Arnaldo Antunes nasceu em São Paulo em 2 de Setembro de 1960. É um artista completo, que transita entre a música, a poesia e as artes visuais. Começou sua carreira artística como integrante do grupo pop Titãs, mas deixou a banda após o 6° disco, "Tudo Ao Mesmo Tempo Agora", para seguir carreira como artista solo.
É poeta de mão cheia, possui 24 livros de poemas publicados, e é herdeiro legítimo do concretismo de Décio Pignatari e dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos, além de ser um dos ícones principais da moderna música pop brasileira.
Caro Dr. Love: Meu filho de 13 anos é viadinho. Isso não é uma novidade para mim. Desde os 7 anos, ele só brinca com meninas, pede bonecas de presente no dia das crianças e não perde um episódio de Glee. Aprendi ao longo dos anos a aceitar isso numa boa e estou seriamente empenhado em prepará-lo para a vida adulta respeitando sua orientação sexual. O problema é que ele não mora comigo, e sim com a mãe, de quem me divorciei há 10 anos, e com quem pouco falo. E ela tem verdadeiro pavor do filho ser viado, e não aceita de forma alguma o jeitinho dele. Como é que esse menino vai conseguir ser uma bichinha feliz e saudável mentalmente sem ter uma mãe que o apoie? O que eu posso fazer por ele, Dr. Love? (Daddy-O, São Bernardo do Campo SP)
Caro Daddy-O:
Se eu fosse você, partiria para uma solução radical. Que tal começar a encontrar com seu filho aos sábados vestido de mulher? Isso pode ajudá-lo a entender melhor a dinâmica da aceitação e o seu esforço em ser, ao mesmo tempo, um pai e uma mãe compreensiva para ele. E quem sabe com isso ele encare com mais facilidade a recusa de sua mãe em aceitá-lo como ele é. Desejo boa sorte!
Caro Dr. Love: Tenho 33 anos, sou casado há 8 anos e minha mulher parece ter perdido por completo o interesse no sexo. A gente fode uma vez a cada dois meses, se muito, e eu preciso insistir muito para a coisa rolar. Tenho saído com putas ultimamente para conseguir dar vazão à minha sexualidade, e contei isso para ela, na esperança de que isso mexesse um pouco com seus brios, ou a deixasse enciumada. Mas ela simplesmente disse "okay" e me liberou para me divertir por aí. Só me pediu duas coisas. Primeiro: que eu me cuidasse, usasse camisinha sempre e não trouxesse nenhuma doença venérea para casa. E segundo: que eu não a abandonasse sob hipótese alguma, pois ela me ama demais e não quer se separar de mim sob hipótese alguma. E agora, Dr. Love, o que eu faço? (Loverboy, Santa Rita do Passa Quatro SP)
Caro Loverboy: Continue assim que você vai muito bem. E pelo amor de Deus!: não caia na besteira de economizar com putas arrumando uma namorada ou uma amante fixa. Não estrague tudo. Divirta-se e seja feliz!
Caro Dr. Love:
Sou um punheteiro contumaz desde a mais tenra idade e há quase dez anos virei frequentador assíduo de websites pornôs como Brazzers e Naughty America. Desde então, pouco a pouco, fui perdendo o interesse no sexo físico. Mas não no sexo presencial, na medida em que triplicou o meu interesse em fellatios e virei um aficcionado em cunnilingus e anilingus. Minha mulher não reclama, na medida em que consigo satisfazê-la plenamente no quesito penetração com minha coleção de dildos e vibradores. E, por mais estranho que isso possa parecer, nossa vida sexual é plena e muito satisfatória. Tem algo de errado com a gente, Dr. Love? (Bang-Banger, Jacarezinho, SP)
Caro Bang-Banger: Nada de errado. Sejam felizes assim. E nunca deixe de ter baterias reserva no criado mudo e cremes -- Chantilly, por exemplo -- e geléias na geladeira para passar na bucetinha e no cuzinho dela, e também na sua jeba e nos seus bagos. Se você for fã de culinária árabe, recomendo rechear a bucetinha de sua mulher com coalhada seca e babaganouche. Experimente, é delicioso. Tempere com muito azeite, e evite pimenta do reino, pois pode causar irritações nas paredes vaginais dela. Bon Appetit, mon ami!
