Friday, November 24, 2017

PRESOS GOURMET (uma crônica de Alvaro Carvalho, Jr)



A nova cara do Brasil vitorioso está exposta na capa de Veja que saiu na sexta-feira à tarde. Lá está o criminalista Adriano Bretas exibindo um sorriso vitorioso e mostrando as belezas do dinheiro, com um belo Cohiba Behike na boca, ao custo de R$ 350,00 cada. Um dos mais caros charutos cubanos e símbolo da fartura e do desperdício. Ele é o advogado do conhecido meliante, Antonio Palocci, um dos grandalhões da política que está encarcerado e tentando fechar uma delação premiada que diminua sua pena. Um dos grandes gurus do PT sustenta as delícias que Bretas gosta de usufruir.

Mas o criminalista é apenas um dos emergentes que estão se tornando milionários com a Operação lava Jato. Vários outros advogados jovens, na faixa dos 40 anos, saíram do anonimato e correram atrás do dinheiro sem levar em conta sua origem. Pouco importa de onde venha, desde que ele venha. Desviado da Petrobrás, propina da Odebrecht? O importante é que ela saia das mãos dos picaretas que engaram milhões de brasileiros e caia no bolso desses oportunistas de ocasião. Não se tem a menor consciência ética, o menor cuidado com a origem. É pegar ou largar e, caso pegue, festejar com o vinho tinto bordelês, safra 1973, o famoso Château Pétrus, um desejo de consumo no valor de R$ 9 mil reais a garrafa. Tem gente no País que não ganha isso por ano...

Essa nova faceta assusta e nos leva para muitos anos atrás, quando o meia Gerson, campeão mundial e um artista da bola, falou aquela famosa frase: "quero levar vantagem em tudo". Essas poucas palavras tornaram-se um verdadeiro mantra nos anos seguintes e geraram reações que acabaram jogando o jogador para o anonimato, mas mantendo a ideias como uma maneira de se vencer na vida, mesmo que atropelando os fatores morais. Agora, os ternos caros, as gravatas importadas e coloridas, os escritórios suntuosos formam um novo cenário, mas não mudam em nada a vileza da situação. Esses emergentes são jovens bem treinados, inteligentes, têm sua origem na classe média alta, estudaram em boas escolas e parecem não levar o pudor em conta. Mas preocupam-se, isso sim, com a conta...

Os políticos, por sua vez, não conseguem aprender que a lei foi feita para ser respeitada. Nesta semana que passou alguns acontecimentos parecem ter saído de um filme de terror insano, tal a bizarrice dos fatos. O inacreditável deputado Celso Jacob, do PMDB, foi surpreendido com biscoitos e queijo escondidos na cueca quando voltou para a prisão. Ele está condenado a sete anos, mas tem o direito de ir todos os dias "trabalhar" na Câmara dos Deputados, onde opina e vota sobre leis que podem atingir qualquer um de nós. Será que algum estrangeiro entenderia uma situação dessas? Acabou pagando o mico: sete dias de isolamento e fim das mordomias. Agora vai cumprir a pena preso mesmo.

Entretanto, as bizarrices não param por aí. Rosinha Garotinho e Adriana Esteves, mulheres de Anthony Garotinho (preso) e Sergio Cabral (preso), mal chegaram na carceragem e os policiais já encontraram pratos sofisticados em suas celas: camarão, bolinho de bacalhau, iogurte, queijo de cabra, presunto cru, castanhas e outras delícias. São os presidiários gourmet! Essa comida toda estava acondicionada em marmitas que tinham o nome de Sergio Cabral marcado nas tampas, um sinal de quem realmente manda na quadrilha. TVs de alta definição, home theater, antenas de Full HD, celas de portas abertas, enfim, um verdadeiro festival de impunidades ocorrem em Benfica, cadeira do Rio de Janeiro onde estão recolhidos os presos da Operação Lava Jato. As denúncias dos jornalistas tiveram efeito positivo; muita coisa acabou (TV foram retiradas e doadas para caridade), mas fica uma pergunta: como tudo isso entra num presídio?

São coisas do Brasil. A corrupção chega a níveis incríveis e dá para entender a dramática situação do Rio de Janeiro. Mas fica difícil de entender a postura desses jovens advogados -e dos veteranos, também- que recebem seus pagamentos dessas figuras ultrajantes da vida brasileira. O dinheiro que paga o charuto,, o vinho, os ternos caros e as gravatas importadas é de origem ilícita, portanto, também é ilícito. Essa conversa de que todos têm direito a defesa é correta, mas aceitar dinheiro desses sujeitos sem saber a origem é completamente errado. Leve-se em consideração, ainda, que, amanhã o depois, esse mesmo dinheiro ilícito poderá livrar alguém da prisão, o que seria uma catástrofe. Na verdade, a Petrobrás, a Odebrecht e tantas outras empresas assaltadas por esses bandidos ainda estão lhes pagando a defesa. É de chorar...


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