Se tem alguém que já fez de tudo na vida, esse alguém é Jules Feiffer.
Aos 86 anos de idade, Jules publicou 35 livros, entre romances e coletâneas de quadrinhos, escreveu peças para teatro, roteiros para cinema, e cinco anos atrás publicou suas memórias com o título genial "Backing Into Forward" pela Editora Alfred A Knopf.
Ganhou todos os prêmios que se possa imaginar nas categorias Comics, além de dois Pullitzers e um Oscar por sua magnífica animação adulta "Munro", de 1961 (veja abaixo na íntegra).
Começou nos quadrinhos aos 16 anos, como assistente de seu herói Will Eisner, que logo percebeu seu talento e começou a abrir espaço maior para ele em suas tiras com o Spirit e outros personagens.
Mas foi a partir dos Anos 50 que Jules entrou no mapa dos quadrinhos para valer, com uma tira no semanário The Village Voice chamada "Sick Sick Sick" -- que depois virou simplesmente "Feiffer" --, onde em que reinventou o conceito dos quadrinhos de jornais, inserindo comentários sociais e comportamentais ferinos que marcaram época, e que permaneceu ativa por nada menos que 40 anos.
Paralelo a isso, Jules Feiffer tem trabalhado como professor residente em cursos de Humor Gráfico em várias Universidades de prestígio, como Columbia e Yale. e hoje leciona na Stony Brook Southampton, a poucos quarteirões de sua casa de praia.
E mesmo com um pedigrée riquíssimo como este, ele Feiffer não cansa de se reinventar:
Estreou ano passado como autor e desenhista de graphic novels, uma adulta e outra juvenil.
A adulta é "Kill My Mother", que acaba de ser traduzida e editada aqui pela Cia das Letras.
É uma aventura noir sensacional, que conta a história de cinco mulheres formidáveis ligadas fatalmente por um detetive decadente e beberrão. Tudo começa com a relação turbulenta entre a adolescente Annie Hannigan e sua mãe Elsie. em plena Recessão da década de 1930. Filha de um policial que foi baleado e morto, Annie sente-se negligenciada por sua mãe, Elsie, que teve que sair para trabalhar, para poder sustentá-la. Annie não se conforma dela ter ido trabalhar justamente com o melhor amigo de seu pai, um ex-policial que se deu bem como detetive particular. Então, Elsie se envolve com um cliente misterioso e embarca numa aventura rocambolesca repleta de mistérios que vai passear pelo mundo, contracenar com os personagens mais improváveis, e só encontrar um paradeiro final depois da Segunda Guerra Mundial.
Por mais tentador que seja, não faz sentido contar aqui mais detalhes da trama de "Mate Minha Mãe". Ela é de um primor noir digno dos grandes filmes do gênero. De certa forma, é um retorno de Jules Feiffer a suas origens ao lado de Will Eisner nas tiras e revistas do Spirit.
Mas "Mate Minha Mãe" vai muito além do "retorno às origens", pois só um autor extremamente maduro ecom grande experiência em "storytelling" como Feiffer seria capaz de desenvolver uma graphic novel rejeitando a maioria dos cacoetes inerentes ao gênero, e, ao mesmo tempo, otimizando todas as características principais desse gênero literário híbrido.
Trocado em miúdos: misture Will Eisner com Dashiel Hammett (que também escrevia para quadrinhos), acrescente umas pitadas do desencanto de Raymond Chandler e do fatalismo de James C Cain, e pronto: chagamos a "Mate Minha Mãe".
E se por um acaso você, leitor de CANTO DE PÁGINA, achar minha opinião entusiasmada demais e empírica de menos, recomendo as palavras deste insuspeito amigo e companheiro de geração de Jules Feiffer, do alto de seus 93 anos de idade:
“O multitalentoso Jules Feiffer agora usa seu talento extraordinário em uma graphic novel. Ninguém escreve como Jules! Ninguém desenha como Jules! Ninguém em sã consciência deve perder este marco monumental desta carreira incrível.” - Stan Lee
CREPÚSCULO DOS DEUSES/SUNSET BOULEVARD é um dos filmes mais cruelmente amargos que já foram feitos sobre a indústria cinematográfica. Tive essa certeza já bem no início do filme, ao revê-lo agora, muitos, muitos anos após a última vez. É amargo, triste, desolador, desesperançado, desesperador, trágico demais. Então, por que ver e rever este filme? Simples. Porque é uma obra-prima. É arte maior, arte em estado puro. Filho da mãe esse Billy Wilder.