Fazia tempo que Betty Faria não se mostrava tão à vontade. Lembrou os tempos de filmes e revistas, quando meio Brasil ia ao delírio se ela se mostrava por inteiro – e a última vez que a vimos em pele foi à sua revelia, ano passado, num flagra de paparazzo que fez o público, tão acostumado a aplaudir de pé todas as bundas da programação televisiva, vaiar a atriz por usar um biquíni enxuto. Foi bombardeada como Leila Diniz, lá em 1971. “Gente careta, queria que eu usasse o quê? Burca?”, respondeu aos ataques. Betty é um choque de realidade aos 73 anos, cabeça à frente de nosso tempo e corpo que não fica atrás das outras musas que vieram a seguir. Tudo bem, tudo ainda em cima. Em algum lugar do presente é a mesma Betty do passado: a professora de dança de Baila comigo (1981); a rumbeira de Bye-Bye Brasil, clássico do cinema nacional (de 1979); a Lili Carabina de Lili, a estrela do crime (filme de 1987), a Lazinha Chave-de-Cadeia, de O espigão (1974); a viúva Porcina, de Roque Santeiro (na primeira versão da novela, censurada em 1975); a Jussara, de Partido alto (1984); a mocinha que nunca fez papel de virgem e (viva!) por isso mesmo todo homem queria ter por perto, por cima, por baixo – e toda mulher queria ser igual, se não pelas formas, pelos homens que namorou, casou, ficou, contracenou. “O [José] Wilker foi meu grande parceiro. No enterro eu olhei pro rosto dele e pensei: ele tá rindo de todos nós agora”. Renasceu a bombshell carioca, ex-bailarina, mistura tropicana de Cher com Sophia Loren, dois ex-maridos “oficiais” (o ator Cláudio Marzo e o diretor Daniel Filho), um terceiro marido 33 anos mais novo (Franklin Thompson), dois filhos, quatro netos, mais de 30 novelas, 20 filmes, duas capas de Playboy – “só não fiz a terceira porque os amigos do meu filho já estavam na idade de comprar” – e todos os semanários de fofoca que contavam à flor da capa a sua intimidade à flor da pele. “Aprendi a duras penas a ficar calada e a não me expor, já falei demais na vida.” A propósito, em recente postagem no Twitter, disse que Dilma Rousseff estava gorda. “E está mesmo.” Antes de posar quase in natura para a Tpm, a equipe fez um esforço quase sobrenatural para tê-la ali. Ela, cheia de cortes, censurando geral. Chegou ao estúdio desconfiada, alerta, pose rígida, palavras duras. Parecia não querer aparecer, estar ali, numa discrição admirável em tempos de superexposição de estrelas que brilham com o flash por falta de luz própria. Recusou a produção de moda, sem intenção de vestir nada além do que já usava e, sincericídio na veia, deixou claro para o maquiador que “desconhecido nenhum mexe na minha cara”. Ela intensa, a turma tensa, a noite prometia. Não teríamos uma conversa fácil e cada assunto se tornaria um nódulo nas costas a ser massageado até desmanchar e voltar à musculatura, macia. Betty Faria, que dureza. Beleza, vamos em frente, até porque surpreendente seria se ela topasse tudo e todos a qualquer custo só pela fama, já que a sua nasceu antes de Andy Warhol amaldiçoar o mundo com os 15 minutos de cada um de nós. Nada em Betty, discurso e recurso, é de uma atriz de nova era. “Não gosto de dizer que ‘sou de um tempo’, mas as coisas mudaram muito na televisão. Quando vejo uma atriz deitada num sofá de camarim esticando a perna para alguém tirar a calça eu me lembro que trocava de roupa em Kombi, sabe? Nessa hora eu medito, não falo