Thursday, February 19, 2015

SILVA TRAZ SUA NOVA BANDA NESTE SÁBADO NO SESC-SANTOS

O cantor e compositor capixaba Silva, 25, na praia de São Pedro do Estoril, em Portugal

Depois de um álbum de estréia muito elogiado, "Claridão" (2012), o cantor e compositor capixaba Silva, de 25 anos de idade, que até então não acreditava na tal "síndrome do segundo disco", passou a sofrer com os seus sintomas:
"É assustador. Você não quer repetir o que já fez e quer ver que riscos pode assumir. É uma prova de fogo".

"Vista Pro Mar", o tal segundo disco, chega a ser um paradoxo, pois é surpreendentemente leve e não passa recibo de ter sido o resultado de um parto prolongado e difícil. 

"É um disco para ouvir na beira da praia, da piscina, com um instrumental sem tanto drama. 'Claridão', o disco anterior, tinha letras mais densas. Já "Vista Pro Mar" está mais de bem com a vida. Moro em Vitória. Não me enxergo em uma cidade sem praia".

"Vista pro Mar" traz letras em português —a maioria sobre relacionamentos— em música eletrônica de batida leve, com arranjos de teclados e sintetizadores que remetem aos anos 1980.

Silva -- ou Lúcio da Silva Souza, seu nome completo -- tem formação erudita em violino e já foi chamado de uma mistura de Guilherme Arantes com James Blake, mas não se importa com as comparações.

"Tinha uma coisa interessante nos anos 1980. A Rita Lee, por exemplo, fazia álbuns dançantes. Depois deixou de misturar essas influências gringas na MPB. Parece que ficou um medo. Eu não estou nem aí para essas fronteiras musicais"

Silva vem a Santos pouco antes de se apresentar no Festival Lollapallosa, dia 5 de Abril, e aproveita para testar o novo repertório neste sábado, dia 21 de Fevereiro, no SESC-Santos.

Traz a tiracolo sua nova banda: o baterista Hugo Coutinho, o baixista Rodolfo Simor e o guitarrista Giuliano de Landa.