CREPÚSCULO DOS DEUSES/SUNSET BOULEVARD não se baseia em um livro ou uma peça de teatro. É uma história original, criada diretamente para o cinema, por Wilder, mais seu co-roteirista de diversos filmes Charles Brackett e mais D.M. Marshman Jr. Fala da ambição de jovens por fazer sucesso, e da tragédia imensa que é a decadência de quem já teve sucesso e não tem mais. É a história do encontro entre um jovem aspirante a roteirista e uma mulher idosa que já foi uma das maiores atrizes de Hollywood, décadas antes, e de quem agora as audiências já não se lembram mais.
Em CREPÚSCULO DOS DEUSES/SUNSET BOULEVARD ninguém está crescendo, estourando, virando grande. Aqui, estão indo ladeira abaixo o jovem aspirante a grande roteirista e a atriz que já foi imensa.
Billy Wilder tem uma tendência para a amargura tão gigantesca quanto seu talento para escrever belos textos e criar belos filmes. Irônico, cruel, amargo, Wilder era um "fraseur", um fazedor de frases, boutades, maldades, chistes, gracejos. Talvez até estivesse falando sério, quando fez essas frases sobre Chaplin e os diálogos. Mas é extremamente fascinante que Wilder diga isso, já que ele é autor de alguns dos melhores diálogos da história do cinema.
CREPÚSCULO DOS DEUSES/SUNSET BOULEVARD começa com um texto absolutamente brilhante. Vemos o nome da avenida de Los Angeles, na região de Hollywood, escrito no trecho vertical do passeio, entre o passeio e o asfalto – e aí então a câmara começa a andar, presa a um carro. Vamos vendo o asfalto rolando, enquanto vão rolando os créditos iniciais. Os créditos terminam, e a câmara que estava voltada para o chão se movimenta um pouco para cima, e vemos o Sunset Boulevard enquanto ouvimos a voz em off do narrador:
– “Sim, isto é o Sunset Boulevard, Los Angeles, Califórnia. São cerca de 5 horas da manhã. Isso aí é o esquadrão de homicídios, completo, com detetives e gente da imprensa.”
Várias viaturas de polícia e de jornais vão a alta velocidade pela Avenida Paulista de Hollywood, se é que a comparação pode fazer algum sentido para quem não conhece São Paulo. OK, pela Quinta Avenida, pela Champs Elysées de Hollywood. Entram numa propriedade gigantesca, no meio da qual há uma imensa mansão, quase um castelo daqueles do campo inglês.
O narrador – a voz é a de William Holden – prossegue:
– “Houve uma informação sobre um assassinato em uma das mansões na quadra do número 10.000. Com certeza vocês lerão sobre isso nos jornais, ouvirão falar no rádio e na televisão, porque uma estrela dos velhos tempos está envolvida – uma das maiores. Mas antes que vocês ouçam o relato distorcido e exagerado, antes que os colunistas de Hollywood botem sua mão na história, talvez vocês queiram ouvir os fatos, toda a verdade dos fatos. Se for assim, chegaram à pessoa certa.”
Os policiais chegam à área da piscina da propriedade.
– “Vejam, o corpo de um jovem foi encontrado na piscina da mansão dela, com dois tiros nas costas e um no estômago. Ninguém importante. Só um roteirista com dois filmes B no seu currículo.”
E aí temos uma tomada em contreplongée, com a câmara embaixo d’água, mostrando o corpo de William Holden flutuando na piscina, emborcado, o rosto para baixo, as costas para para cima, para o ar.
– “O pobre sujeito”, prossegue o narrador. “Sempre quis uma piscina. No final, acabou conseguindo uma – só que o preço se revelou um tanto alto. Vamos voltar atrás uns seis meses, até encontrar o dia em que tudo começou.”