ou penso nada. Como tudo na vida é causa e efeito, prefiro ficar quietinha.” Budista desde 1996, com cabeça feita na umbanda – “tenho Xangô de frente, muita ferramenta para sapatear por aí. É que eu não gosto do esporte mesmo” –, Betty está de alma lavada com a volta às novelas dois anos depois de Avenida Brasil, onde roubou a cena como a mãe carraspana de Carolina Ferraz. Em Boogie oogie, trama das 6 ambientada nos anos 70, quando Betty na vida real era escultural, quase ficção científica – “não tenho a menor saudade daquela época, acho nostalgia uma chatice” –, ela experimenta a retomada de uma carreira sólida que parecia ter desmanchado no ar quando foi afastada da Rede Globo, em 2001. “Na época, fui chamada por um executivo da TV Globo, o Ary Nogueira, que já conhecia havia anos. E ele me disse: ‘Nós não vamos renovar o seu contrato por falta de produtividade’. Tinha contratos emendados havia 30 anos. Não sabia o que era ficar desempregada. Lembro de ir para o estacionamento do Projac e achar que ia enfartar. Aquilo foi duro, uma porrada. Não sei como sobrevivi”, conta. “Mas acho que serviu para depurar o meu espírito, porque acho que sou uma pessoa melhor hoje. Também, ou você melhora ou vira uma peste. Me tornei uma pessoa melhor. Quem me prejudicou está perdoado. E peço perdão a todos a quem fiz algum mal ou prejudiquei. Perdoar é uma delícia!”.
Eu queria começar com uma coisa que você diz: que você negocia com a vida o tempo todo.
Eu negocio. A frase budista que me agrada muito é: transformar o veneno em remédio. É uma maneira de negociar com a vida, né? Uma coisa que é aparentemente ruim e você negocia de uma forma que descobre as coisas boas que pode tirar disso.
Como você chegou nisso?
Sou budista há quase 20 anos. Budismo de Lotus, de um cara muito bacana, Nitiren, que viveu em 1200 e pouco. Ele refez as escrituras de Buda e é a coisa mais moderna que tem, o tempo todo em cima de causa e efeito. Como é que você faz causas? Com pensamentos, palavras e ações. Aí você tem os efeitos. Você passa a ter consciência de pequenas coisas no dia a dia que podem ter efeito negativo ou positivo. Então você procura fazer a sua mudança interna diária.
Que outros tipos de negociações você faz com a vida?
Ah, em qualquer tipo de dificuldade, tirar sempre um saldo positivo. Ou um ensinamento. Ou uma prova de fé, de que você pode realmente melhorar uma coisa, conseguir uma coisa. Eu já vinha buscando em outras religiões, mas me encantei com a filosofia, com a não proibição. Porque eu sou muito rebelde, contestadora. Se você faz alguma coisa que não seja boa pra você, ninguém tem culpa. Você que tem que assumir o que você faz. Isso me agrada, não tem punição.
Você sempre foi contestadora?
Sempre... Eu sabia que não queria ter a vida da minha família, dos meus pais. Eu queria um outro mundo, uma outra coisa. Isso desde criança.
Seu pai era militar. Sua casa era muito careta?
Bem rígido. Mas ele me deu uma noção de disciplina e valores morais e humanos muito firmes, muito bons. E quando me viu engrenando na profissão ele foi aos poucos dizendo que eu ia morrer de fome.
Você tem irmãos?
Não, sou filha única.
Era bom ser filha única?
Era horrível. Eu ficava de olho comprido pras pessoas que tinham irmãos. Filho único aprende a ser só desde cedo. A batalhar suas amizades. Mas eu lido muito bem com isso. Vivo sozinha.
Você é solitária?
