Monday, January 5, 2015

NÃO PERCAM O MELHOR FILME BRASILEIRO DE 2014







por Chico Marques

Há várias semanas vinha procurando pelos peer-to-peers da vida o filme argentino "Relatos Selvagens", só para não ter o trabalho de ir até uma sala de cinema para vê-lo.

Tenho cá meus motivos para tanto receio.

Acho Ricardo Darín um bom ator, mas não o ator genial que muitos insistem em fazer dele. 

Como se não bastasse ser superestimado, Darín sempre me pareceu babaca ao extremo em todas as entrevistas concedidas por ele que li por aí.

O fato de Pedro Almodóvar ser produtor executivo do filme também me incomoda um pouco. 

Nada contra Almodóvar, muito pelo contrário. 

É que ele possui uma personalidade artística tão forte, e seus seguidores são tão aplicados em permanecer na mesma sintonia dele, que fica difícil esses filmes não acabarem virando meros pastiches dos de Pedro Almodóvar.



Bom, ontem, finalmente, recebi um ultimato de minha mulher e fomos ao cinema ver "Relatos Selvagens".

Achei divertido, bem interpretado, bem escrito, mas não tão bem dirigido quanto poderia ser.

Lembra de imediato aqueles filmes de episódios muito populares no Cinema Italiano dos anos 60, que reuniam vários grandes diretores num filme só. 

Mas como todos os episódios de "Relatos Selvagens" são dirigidos pelo roteirista Damian Szifron, estranhei o resultado final ser tão irregular. 

Confesso que esperava mais do filme -- o que não quer dizer que não valha a pena assisti-lo. 

Se soubesse antes desse último domingo que 'Relatos Selvagens" está disponível na web apenas com seu título em inglês, "Wild Tales", o teria visto aqui em casa mesmo.



Mas não vou bancar o chato: 

Gostei bastante do episódio dos dois motoristas na estrada.

Gostei muito também do casamento disfuncional -- sem dúvida o mais almodovariano dos seis episódios.

E, claro, adorei "Pasternak": o melhor, mais ligeiro e mais engraçado deles todos.

Se "Pasternak" encerrasse o filme ao invés de abrir, "Relatos Selvagens" seria um filme bem mais dinâmico.

Mas mesmo com todos esses defeitos -- e mesmo estando longe de ser um grande filme -- ele consegue ser infinitamente superior a toda a produção cinematográfica brasileira de 2014, o que é muito grave.

Quem se sente envergonhado por conta disso, deveria culpar os responsáveis pelo estado de coisas deprimente do cinema brasileiro atual. 

O que ainda nos salva é que, para quase todos os que vivem no Hemisfério Norte, a capital do Brasil continua sendo Buenos Aires. 

(Chico Marques)









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