Billy Wilder inicia seu filme cometendo dois pecados mortais contra a lógica. Ele bota a câmara no fundo da piscina (algo tão ilógico quanto a câmara que fica dentro da geladeira, ou da lareira, onde os olhos não costumam ficar), focalizando o corpo, que está emborcado para baixo, costas pra cima. E quem está narrando a história é o morto.
O narrador estar morto não é algo único, nem novo. Mas é uma maravilhosa sacada.
Uns seis meses antes de ser encontrado morto na piscina, Joe Gillis tentava escrever a idéia básica de um roteiro que interessasse a algum estúdio. Tinha abandonado o emprego em um jornal de sua cidade natal, no interior do Ohio, e se mudado para Hollywood em busca da fama, do sucesso, mas estava descobrindo que encontrar fama e sucesso não é tão fácil quanto acreditava. Morava num pequeno apartamento em Los Angeles, e estava devendo três meses de aluguel e três prestações do carrão que havia comprado a crédito.
Por uma dessas trapaças do destino, ao fugir dos homens da financeira que exigiam ou o pagamento das prestações atrasadas ou o carro de volta, Joe acaba entrando naquela gigantesca propriedade na altura do número 10.000 do Sunset Boulevard – um palacete dos anos 1920, que parecia abandonado.
Por outra dessas trapaças do destino, os dois únicos habitantes da casa – a proprietária e seu mordomo – estavam naquele momento aguardando a chegada de um agente funerário que iria levar para lá um caixão para acondicionar o corpo de um chimpanzé de estimação que havia morrido.
Max, o mordomo (interpretado por Erich von Stroheim), recebe Joe como se ele fosse o agente funerário e o manda falar com Madame, no segundo andar da imensa mansão. Joe até que tenta explicar que deve haver algum engano, mas, provavelmente movido pela curiosidade – uma excelente chance de conhecer uma mansão daquelas –, vai até o quarto de Madame.
Conversam por alguns momentos. Joe finalmente consegue dizer que não é o agente funerário. Está para ir embora, enxotado pela senhora idosa, quando finalmente a reconhece. O diálogo que vem então é um dos mais maravilhosos da história do cinema:
– “Você é Norma Desmond. Você era do cinema mudo. Você era grande.”
– “Eu sou grande. Os filmes é que ficaram pequenos.”
Norma Desmond é interpretada por Gloria Swanson. É absolutamente impressionante como a vida real e a história amarga do encontro de Norma Desmond com o aspirante a roteirista bem mais jovem, bonitão, se interconectam, se comunicam. Na sequência em que Norma joga cartas em sua mansão com um grupo de amigos, eles são representados por Buster Keaton, H. B. Warner e Anna Q. Nilsson, que na vida real foram contemporâneos e companheiros da atriz Gloria Swanson.
O filme que é projetado pelo mordomo Max-Erich von Stroheim na sala da mansão de Norma é exatamente Minha Rainha, com Gloria Swanson, que Von Stroheim dirigiu! No filme, Norma diz: “Sem mim, não haveria mais Paramount Studio”. A atriz Gloria Swanson poderia dizer a mesma coisa na vida real: durante seis anos consecutivos, ela havia sido a principal estrela do estúdio.
As dezenas e dezenas de fotos de Norma Desmond que aparecem em porta-retratos espalhados pelas salas da mansão são de fato fotos da atriz Gloria Swanson em sua juventude. Numa das sequências mais admiráveis deste filme extraordinário, Norma Desmond retorna pela primeira vez depois de anos e anos de esquecimento a um estúdio de Hollywood – o estúdio da Paramount, que produziu CREPÚSCULO DOS DEUSES/SUNSET BOULEVARD. Lá ela se encontra com Cecil B. DeMille, que interpreta a si próprio.
A personagem interpretada por Gloria Swanson, assim como a própria atriz na vida real, havia feito vários filmes sob a direção de Cecil B. DeMille – naqueles estúdios da Paramount! Cecil B. DeMille estava de fato filmando SANSÃO E DALILA no estúdio 18 da Paramount. Quando Norma Desmond-Gloria Swanson entra no estúdio 18, o que vemos no filme de Billy Wilder é autêntico, verdadeiro: toda uma gigantesca equipe reunida para as filmagens de um daqueles dramas inspirados em personagens bíblicos, uma marca registrada do diretor e produtor que as gerações mais novas talvez conheçam por causa da superprodução OS DEZ MANDAMENTOS, de 1956.