Não. Mas eu gosto de ter meu espaço, não preciso de gente o tempo todo. Eu adoro meus amigos, eu adoro sair, adoro receber meus amigos em casa. Mas eu basicamente sou uma pessoa que vive só.
Você é solteira?
Solteira. Eu não gosto de casamento. Mas foi casada. Mas não sou uma pessoa casadora. Meus casamentos duraram pouco.
Deram a você dois filhos, né?
Sim, claro. Dois casamentos felizes. Mas nunca fui de querer ficar casada. Ficava sempre com uma necessidade de liberdade, de fazer outras coisas. O casamento tem muito assim: “Ai, meu bem, o que vamos fazer?’’. Eu não tenho muito isso [risos]. Eu sempre briguei pela liberdade, né? Por ter esse temperamento rebelde, contestador. Com uma família burguesa, classe média, pai militar, comportamento rígido. Sempre briguei muito com isso tudo.
Você saiu de casa cedo?
Eu fugi de casa várias vezes na infância. A primeira fuga foi com 4 anos de idade. Meu pai servia numa vila militar em Lorena [interior de São Paulo] e eu tinha ido ao circo. Fiquei apaixonada pelo circo, queria aquela vida. Aí um dia, acho que eu estava aborrecida em casa, minha mãe foi tomar banho e eu pulei o muro, atravessei a estrada. Lá longe tinha um circo. É claro que levei uma surra no meio do caminho, quando ela me descobriu [risos]. Mas sempre tive essa necessidade de ir pra outro lugar. É como se eu fosse procurar minha turma, entende?
E quando você encontrou sua turma?
Comecei a encontrar minha turma através do balé. Porque eu estudei muitos anos de balé clássico. E com 15, 16 anos tinha uma bailarina do Teatro Municipal, a primeira bailarina, Sandra Dicken, que formou um grupo de moças que faziam um show todo sábado. Ali eu fui me enturmando, fui bailarina, conheci pessoas. Com 18 anos eu já fiz teste pra um programa de televisão que tinha umas danças modernas e era dirigido pelo Geraldo Casé, pai da Regina Casé. Fiz o teste e entrei. Depois procurei cursos de interpretação, porque eu queria ser uma atriz que cantasse e dançasse. Mas isso foi uma batalha doméstica...
Seus pais queriam que você fosse o quê?
Meu pai queria que eu fosse médica. Até que eu tinha jeito. Eu tenho jeito [risos]! Mas eu gosto mesmo é de representar, fazer minhas cenas.
Sua carreira começou nos anos 60?
Sim, comecei a trabalhar em shows.
E o cinema, como começou?
O primeiro filme que eu participei foi em 1964. O beijo, do Nelson Rodrigues. Sou louca por cinema. Foi a minha base, minha cultura em Copacabana. Minha avó sempre me dava um dinheirinho para eu ir ao cinema. Eu vou ao teatro, mas o que eu mais gosto de fazer é ir ao cinema.
TV? Você está de volta à Globo, fez uma participação em Avenida Brasil...
Adorei aquilo. Foi uma beleza, fiquei apaixonada. Eu já era fã do João Emanuel Carneiro, o texto que ele coloca na boca da gente... é uma coisa muito boa.
Era pra ser uma participação pequena, né? Conquistar um papel assim é uma vitória?
Você acha que existe preconceito, menos espaço para atrizes mais velhas? Não, não acho isso... É que muitas histórias são baseadas em pessoas mais jovens. Os protagonistas, em geral, são jovens. Acho que é assim na grande indústria cinematográfica de Hollywood, acho que é assim em todos os lugares [risos].
Você tem nostalgia? Saudade de trabalhos que você fez?
Não, eu não sou uma pessoa de “ah, naquele tempo’’. Isso não existe comigo. Eu posso ter saudade de... de um filho bebê, né? De um neto bebê. De um “oh, que delícia, aprendendo a engatinhar”. São coisas que custei tanto a ter, sabe? Mas também passa e foi um outro momento. E são pessoas que cresceram maravilhosas. Sorte a minha.
