Sunday, March 22, 2015

JORGE AMADO DE VOLTA ÀS TELONAS EM “O DUELO” (por Carlos Cirne)


(publicado originalmente em Colunas & Notas)


Um novo morador de uma casa à beira de um penhasco, defronte o mar, chama a atenção dos habitantes da pequena Periperi, no interior de algum estado do Nordeste brasileiro, não especificado. 

O que chama a atenção (além do fato de ser um forasteiro, claro) são sua mobília e aparência, que remetem à vida no mar. 

E, segundo as histórias que ele começa a contar, é exatamente isto: trata-se de um Capitão da Marinha Mercante, que se retirou na cidade, que lhe lembra muito Rasmat, uma ilha do Pacífico onde morou por alguns meses, como náufrago.

O Comandante Vasco Moscoso de Aragão – o ator português Joaquim de Almeida, que quase consegue vencer a inglória batalha contra o sotaque lusitano, tornando-se compreensível – chega a Periperi e, paulatinamente, vai aumentando o círculo de interessados em suas histórias sobre os sete mares, terras e mulheres exóticas, tempestades e naufrágios. 

E este interesse fere os brios do outrora centro das atenções locais, o rábula Chico Pacheco – José Wilker, em um de seus últimos trabalhos, divertido como sempre, principalmente quando parte para os ataques mais frontais ao forasteiro. 

Desconfiado de que as histórias de Vasco são elaboradas por demais, Chico parte para a Capital do estado para tentar descobrir as origens de Vasco, e até que ponto o que conta é mesmo verdade.


Divertida discussão sobre o mito e a verdade, O DUELO, baseado na obra “Os Velhos Marinheiros”, de Jorge Amado, tem como grande trunfo deslocar o sotaque regional que as obras de Amado geralmente carregam, para uma leitura mais universal da alma brasileira, sem perder o sabor do livro original. 

O responsável pela façanha é o curitibano Marcos Jorge, diretor do premiado ESTÔMAGO (2007), que além de dirigir também roteiriza o longa com uma leveza raramente vista no cinema nacional.

O respeito à obra de Jorge Amado, porém, não inibe o diretor de experimentar – na maioria dos casos com bastante sucesso – na encenação. Pirotecnias visuais são mais perceptíveis nas cenas em que Vasco conta suas aventuras pelo mar, com um bordel “invadindo” um velório de maneira muito engenhosa e orgânica. 

Obviamente, nem sempre o artifício funciona plenamente, mas mesmo assim é muito divertido. 



A presença de grandes astros do cinema e da TV brasileiros também ajuda a cativar ainda mais o público, com aparições de Castrinho e Milton Gonçalves, além de Patricia Pillar e Claudia Raia, as cerejas do bolo, claro.

Aliás, a presença de Claudia Raia é muito divertida na medida em que, dependendo de quem conta a história, sua participação muda radicalmente de rumo, repare.

O que pode apenas causar uma pequena confusão é o estranho partido adotado na concepção visual do filme, onde a direção de arte e os figurinos parecem ter sido propositalmente deslocados no tempo, pois o filme parece ser ambientado em princípios dos anos 1960 e, estranhamente, objetos, veículos e roupas dos anos 1950, 1960 e até 1070 desfilam pelo filme sem muita cerimônia. 

Se foi proposital, para criar algum tipo de ruído, deu certo.



Mas, de qualquer forma, a segura direção de atores, e a deliciosa história criada por Jorge Amado e tão bem traduzida por Marcos Jorge, valem a vista a este provável sucesso do cinema nacional. 

Sem falar na homenagem ao talento de José Wilker, em sua última aparição inédita nas telas. 

Não perca!



O DUELO

(2014, 109 minutos)

Direção
Marcos Jorge 

Roteiro
Marcus Jorge
baseado no livro "Os Velhos Marinheiros"
de Jorge Amado

Elenco
Joaquim de Almeida
José Wilker
Patricia Pillar
Claudia Raia
Marcio Garcia
Tainá Müller
Jarbas Homem de Mello
Milton Gonçalves
Castrinho

Distribuição
Warner Bros. Pictures



  Em cartaz no Iporanga 4 
e no Cinespaço Shopping Miramar




2 comments:

  1. Complementando a postagem

    Velhos Marinheiros tem duas estórias
    - O Capitão de longo curso
    - A morte, e a morte de Quincas berro d`água

    O filme é uma adaptação da primeira estória

    Peri Peri é uma enseada baiana, de pescadores, próxima a Salvador

    Apesar da dúvida se Vasco Moscoso de Aragao é ou não capitão de longo curso, a resposta é não.

    Georges Dias Nadreaux (existiu na vida real, era amigo de Amado) é quem da o título a Vasco, que era o único da turminha do bordel que não tinha título.

    Uma excelente estória, pra mim a melhor de Amado.

    Ainda não vi o filme, mas irei ver.

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  2. Complementando a postagem

    Velhos Marinheiros tem duas estórias
    - O Capitão de longo curso
    - A morte, e a morte de Quincas berro d`água

    O filme é uma adaptação da primeira estória

    Peri Peri é uma enseada baiana, de pescadores, próxima a Salvador

    Apesar da dúvida se Vasco Moscoso de Aragao é ou não capitão de longo curso, a resposta é não.

    Georges Dias Nadreaux (existiu na vida real, era amigo de Amado) é quem da o título a Vasco, que era o único da turminha do bordel que não tinha título.

    Uma excelente estória, pra mim a melhor de Amado.

    Ainda não vi o filme, mas irei ver.

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