Há outro diálogo extraordinário nesse momento. DeMille não havia sido avisado da chegada de Norma Desmond. Seu primeiro assistente diz, sobre a atriz que andava havia décadas totalmente sumida do mundo:
– “Ela deve ter um milhão de anos!”
Ao que DeMille, fazendo maravilhosamente bem o papel de si próprio, diz:
– “Odeio pensar onde isso me coloca. Eu poderia ser o pai dela.”
Pouco antes, o tal assistente já havia proposto inventar uma desculpa: “Posso dizer que o senhor está na sala de projeção e me livrar dela”. E De Mille, com uma expressão contrariada no rosto: “30 milhões de fãs já se livraram dela. Isso não basta?”
O DeMille personagem de CREPÚSCULO DOS DEUSES/SUNSET BOULEVARD é uma pessoa extremamente doce, bondosa, compreensiva, afetuosa. É um oásis de bondade nesse universo tão absolutamente amargo em que vivem a velha estrela que perdeu o brilho e o jovem aspirante a roteirista.
Não é, no entanto, o único personagem bom caráter. Há também a jovem Betty Schaefer (interpretada por Nancy Olson), que trabalha na Paramount como leitora de roteiros e sonha, ela também, em ser autora. Tem 22 anos, é bela, inteligente, aplicada no que faz. Seria absolutamente natural que Joe Gillis ficasse fascinado por ela.
Joe Gillis não é propriamente um mau caráter. De forma alguma. Ele bem que tenta resistir à situação esdrúxula em que vai parar – um jovem bonitão que vira teúdo e manteúdo por uma mulher bem mais velha e riquíssima. Fica muitíssimo incomodado com os presentes caros que Norma passa a dar a ele. E se acaba se deixando levar pela situação absurda, é, em grande parte, por um genuíno afeto que passa a ter por ela – ou, no mínimo, no mínimo, por pena, piedade, dó.
A rigor, a rigor, ninguém na história é absolutamente mau caráter. São, todos eles, os personagens centrais, vítimas de circunstâncias contra as quais não conseguem lutar.
William Holden não era ainda considerado muito promissor na época do filme. Começara a carreira 12 anos antes, em 1938, mas nenhum de seus filmes anteriores havia tido grande sucesso de público ou crítica. Em 1950, o ano de CREPÚSCULO DOS DEUSES/SUNSET BOULEVARD, estava com 31 anos, e era um dos mais belos galãs de Hollywood. A partir deste filme, sua carreira decolou.
Trinta e um anos!
Nada longe dos 51 de Gloria Swanson, que faz a atriz “idosa”.
O “jovem” Joe Gillis-William Holden diz para Norma Desmond-Gloria Swanson: “Norma, você é uma mulher de 50 anos, então cresça. Não há nada trágico em ter 50, a não ser que você esteja tentando parecer que tem 25.”
Num outro momento, Norma diz: – “As estrelas não têm idade, não é?”
É absolutamente impressionante como o mundo mudou, nestes 64 anos que se passaram depois do lançamento de CREPÚSCULO DOS DEUSES/SUNSET BOULEVARD – e em alguns aspectos para bem melhor. As mulheres na faixa dos 50 anos, e na dos 60, não são consideradas “velhas”, “idosas”. Estão no auge, no esplendor da beleza, da forma física, da inteligência, da atividade.
A própria Gloria Swanson, como já foi dito, havia ficado sem filmar entre 1941 e 1950. Afastou-se das telas como sua personagem – mas, bem diferentemente de Norma Desmond, retomou a carreira. Assim como havia passado sem problemas da era do cinema mudo para o falado, permaneceu na ativa. Fez diversos filmes e séries para a TV nos anos 60 e 70. Tornou-se figurinista e pintora, fundou sua própria empresa de cosméticos. Morreria aos 84 anos, em 1983.
