosse ele mesmo e cada um a tribo toda no embate com os companheiros de outras etnias. Nesse meio, um branco ou um mestiço é hostilizado por sua associação simplória com o branco português contra o qual se luta, tal qual uma mulher libertária como Ondina. As diferenças são também ideológicas entre os marxistas e os não convencidos disso, são econômicas entre os trabalhadores e os pequeno-burgueses militantes do exército e há também a moral dura, cruel e idealista dos militantes marxistas contra os soldados que cometem erros, como um deles que rouba uma nota de dinheiro de pequeno valor, suficiente para que defendam seu fuzilamento. Pepetela vai costurando seu romance com esses embates, com diálogos que vão expondo a nu os personagens e registrando para o leitor a complexidade existente para transformar o país. Mayombe, a floresta que sugere intransponibilidade e na qual chove intensamente é o símbolo da travessia para a transformação, por isso é ali que os guerrilheiros lutam contra os soldados colonialistas e é ali que pensam a si próprios, entregues numa espécie de solidão da qual nem suas armas russas os protegem.
Ademir Demarchi é santista de Maringá, no Paraná,
onde nasceu em 7 de Abril de 1960.
Além de poeta, cronista e tradutor,
é editor da prestigiada revista BABEL.
Possui diversos livros publicados.
Seus poemas estão reunidos em "Pirão de Sereia"
e suas crônicas em "Siri Na Lata",
ambos publicados pela Realejo Edições.
Suas crônicas, que saem semanalmente
no Diário do Norte do Paraná, de Maringá,
passam a ser publicadas todas as quintas
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