Você tem quantos netos?
Quatro netos. A Alexandra [filha dela com o ator Claudio Marzo] tem uma filha e o João [do segundo casamento de Betty, com Daniel Filho] tem três.
No ano passado teve a história de você na praia, de biquíni, e toda a polêmica. Foi uma reação maluca, né?
Eu tava tão feliz no dia dessa foto. Eu tinha ficado doente, 15 dias de cama. Daí eu olhei o mar, estava lindo, um dia lindo. Coloquei meu biquíni, minha canga e fui dar um mergulho. Foi tão gostoso que aquele dia eu peguei jacaré de peito. Eu sou de Copacabana, aprendi a pegar onda no peito. Desci na onda feliz da vida, levantei puxando sutiã, puxando a calça. Quando voltei, comecei receber telefonemas do meu empresário. Disseram: “Tão detonando você’’. Uma outra pessoa careta disse: “Oh, você precisa se proteger’’. Daí fui ler as coisas, as pessoas detonando. Acho que queriam que eu tivesse a imagem da Tieta forever. Que eu fosse a gostosona. De repente eu era uma coroa de biquíni caindo na água. Mas transformei o veneno em remédio, a meu favor. Há pouco tempo eu estava andando na praia e veio uma senhora de biquíni e falou: “Ó, eu tô assim por tua causa, hein?’’ [risos]. Então serviu pra alguma coisa, né?
É difícil lidar com a patrulha?
É normal. Os homens, os atores, eles ficam velhos, barrigudos, papudos e as mulheres dizem: “É, mas ele ainda é muito charmoso, é gostosão’’. Mas em cima da mulher é: “Porra, que baranga! Caiu mesmo, hein?’’. As pessoas envelhecem, né? E aí, vai ficar de burca? Encabulada, com vergoinha? Eu estava tão feliz pegando minha onda de peito. Sabe o que é descer na onda de peito? É uma delícia.
Você sempre lidou bem com seu corpo? Soube que uma vez você ia posar nua e seu filho se irritou porque os amigos dele iam comprar...
Ele morria de vergonha na época. Disse: “Se ela quiser, vai ter que pagar estudo de dois anos nos Estados Unidos, porque eu vou sumir daqui’’. É claro que eu não fiz.
Por ele?
Lógico.
Mas você já tinha posado antes [Betty foi capa da Playboy em 1978 e 1984]. E não tinha uma conotação tão sexual...
Não, eu fiz fotos muito bonitas. O último [ensaio], lembro que foi o Antonio Guerreiro que fez, o material era muito bonito, muito classudo.
Você posaria de novo?
Não. Eu acho que tudo tem época, tudo tem idade. Tudo tem fase. Registrei o momento da minha vida, é bacana. É isso.
Você está solteira. Não sente vontade de ter alguém?
Eu não falo da minha vida particular, dos meus segredos, da minha particularidade. Porque o fato de eu estar solteira não quer dizer que eu não tenha alguém, que eu não namore, esse tipo de coisa. Eu aprendi a duras penas, a duras penas... eu não falo.
A duras penas por quê?
Porque teve épocas na minha vida, de sucesso na carreira, em que eu me expus. Bobamente. E hoje tenho muito cuidado com isso. Já que eu não assumo um casamento que não me agrada, já que eu assumo minha liberdade total, meu direito de fazer o que eu bem quero... Eu preservo isso e não falo da minha vida particular, da minha intimidade. Não falo mesmo. Sou uma senhora, avó de quatro netos. Não quero que encham o saco dos meus netos: “Hum, sua vovó, hein?” [risos].
Sua filha (Alexandra Marzo) foi atriz e parou. Seu filho nunca foi do meio artístico?
Poderia ter sido, né? Mas acho que ele foi inteligente de fugir. Porque os filhos sempre foram muito visados, muito cobrados. Nunca foi fácil ser filho de famosos, de artistas.