Teve três indicações ao Oscar – por Sedução do Pecado/Sadie Thompson, de 1928, Tudo por Amor/The Trespasser, de 1929, e por CREPÚSCULO DOS DEUSES/SUNSET BOULEVARD. Nunca levou para a casa a estatueta.
O filme teve um total de 20 prêmios, fora outras 13 indicações. Foram 11 indicações ao Oscar. Perdeu nas categorias de melhor filme, melhor direção, melhor ator para William Holden, melhor atriz para Gloria Swanson, melhor ator coadjuvante para Erich von Stroheim, melhor atriz coadjuvante para Nancy Olson, melhor fotografia em preto-e-branco para John F. Seitz, melhor montagem para Arthur P. Schmidt e Doane Harrison.
Só levou os Oscars de roteiro, música (Franz Waxman) e direção de arte em preto-e-branco (Hans Dreier, John Meehan, Sam Comer, Ray Moyer). Sunset Boulevard perdeu o Oscar de melhor filme para A Malvada/All About Eve, de Joseph L. Mankiewicz, que também ficou com o prêmio de melhor diretor. William Holden perdeu para Jose Ferrer por Cyrano de Bergerac. E Gloria Swanson perdeu para Judy Holliday por Nascida Ontem/Born Yesterday – outro filme em que William Holden trabalha. Outras derrotadas por Judy Holliday foram Bette Davis e Anne Baxter, ambas por ALL ABOUT EVE - A MALVADA.
A escolha dos atores foi uma aventura. Segundo o livro The Paramount Story, Billy Wilder gostava de contar que havia convidado diversas atrizes que já estavam na ativa nos anos 1920-1930. Convidou Mae West – ela quis reescrever o papel. Convidou Mary Pickford – ela exigiu ter o controle da produção. Convidou ainda Pola Negri – ela se sentiu insultada.
Isso é o que diz The Paramount Story. O IMDb dá outra versão. Diz que Mae West recusou por se achar jovem demais para interpretar uma veterana do tempo do cinema mudo. Que Wilder e Charles Brackett chegaram à conclusão de que Mary Pickford, adorada como a namorada da América, não ficaria bem no papel da estrela egocêntrica, neurótica, que se achava a melhor coisa do mundo. E que a dupla descartou Pola Negri, polonesa de nascimento, por achar que seu sotaque carregado traria problemas.
Foi o diretor George Cukor que sugeriu a Wilder o nome de Gloria Swanson. Mas a atriz quase recusou o papel quando foi informada de que Wilder queria fazer um teste de câmara com ela. Como assim, um teste para uma atriz que já havia sido uma das maiores estrelas de Hollywood? Consta que Cukor, muito amigo da atriz, a aconselhou: “Se eles quiserem fazer dez testes, faça os dez testes. Se você não fizer isso, dou um tiro em você”.
Ela então aceitou – para a felicidade geral das nações.
Gloria Swanson não atua de maneira natural, realística, naturalista. Bem ao contrário. Tanto ela quanto Erich von Stroheim atuam de forma exagerada, com gestos grandes, largos, e grandes caretas. É uma bela sacada de Wilder, mais uma entre tantas: os atores do cinema mudo, de uma maneira geral, usavam esse tipo de interpretação exagerada, grande, larga.
Era para Joe Gillis ter sido interpretado por outro ator de fina estampa: Montgomery Clift assinou o contrato para o papel; apenas duas semanas antes do início das filmagens, no entanto, anunciou que não faria mais o filme, e rompeu o contrato. Consta – pode ser fofoca, futrica – que o ator estava, na época, tendo um caso com uma mulher rica e mais velha, a ex-atriz Libby Holman; teria desistido por temer o que diriam colunistas de fofocas como Hedda Hopper e Louella Parsons sobre a coincidência entre vida real e a trama do filme.
Billy Wilder ofereceu o papel a Fred MacMurray, com quem havia trabalho no espetacular Pacto de Sangue/Double Indemnity (1944), mas ele recusou alegando que não tinha interesse em interpretar um gigolô. O nome de Marlon Brando teria sido aventado, mas deixado de lado porque o ator – que já brilhava na Broadway – ainda não era conhecido das audiências de cinema. Procuraram Gene Kelly, mas a MGM se recusou a emprestar o ator que era seu contrAtado.