ENTREVISTA - SILVA


Muitas pessoas estão te considerando a grande aposta brasileira da cena independente. Como você lida com isso?
É muito empolgante ver um trabalho sendo reconhecido, estou muito feliz por isso, embora isso traga uma certa pressão que eu ainda não conhecia. Superar uma expectativa é sempre mais difícil que surpreender nenhuma.
Conte-nos um pouco sobre você. Qual a lembrança mais remota de querer trabalhar com música?
Meu primeiro contato com música foi cedo, mas acho que só comecei a pensar em ser músico na adolescência. Com uns 12 anos talvez, quando entrei numa daquelas orquestras de estudantes. Foi minha primeira experiência desse tipo e me fez gostar de música um pouco mais.
As músicas do seu primeiro disco eram marcadas por um experimentalismo, mas também um toque de regionalidade, cores tropicais. O que te inspira a compor? Como surgiram as idéias para as músicas?
Gosto de me inspirar em ambientes, sou muito visual e o clima também me influencia bastante. As músicas vieram de idéias que fui guardando, de lugares que eu visitei ou de alguma brincadeira aleatória no piano ou no sintetizador. Sempre ouvi vários tipos de música, mas costumo ser mais influenciado por artistas que gostam de trabalhar mais melodicamente.
Já ouvi muitas pessoas te compararem ao James Blake. Inclusive você trabalhou com Matt Colton na masterização, o mesmo produtor dos discos de Blake. Enxerga alguma semelhança?
O James Blake é um artista que eu admiro muito, desde o começo quando ele tocava mais dubstep e remixava Destiny’s Child. Mas não acho o meu som parecido com o dele. O som do James é um dos mais maduros que ouvi ultimamente e eu ainda quero trabalhar bastante para chegar lá.
Você é contratado da Som Livre. Como essa associação se reflete no seu trabalho?
A Som Livre entrou em contato comigo em 2012 e me fizeram uma proposta muito boa, principalmente pelo lado da liberdade criativa. Me deram espaço para produzir do jeito que eu quisesse, gravando em casa e produzindo sem interferência. Desde então, acho que o resultado tem sido muito bom.
Consegue se enxergar parte de uma cena musical brasileira? Acompanha outros artistas de sua geração e como é sua relação com eles?
Consigo sim, apesar das outras influências eu tenho muita música brasileira no meu som. Ultimamente não tenho acompanhado muito, mas tem alguns artistas que gosto bastante e acompanho, a Céu é uma deles. Mas ainda não conheço quase ninguém (risos). 
Quando você começou a estudar música?
Eu comecei bem novo, com 2 anos. Comecei violino com 6 anos e piano com 7 anos. Depois aprendi a tocar instrumentos de banda, como guitarra, baixo, violão. Já toquei em tudo quanto é tipo de banda, fazendo cover de Jamiroquai, Stevie Wonder, Tower of Power. De um lado, minha adolescência foi bem erudita e, de outro, foi um pouco de tudo. Agora, estou no último período do curso de violino na Faculdade de Música do Estado (Fames), em Vitória, no Espírito Santo.
Sua família é ligada à música?
Na família da minha mãe tem bastante gente ligada à música. A pessoa que mais me influenciou foi meu tio, que é pianista. Ele morava conosco quando éramos pequenos e passava oito horas por dia tocando. Minha mãe é formada em flauta e piano. Também tenho dois irmãos mais velhos e os dois estudaram música, mas nenhum seguiu carreira.
Em sua apresentação no Sónar, você comentou que passou uma temporada na Irlanda antes de gravar seu primeiro disco. O que fez lá?
Eu tranquei o curso de violino porque não estava gostando muito. Fui para Irlanda estudar inglês. Cheguei lá em plena crise econômica de 2009 e não tinha emprego. Um baterista brasileiro conseguiu meu contato e me chamou para tocar na banda dele, que estava tocando na rua. Foi meu ganha pão. Foi lá que eu compus A Visita, minha primeira música. Ela tem bastante influencia da música irlandesa. Também consegui economizar algum dinheiro para comprar meus equipamentos aqui no Brasil.
Quem participou das gravações dos dois discos com você?
Eu gravei tudo sozinho. Eu chamava outras pessoas, mas ninguém aceitava fazer o som que eu queria. As pessoas não entendiam, falavam que estava estranho. Aí, eu resolvi fazer sozinho mesmo, como eu imaginava que tinha que ser. Eu levei o demo para uma amiga, que mostrou para um produtor do Rio, o Carlos Andrade. Ele gostou muito e me chamou para ir para o Rio gravar uma música. Lá, ele me apresentou a um técnico chamado Lucas de Paiva. Nós trabalhamos juntos no EP que antecedeu "Claridão". Gravei metade na minha casa e metade no estúdio com ele.
Como foi o contato com o Matt Colton, que também finalizou os discos de James Blake?
O Lucas estava procurando um técnico de masterização lá fora. O Colton masterizou vários discos da cena underground da música eletrônica e isso casava com o que a gente queria. Procuramos o contato dele pela Internet e mandamos o material.  Ele curtiu e topou fazer. A finalização dele foi bem feita.
Por que você escolheu o nome SILVA?
Todo nome que eu escolhia me soava um pouco pretensioso e eu não sabia o que isso ia dar. Eu lancei na internet sem nenhuma perspectiva. É o meu nome do meio e, mesmo sendo o nome mais comum do Brasil, praticamente ninguém usou. Mas é difícil de achar no Google. Algumas pessoas me falaram isso e eu fiquei meio encucado. 
Como você compõe suas músicas?
Eu tenho um processo de composição estranho, ele é meio inverso. Eu procuro produzir a música inteira, o arranjo todo, antes de ela ter a letra. Eu vou trabalhando as batidas, as melodias, o que eu quero que entre no arranjo ou não e, por último, coloco a letra. Para mim, é mais fácil. Eu tenho mais facilidade com os arranjos do que com as letras, que são escritas em parceria com meu irmão.
Você tem uma formação na música erudita. Inclusive, está terminando a faculdade de violino. Mesmo assim, você não se prendeu só a esse gênero. O que mais você gosta de escutar?
Eu sempre ouvi de tudo, nunca fui daqueles eruditos chatos que só escutam Bach e Stravinsky. Sempre gostei de músicas pop, nunca tive preconceito. Eu sou fã do Kanye West, ele é o cara. De fora, também escuto música erudita e eletrônica, como house e ambient. De música brasileira, escuto muito Marisa monte, Legião Urbana, Lulu Santos, Tom Jobim e Ernesto Nazareth.
O que você tirou de influência dos artistas que escuta?
O que é uma marca lá fora e eu uso muito é o sintetizador. Quando eu falo de música eletrônica, sempre acham que é música de balada, mas, na verdade, música eletrônica é aquela que é feita com instrumentos não acústicos. Em vez de usar uma bateria orgânica, você usa uma bateria eletrônica, ou, no lugar do piano, você coloca um sintetizador com piano elétrico.
Como você classifica a música que faz?
Não sabia se podia chamar de MPB, porque, apesar de ser em português, tem muito elemento que não é de música brasileira e que poderia ser de qualquer lugar. Não sabia também se podia chamar de eletrônico, porque meu som não é só eletrônico, tem vocal, tem elementos de canção. Então, eu não sei, é difícil definir. Sinceramente, eu não sei dizer o nome do meu som.
O que você achou da sua apresentação no Sónar?
Nunca tinha feito show em um palco daquele. Pulei de um lugar para 150 pessoas para um palcão. Foi muito louco também porque foi no mesmo palco de artistas que eu gosto, como Mogwai, James Blake e Sakamoto. Foi muita responsabilidade. Apesar dos problemas técnicos que eu tive, consegui chegar até o final do show.
Você chegou a conhecer o James Blake?
Eu tentei, mas sou muito tímido. Meus amigos ficaram falando que eu tinha que ir lá trocar uma ideia. Quando eu fui para o backstage, ele já tinha ido para o hotel e só estava a banda lá. Gosto muito dele, principalmente da época dele antes de gravar com o vocal. Mas também gosto da fase nova. A voz dele é fabulosa e ele está sempre inovando.



SILVA
Sábado, 21 de Fevereiro
21 horas
Teatro do SESC-Santos
Rua Conselheiro Ribas, 136




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