E você conseguiu protegê-los do assédio?
Sim, e continuo. Claro que pela vida, de repente, acontece um escândalo ou outro. Mas são páginas viradas. Ninguém tá limpo.
Você ainda tem pique pra trabalhar com novela, num ritmo intenso?
Tenho muito prazer, você não faz ideia! Agora eu tô em Boogie oogie e tem um elenco delicioso, uma equipe maravilhosa. Diretores que eu gosto, que gostam de mim. É uma felicidade. Sou de televisão. Sei fazer, gosto, me dá prazer. É bom trabalhar, encontrar colegas, interagir. Hoje posso dizer sem vergonha que não tô sentindo falta de fazer teatro. Sinto muito prazer em fazer televisão. E cinema, adoro. Espero que apareça um papel bacana pra mim.
Você tem perfil no Instagram?
Não, no Twitter. E tinha um blog, mas parei de escrever.
Foi lá que você disse que a presidente estava gorda?
E tá gordíssima. Caíram em cima.
Qualquer coisa que você fale do PT caem em cima... Eu parei de falar.
Mas do PT? Falar que a presidente estava gorda? Qualquer coisa que você fale tem uma reação forte nas redes sociais.
Você já foi petista, como muitos atores?
Já fui, anos atrás. Eu acreditava. Quando comecei a ver alianças que não tinham nada a ver, acendeu a luz vermelha. Fui vendo cada vez mais que era muito diferente do que tinha sido um dia. Mudei completamente. Acho voto obrigatório uma droga, sabe? Eu sou totalmente contra o voto obrigatório. O voto é uma coisa muito séria. Você ser obrigado a votar em alguém não é legal. Você tem que acreditar, né?
E você acredita em alguém?
Não. E não preciso mais votar, já sou da terceira idade. Uma pena, porque eu gostaria de acreditar. É incrível, todas essas campanhas políticas... ninguém fala que vai melhorar hospital, já reparou? Esses hospitais vergonhosos Brasil afora e ninguém fala. É muito sério.
Você fuma?
Desde os 13 anos de idade. Já parei algumas vezes. E agora eu fumo pouco.
E drogas? Você nunca foi da loucura? O desbunde, a transgressão, sempre foi quase que obrigatório no seu meio.
Não. Eu sempre tive um lado construtivo, né? Um lado saudável, sempre fiz muita psicanálise... porque todo mundo tem um lado B, né? [Risos.] Não pode deixar o lado B tomar conta.
Como é seu lado B?
Meu lado B era genioso, impulsivo. Eu era muito impulsiva. Às vezes nas palavras, às vezes nos atos, às vezes na vontade de fazer o que pensava e o que queria sem pensar no outro. A impulsividade nesse sentido vira arrogância, entende? Dizer verdades, fazer o que eu quero. É uma arrogância. Você não pensa no outro. Isso é o lado B.
Você deixou de ser assim?
Acho que tô muito melhor como pessoa, venho negociando isso muito bem. Eu sou rebelde, não me conformo quando dizem “tem que ser isso’’. Tem que ser isso por quê? Eu sou uma pessoa contestadora, mas a minha contestação hoje é construtiva, não destrutiva.
Você já foi muito destrutiva?
Acho que sim... em coisas da minha vida particular, conjugal.
Sua vida conjugal foi muito conturbada?
Meu primeiro casamento, sim. No segundo... a separação foi. Essa história de as pessoas dizerem: “Eu não me arrependo das coisas que fiz’’, eu acho uma burrice da porra! Porque se você não se arrepende você vai continuar fazendo merda [risos]. “Me arrependo, sim, fiz errado, sou uma bosta’’, como não dizer isso? Errei a mão, não agi legal, passei por cima da pessoa, essas coisas. Se você não revê, não vê as causas negativas do que fez. Estou encantada com essa mulher que eu faço agora [em Boogie Oogie], totalmente do bem. Ela tenta transformar as situações, passa coisas boas. Nesse momento tão ruim, de violência, de guerra, de hipocrisia, de politicamente correto.