Chegou-se então a William Holden. Wilder estaria bastante relutante, devido ao fato que o ator não vinha de filmes importantes. Mas afinal aceitou, e deu no que deu: uma indicação ao Oscar de melhor ator, e uma rápida ascensão a partir daí. Tornaram-se amigos, Wilder e Holden, e voltaram a trabalhar juntos em O Inferno nº 17/Stalag 17, de 1953
ALGUMAS CURIOSIDADES SOBRE CREPÚSCULO DOS DEUSES/SUNSET BOULEVARD
* O carro de Norma Desmond tem uma importância muito grande na trama. Já era, naquele ano de 1950, uma relíquia. É um Isotta-Fraschini, e em 1929, quando foi lançado, era o mais caro que existia no mundo. Nos Estados Unidos, foi vendido na época por US$ 50 mil dólares – o que, em valores de hoje, seria algo em torno de US$ 500 mil. Meio milhão! O carro que a produção alugou para usar nas filmagens havia pertencido à socialite Peggy Hopkins Joyce, que o ganhara de presente de seu amante, o magnata da indústria automobilística Walter Chrysler. Esse carro está hoje em exposição em Las Vegas; existem apenas seis daquele modelo atualmente nos Estados Unidos.
* A mansão que aparece no filme foi construída em 1924, e não fica no Sunset Boulevard. Na época das filmagens, pertencia à ex-mulher do magnata do petróleo J. Paul Getty. Foram filmados o exterior da construção e os jardins; os interiores, no entanto, foram todos construídos em um dos estúdios da Paramount. A mansão seria demolida em 1957; em seu lugar ficou um posto de gasolina.
*Em algumas sequências do filme aparece uma grande loja, a Schwab’s Drug Store. O lugar existiu de fato, no quarteirão do número 8.000 do Sunset Boulevard, e era um ponto de encontro de gente de cinema e de gente que tinha vontade de entrar para o cinema. Foi lá que F. Scott Fitzgerald – então contratado como roteirista por um dos grandes estúdios – teve um ataque cardíaco quando esteve no lugar para comprar cigarros. Segundo o especial do DVD, foi na Schwab’s Drug Store que Harold Arlen compôs “Over the rainbow” – e Harold Lloyd e Charles Chaplin jogaram fliperama nos fundos da loja. A Schwab’s Drug Store foi inteiramente redecorada depois de aparecer no filme, mas acabaria, com o tempo, perdendo seu glamour. Fechou em 1983, e o prédio foi demolido para dar lugar a um complexo de salas de cinema.
* Não é apenas o produtor e diretor Cecil B. DeMille que interpreta a si próprio em CREPÚSCULO DOS DEUSES/SUNSET BOULEVARD. Hedda Hopper, uma das mais famosas colunistas que escreveram sobre filmes e artistas de cinema na primeira metade do século XX, aparece no papel dela mesma. E, como já foi dito, Buster Keaton, H. B. Warner e Anna Q. Nilsson interpretam a si próprios como os únicos amigos que ainda visitam Norma Desmond e jogam cartas com ela.
* Billy Wilder dirigiu, em outro filme estrelado por William Holden, O Inferno nº 17/Stalag 17, de 1953, mais um grande produtor e diretor de Hollywood, Otto Preminger. Só mesmo Billy Wilder para usar como atores nomões como DeMille, Preminger e Erich von Stroheim.
* A dupla William Holden-Nancy Olson voltaria a aparecer em outro filme no ano seguinte, 1951: O Tigre dos Mares/Submarine Command, dirigido por John Farrow, o pai de Mia.
* CREPÚSCULO DOS DEUSES/SUNSET BOULEVARD foi a 17ª e última parceria de Billy Wilder e Charles Brackett. A partir de 1957, Wilder passaria a ter outro colaborador em diversos filmes, seu co-roteirista I.A.L. Diamond.
* Tanto Leonard Maltin quanto o Cinebooks’ dá ao filme a cotação máxima. O livro 501 Must-See Movies diz que CREPÚSCULO DOS DEUSES/SUNSET BOULEVARD é até hoje considerado o melhor filme sobre Hollywood, e o 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer dedica a ele duas páginas, algo só reservado para alguns poucos.
