Saturday, May 6, 2017

CAFÉ & BOM DIA #58 (por Carlos Eduardo Brizolinha)



Em 1987, ele foi operado na vesícula biliar. A operação correu bem mas Andy Warhol morreu no dia seguinte. Ele era célebre há 35 anos. De fato, a sua conhecida frase: In the future everyone will be famous for fifteen minutes (No futuro todos serão famosos durante quinze minutos), só se aplicará no futuro, quando a produção cultural for totalmente massificada e em que a arte será distribuída por meios de produção de massa. CONHECI SUA OBRA A PARTIR DE UMA CAPA DE DISCO DO VERVE UNDERGROUND. SEM MUITOS ELEMENTOS PARA PESQUISAR, MINHA ALTERNATIVA FOI A LIVRARIA ATLÂNTICA. POUCO MATERIAL. FUI OBTER MUITA COISAS NUMA LIVRARIA DE SÃO PAULO E POR SER MATERIAL IMPORTADO TINHA PREÇO FORA DO MEU ALCANCE. VOLTEI A ME INTERESSAR NO FINAL DA DÉCADA DE 80. NOS ANOS 90 PUDE ME ESBALDAR NA OBRA E NA BIOGRAFIA. TRAZ PARA A ARTE NOVOS ELEMENTOS E USOU VARIAS TÉCNICAS. Warhol foi uma das pessoas mais excêntricas da minha geração, pois era do tipo que não tinha nada a dizer, embora estivesse com todos os grandes da mídia artística. Sua obra é deliciosamente provocativa. Ele produziu coisas relevantes no começo dos anos 60 e fez de uma capa de disco uma mensagem maior do que 15 minutos de fama, mas no geral não tenho dúvidas do foi considerada superestimada me faz olhar com muita reverencia. Revisando as opiniões da época, comparando com alguns críticos mais recentes, verdadeiro desfile de opiniões desfavoráveis quanto favoráveis, uma consideração não pode ser desprezada, usou os meios de comunicação como ninguém.


Não me interessa a posição politica de Paulo Francis. Conheci os textos de Franz Paul Trannin da Matta Heilborn no " Pasquim ", final da década de sessenta. Depois pude acompanhar seus artigos na FSP e no Estadão. Quantos de nós não aprenderam a ler Saul Bellow, Philip Roth, Norman Mailer. Odiei a sugestão de " O Arquipélago Gulag, amei ler Marshall McLuhan e entre leituras sugeridas tive mais encontros simpáticos do que rejeitados, porém admirava as informações que a grande mídia, por ideologia, covardia ou incompetência, sonegava do seu público. O que dizer de suas críticas implacáveis? Não ficaria barata as afirmações sobre Vitor Hugo no Manhattan Conection, mesmo porque os deslizes de Francis sempre foram toleráveis, basta lembrar o vazio deixado no FSP quando saiu. Os mais jovens, que não conheceram o Francis d’O Pasquim e da vibrante participação inicial na Folha de S.Paulo (quando esta ainda tinha como diretor de redação o inesquecível Cláudio Abramo, defenestrado pelos militares em 1977), é de Claudio que trago minha posição politica usando o termo " Ceticismo Racional "e de Francis quase cem por cento dos autores de língua inglesa. Quando a morte de uma excepcional escritora, como a australiana Shirley Hazzard, deixaria de ser registrada, xingar horrores com a dica para ler Muriel Sparks de quem disse ser imprescindível? Com Francis morreu a coragem, digo que Wilson Martins também tinha, mas sem a mesma graça.


Depois do falecimento do Dr. Alencastro Guimarães e do Dr. Lafayette não tive muita oportunidade de falar de autores latinos. Tenho ainda o Dr. Luis F. Lopes, mas não temos tido muito contacto. Procurando livros para o querido amigo José Carlos Bertoni separei alguns autores latinos, comecei por " De brevitate vitae " - Sêneca acredita que a vida não é em si pouca, mas que nós perdemos e jogamos o nosso precioso tempo na boca grande de inutilidade todos os dias. tempo perdido. Perdemos nosso precioso tempo em incontáveis atos tolos e irrelevantes, desperdiçando assim a nossa existência e constantemente negligenciando o valor de "estar com seus pés no presente" . Sêneca considera todos nós um momento da eternidade, cuja vida abandona a todos em meio aos preparativos para vida. Sentimos que a vida passou sem que tenhamos sentido, então todo restante não é vida, mas tempo. É certo que a reflexão de Sêneca é direcionada a Pompeius Paulino, seu sogro. Há um elo forte da escola de Zenão com a interpretação feita por Sêneca. Numa entrevista do ator Paulo José, este olhando seus livros, filmes e musicas, projetou o tempo necessário para usufruir considerando sua idade,. Tudo que acumulou não é mais possível. É possível priorizar selecionando, virar as costas para tudo que é irrelevante e fora do alcance de nossas mãos.


Me dei conta do tamanho da insanidade. Leio Jean Genet. O possesso despe o demônio. Os rancores cospem ideias num impulso inferior e indestrutível, uma infernal maldição brilha como um aplique na carne viva. Vaza pelas grades prisionais o odor úmido das palavras poéticas que sensualizam no sol quadrado. A disciplina da retração por desolação dobrada por rigores exigentes. A palavra nascida no claustro é luz incendiária que liberta o pássaro engaiolado. Reflexo do reflexo só de faz visível mediante a entrega da alma para libertar imagens mutiladas. As mãos de Genet se aproximam de Artaud pelo espelhos da tragédia sem que seus olhos desenhassem uma só letra que viesse fora da sua insanidade. A vida escolhe suas vitimas para injetar doses insuportáveis de dor. Dores que se transformam em ideogramas. Genet não falsifica sua atividade real e no isolamento expele para as páginas elementos que agem sobre outros cujo resultado não é modificado. Luta contra o preconceito, categoriza o descategorizado deitando o biombo no chão. Devassando corpos e almas dos pudicos. Não cabe na bagagem de sua alma a palavra crueldade. Cabe subversão amarga num balcão que está ativo e cobra caro.Geme medida que apodrece com as mesmas alucinações e todos altos dignatários que esperam a submissão. Não são ninguém. Suas insanidades compram mais espaços o BALCÃO - Jean Genet - Enquanto uma revolução ameaça tomar conta de um Reino, fregueses do Grande Balcão, um bordel de luxo, satisfazem suas mais secretas fantasias de sexo e poder representando as figuras que compõem a mitologia da sociedade e que são responsáveis pela ordem estabelecida.


Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, calça, meias, sapatos, celular, agenda, lápis, caneta, blocos de notas, espátula, pastas, caixa de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, café. Bandeja, xícara pequena. café. Papéis, celular, relatórios, mensagens, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, celular, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, café, bloco de papel, caneta, filmes, xícara, cartaz, lápis, café, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo. xícara. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, café, telefone interno, gravata, paletó. Carteira, moedas, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Café, Mesa e poltrona, cadeira, biscoitos, papéis, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta,chocolate, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone,agradecimento ao Dr. Manuel, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, papel e caneta. Carro. Paletó. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, café. Poltrona, livro. Televisor, poltrona, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. SONHOS, DOCES SONHOS. Relógio, despertar. Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo.........

SÁBADO. CAFÉ E BOM DIA.


Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada à Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
onde bebe vários cafés orgânicos por dia,
e da loja de equipamentos de áudio ORLANDO,
do amigo Orlando Valência.


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