A própria história da praia. As pessoas passam a vida dizendo que o Rio é mais democrático, que a praia é pra todo mundo, que todo mundo se encontra na praia independentemente de classe social. Aí você aparece de biquíni e a reação é aquela.
Sábado eu tive uma tristeza tão grande... cheguei na janela e tinha três policiais mijando na areia da praia. Aquilo me deu uma tristeza! Um lugar em que a gente tinha liberdade de jogar a canga no chão e dar um mergulho... virou isso. Polícia na praia! Arrastão no fim de semana.
É última fronteira.
A gente passava lá no Posto 8, nas dunas, fumava um beque no fim da tarde olhando o sol... Caramba. Triste de ver polícia na praia. Sensação esquisita que me deu.
Você vai menos à praia agora?
Ah, certamente... Vou olhar dez vezes antes de descer. Eu já não iria num dia de praia cheia mesmo, gosto de dar uma caminhadinha na areia molhada, em dia de semana. Quando você faz novela, querendo ou não as pessoas mudam com você. As pessoas estão te vendo. Quando você fica sem fazer é “olha lá fulano”, mas é diferente de quando você está no ar.
Como você lida com isso?
Sempre lidei muito bem. Aprendi a lidar porque fizemos novelas de muito sucesso, não tinha cable. Era 80, 90 pontos de audiência. Eu ia ao colégio dos meus filhos, participava de reunião de pais, sempre procurei ser uma mãe normal. E para isso tem que baixar o personagem da pessoa normal, não pode ficar de estrela.
Você nunca teve um temperamento de estrela, no mau sentido?
Muito pelo contrário, sempre fui cuidadosa com isso. Eu gosto de fazer o meu trabalho. Eu tô lá por prazer, então tudo fica bom... Talvez eu falasse muitas verdades quando não era perguntada e o excesso de franqueza vira uma arrogância, né?
E você tinha esse excesso de franqueza?
Tinha. Eu tinha uma arrogância.
Você lembra de algo de que se arrependeu? Algo no seu casamento?
Ah, várias coisas. Mas sobre vida particular eu tomo muito cuidado. Casamento envolve outra pessoa. Meus dois ex-maridos oficiais são famosos.
Você tem uma relação boa com eles?
Tenho uma relação boa, cordial. Acho que, se você não roubou dinheiro dos maridos, se criou seus filhos com dignidade, se trabalhou e teve sucesso... Eu nunca pedi dinheiro pra ex-marido, eles davam o que eles queriam para os filhos e pronto. Nunca fiz sacanagem, essa coisa de mulherzinha escrota que diz: “Você tem que dar pensão”, essa porra toda. Hoje eu vejo que isso foi uma bênção. O Claudio é avô da Giulia e o Daniel, da Valentina, do João Paulo e do Antônio. Existe um respeito muito grande.
Você é muito brigona ainda?
Não! Eu consegui domar o meu gênio taurino. Primeiro, aprendendo a não deixar nada passar do limite. Segundo, lidando com as coisas com sabedoria. Se as coisas me aborrecem, eu faço o mantra básico do budismo para ter serenidade e sabedoria. Depois eu escrevo pra você, para botar na sua matéria. Isso dá boa sorte, energia vital. E é física quântica. O que mais você quer saber? Você tá gostando?
Eu tô, você tá?
Tô.
Fico com medo de invadir a sua privacidade.
Eu sou bem treinada, sei muito bem onde eu não quero que entre, que é a minha vida familiar, a exposição dos meus ex-companheiros. Eu também tive um outro companheiro [o ator Franklin Thompson], que não foi oficialmente marido porque eu não tive filhos. Era um rapaz 30 anos mais novo do que eu. Foi o que eu fiquei mais tempo, quase cinco anos.