Vem aí a 4ª Edição da festa mais batuqueira da Baixada.
Barumba é uma festa que traz para a pista do Almanaque Bar sons com influencia dos batuques africanos: grooves raros, pontos de umbanda, brasilidades, música regional e latinidades.
Rola de tudo, mesclando o tradicional e o contemporâneo.
A orquestração deste repertório eclético fica por conta dos djs barumbeiros:
LUFER
(Futuráfrica Afrobraziliangrooves/ Vitrolada)
Nosso comissário de vôo
que viaja pelos quatro cantos do país
atrás dos sebos mais empoeirados
em busca de ouro para nossos ouvidos
MOK GROOVE
(outra-cena.com)
Historiador, pesquisador musical
e dj desde 1989,
atualmente editor de conteúdo
na área de música brasileira
de uma enciclopédia virtual
LUÍS CRUZ
(You & Me on a Jamboree/Jurassic Sound)
Começou a se interessar por vinil
através da música jamaicana
e agora pela primeira vez vai abrir o baú
e discotecar só brasilidades
QUANDO
29/07 (Quarta Feira)
A QUE HORAS
das 22:00 em diante
QUANTO
10$ na lista (festabarumba@gmail.com)
ou 15$ na porta
ONDE
O Almanaque Bar
Rua Siqueira Campos 554
(Lembrando que a entrada precisa ser paga em dinheiro)
(Todos que tiverem confirmado seus nomes no evento já estão na lista de desconto automaticamente)
O filho de um dos maiores cineastas brasileiros, Glauber Rocha, fez um documentário - sem entrevistas, é bom frisar - sobre uma das expressões culturais fundamentais para se conhecer o Brasil, o futebol.
Apesar dos ótimos filmes de Ugo Giorgetti, "BOLEIROS" e alguns documentários sobre os principais astros que pisaram os campos de futebol em nosso território, pouco se produziu sobre o tema no cinema.
Não há comentaristas "mauricinhos" falando sobre estatísticas.
As grandes jogadas, as grandes arenas e o gramado perfeito também estão ausentes.
Eryk abre o documetário com a colocação de cal para delimitar o "campo de jogo'.
A final do campeonato dos times da favela do Sampaio, no Rio de Janeiro, entre o "Geração" e o "Juventude", mobiliza epicamente toda a comunidade.
Não à toa Eryk utiliza a ópera como trilha sonora em algumas partes do documentário.
As faces dos espectadores, moradores do complexo de favelas de uma região próxima ao estádio de Maracanã, encaram o jogo mais importante do que um Fla X Flu.
Eles estão representados dentro das quatro linhas por jogadores com os quais convivem diariamente.
O mundo externo é esquecido, exceto quando as câmeras mostram um helicóptero sobrevoando próximo ao "campo de jogo".
Todos estão magnetizados pelo espetáculo que observam.
As preleções dos técnicos, longe de fazer leituras táticas, são de uma intensidade que se eu fosse jogador eu entraria e campo e iria ao meu limite pelo meu "chefe".
Eis a diferença entre o futebol pasteurizado que domina o esporte no Brasil e as verdadeiras raízes que foram as responsáveis que formataram equipes e seleções que se caracterizaram a arte em forma de futebol.
Atualmente, graças a Eryk Rocha, a arte pendeu para o lado do cinema.
Quem sabe, um dia, teremos arte nas telonas e nos campos concomitantemente.