A que você atribui ter ficado mais tempo com ele?
Primeiro de tudo, paixão total. Depois, maturidade sentimental. Acabou porque acabou, as coisas acabam. Mas foi outro marido que eu tive, não posso deixar de falar.
E muitos namoros?
Muitos. Eu gosto de namorar.
Você falaria de nomes de quem você namorou?
Não, nada. Sou supercome-quieto [risos]. E isso dá uma credibilidade, viu? Fica bacana.
Quem são seus amigos?
Ah, eu tenho amigos. Mas não dá pra falar. Fala de uns, esquece de outros, aí um fica injuriado.
Tem melhores amigos? Se você tivesse que esconder um cadáver, para quem você ligaria?
Ah, para uma amiga minha.
Você vê televisão?
Muito. Eu gosto! Eu gosto de ver novela, gosto de ver série... Adorei O rebu, adorei O caçador.
E gosta de se ver?
Não! Eu tenho um senso crítico horroroso. Tô consoladíssima, porque soube que a Maggie Smith, que é uma fera de atriz, também tem o senso crítico horroroso. Ela se recusa a ver. Eu não me recuso, mas... entende?
Acabou de passar Água viva, no canal Viva. Você pensa “eu era bonita e devia ter aproveitado mais”?
Não. Foi tanta coisa, né? Lindo trabalho. Bonito trabalho que nós fizemos. Eu fiz muita coisa na TV. Fui fazer o programa da Angélica. Não acreditei quando eu entrei. Era pôster, fotos, tantos que pensei: “Como fiz tudo isso e não sabia?”. Saí muito emocionada. E não sou uma mulherzinha que chora à toa, pelo contrário, detesto isso. Sou mais de chorar com os personagens... Eu sou uma mulher de televisão. E de um tempo em que tudo era feito sem tanta estrutura... A gente gravava na rua, não existia cidade cenográfica. Tenho histórias muito engraçadas. Fiz uma série do Aguinaldo Silva em que a mulher trabalhava em um inferninho em Caxias. E a gente não tinha ônibus-camarim ainda, isso é um luxo que temos hoje. Hoje tem até banheirinho. Eu me lembro de a camareira arrumar uma lata de lixo pra eu fazer pipi na Kombi, pra não ir no banheiro do inferninho de Caxias! Quando ouço pessoas jovens se queixando, pessoas que não sabem o que a gente viveu, tenho que apelar pra benevolência budista. Hoje a coisa é um luxo, cidade cenográfica, camarim com ar-condicionado. Quando vejo jovem reclamar, tenho vontade de mandar tomar no cu com areia!
Você já fez plástica, né?
Já e tive que me afastar da TV por um tempo por causa de uma plástica errada. Me indicaram uma mulher no Rio Grande do Sul que prometeu preencher minhas rugas definitivamente, que ia ficar perfeito, nunca mais precisaria de plástica na vida. Na hora, ficou uma maravilha. Custou uma fortuna. Seis meses depois, meu rosto começou a embolotar, fiquei deformada. Comecei a recusar trabalhos pelo telefone, não queria que ninguém soubesse. O [cirurgião plástico Ivo] Pitanguy, quando viu, quase me bateu: “Como você faz uma coisa dessas? Atendo travesti na Santa Casa que morre por causa disso. Você está com silicone vagabundo”. Marcou uma cirurgia que durou 5 horas.
Envelhecer é difícil?
É uma merda envelhecer, se ver envelhecendo, mas tirei dessa história [da plástica] uma lição maravilhosa. A ditadura da beleza, da juventude, não vem dos outros, vem da gente. Me livrei disso, quero ter a cara que eu tenho, quero fazer bisavó, tataravó, quero trabalhar com o corpo e o rosto que eu tenho enquanto estiver na Terra. Fora que sempre fiz papéis populares, sempre gostei. Se ficasse espichada não poderia ter feito metade dos trabalhos que fiz.