Eu falo de mim - daqui -, desta central, pelo microfone do corpo, por esse fio que vem do fundo eu me irradio: assim, numa transmissão de sustos e rangidos, veia e voz - ao vivo - sob tanto sangue: - pantera escarlate que passa e pisa e se espatifa nesse chão: pata de lacre, grito! pingo sobre o alvo tão tátil da minha carne, nos panos instantâneos do meu espanto nas janelas onde me debruço sucessivo e vário, seqüência de mim, em fotonovelas me desdobro - quadro por quadro, nos desenhos de dentro do que sou e projeto, aos poucos, - plano e pausa - para fora com a vida que me veste pelo avesso: - filmes de sêmen onde publico figuras de suor e celulóide, numa lâmina de velocidade e de lembrança, em fotogramas de esperas e posturas - falha, folha de slides-células, sopro e pulso, página de pele em que escrevo o uso a articulada letra do meu gesto, o rascunho de rugas & rasuras feito à unha nas nuas marcas do meu corpo no espaço, e nos lençóis da claridade, monograma, silueta, cadência, e a fala que se imprime nesta fita, neste sulco: - a linguagem como um fim, - a linguagem por um fio, e a morte em morse
Gosto bastante de François Ozon. Acho-o inteligente, provocativo, mas o que me encanta é que ele faz umas provocações serenas, que não nascem de um desejo de épater. Em Cannes, no ano de Azul É a Cor Mais Quente, Jovem e Bela provocou um escândalo com sua história de uma garota que quer ser p…
Passei mais uns dias sem postar e, nesse ínterim, fiz a matéria da lista de 100 + para o Caderno 2, que meu editor, Ubiratan Brasil, incrementou com uma pesquisa – os internautas do Estado escolheram/estão escolhendo o favorito deles entre os dez mais dos leitores da Empire. Até onde sei, Indiana Jones/Harrison Ford está
Tudo bem, não era louco de esperar por Rocco, o dos irmãos. Talvez por Michel Poiccard, que teve direito até a remake (Richard Gere na versão que Jim McBride fez de Acossado, de Jean-Luc Godard). Ou então, quem sabe, Jules e Jim? Nada disso, mas, mesmo assim, tomei um choque. Em sua edição de agosto,
Fiz anteontem a capa do Caderno 2 com a entrevista de Serge Toubiana, ex-redator-chefe de Cahiers du Cinéma e atual diretor da Cinemateca Francesa. Toubiana, co-autor, com Antoine de Baecque, de um livro sobre François Truffaut, faz a curadoria da exposição que começa terça-feira, dia 13, no MIS. Todo Truffaut – filmes, objetos, roteiros anotados,
Minha entrevista de hoje por telefone foi com Christian Petzold, diretor de Phoenix, com Nina Hoss, que estreia quinta-feira. É o sexto filme que a atriz e o diretor fazem juntos, e o anterior foi Bárbara. Gostei mais do anterior, mas o novo é bem interessante e eu gostei mais ainda de falar com Petzold.
Jantei ontem à noite com Lúcia e Fabi no Rascal da Santos e, na sequência, fui ver Um Pouco de Caos na Reserva Cultural. Foi engraçado. Estou tão acostumado a ver a Reserva lotada no fim de semana que, quando a bilheteira me pediu que escolhesse o lugar, fui logo nos dois ou três que
Não estou conseguindo dar conta de um monte de coisas boas que têm ocorrido ultimamente. Fui ao Rio para entrevistar John Green e Nat Wolff, do filme Cidades de Papel, que estreia quinta. Gostei do filme e mais ainda dos entrevistados. John Green virou o porta-voz dos jovens. Escreve sobre e para eles. Senti-me o
Nunca me esqueço. No começo dos anos 1970, estávamos casados, Doris e eu. Ainda vivia em Porto Alegre – ela segue lá – e aproveitávamos qualquer feriado para descer para Montevidéu e Buenos Aires. Lembro-me do choque que tive, assistindo em Buenos Aires, a Gritos e Sussurros. Logo em seguida, surgiu a notícia de que
Nem tive tempo de postar que assisti, no fim de semana, ao belo sarau do Grupo Galpão no Sesc Santana. De Tempo Somos, direção de Lydia Del Picchia e Simone Ordones, propõe uma antologia de poesias, textos, canções. São fragmentos de Beaudelaire – ‘Embriaga-me de vinho, de poesia” - e de Nelson Rodrigues, Jack Kerouac, Anton
Como toda segunda-feira, tivemos ontem a reunião de pauta do Caderno 2. Na mesa havia um Guia ‘deles’, da concorrência. Fui olhar o quadro de cotações. Um monte de zeros. Vingadores e Jurassic World são descartados como ‘mais do mesmo’. Muito interessante. Entendo o que os coleguinhas luminares estão querendo dizer, mas, além de descartar,