Friday, September 15, 2017

COISAS DO BRASIL - DIA DA INDEPENDÊNCIA (por Álvaro Carvalho Jr)



Corria o animado ano de 1984. Um  jovem, no seu primeiro emprego, começando a vida, 25 anos apenas, via-se enrolado com a Polícia Federal por desvios no Banco do Estado da Bahia. Seu nome era Geddel Vieira Lima, filho de Afrísio Vieira Lima e Marluce Quadros Vieira. Foram precisos 33 anos para que, finalmente, o agora maduro e conhecido meliante batesse com as costas na cadeia, por determinação do Juiz da 10ª vara Federal de Brasília, Vallisney Oliveira.

Na sua justificativa para a prisão preventiva, o juiz demonstrou que ao longo desses 33 anos talvez tenha sido o único que entendeu o comportamento marginal do filho de dona Marluce:...“reitera na atividade delituosa de lavagem de capitais e outros delitos de forma sorrateira”. Interessante a utilização dessa palavra -– “sorrateira” -- ou seja, aquele que age escondido, de maneira vil, age pelas caladas, matreiro, dissimulado, disfarçado. Um canalha, enfim.

E o Juiz tem razão. Ao longo dos anos que vieram pós 1984, Geddel Vieira Lima sempre esteve ligado a alguma coisa ilegal, irregular. Em 1994, lá estava ele envolvido com a máfia dos “Anões do Orçamento”, quando seu nome apareceu em um papel encontrado na casa de um ex-diretor (adivinhem...) da Odebrecht com um número sugestivo, 4%. Acabou inocentado, mas aqueles eram outros tempos. Envolvido na política, usava com sapiência e inteligência (como todo bom meliante...) o tal fôro privilegiado, uma maluquice que nossos políticos inventaram e que os livra de uma série de problemas. Basta se eleger para qualquer coisa e lá está o manto protetor.

Tempos depois, já como Ministro da Integração Nacional, foi abertamente acusado de direcionar altas verbas do ministério para aliados políticos, como se o dinheiro público pudesse ser usado ao bel prazer de quem está no poder. Fica claro, portanto, que se há algo que Geddel pouco liga é a moral, a ética, a honestidade. Aliás, isso parace ser um DNA familiar. Seu irmão,  Lúcio Vieira Lima (PMDB), está atolado até o pescoço com a dinheirama encontrada no tal apartamento em Salvador onde as digitais de Geddel foram encontradas pela Polícia Federal. Mamãe, Marluce Quadros Vieira Lima, recebe a mixaria de R$ 26 mil da Caixa de Previdência da Assembléia do Ceará, onde seu marido, Afrísio, atuou por 16 anos. Uma aposentadoria de dar inveja a qualquer um...

Mas, de qualquer forma, da tragédia é preciso se tirar uma lição. Antes de qualquer coisa, fica claro que este País é uma verdadeira balbúrdia. Foram precisos 33 anos para que uma denúncia anônima indicasse os tais R$51 milhões, grana viva, para a Polícia Federal. Durante esse longo período nenhum orgão público, Receita, Polícia, Procuradoria ou seja lá o que, conseguiu prender o meliante, mesmo com seu nome aparecendo regularmente nas páginas policiais. O nosso País parece casa sem portão, onde todo mundo entra faz o que bem entende e sai. Na verdade, uma grande e ignóbil avacalhação.

E a coisa fica pior se considerarmos que 23 anos atrás o nome Odebrecht já aparecia no meio da lama. Lá estava ela distribuindo bilhetinhos com os números de comissões para marginais. Mais um vez, nenhum orgão do governo se preocupou em checar, investigar e abrir inquéritos contra esse cancer terrível que é a corrupção. Não tenho a menor idéia de como as coisas ficarão daqui para a frente, particularmente depois que o ex-presidente boquirroto foi acusado por seu braço direito, o popular “Italiano” nas planilhas de Odebrecht (sempre ela...), mas a reação da população no desfile de 7 de setembro em Brasília, quando aplaudiu de pé a caravana da Polícia Federal, mostra a necessidade que o povo tem de um País correto, sério e sem ladrões.


A carência foi escancarada na rua, num dia de sol e diante de todas as “autoridades” que estavam no palanque oficial. Prova que nossa população é honesta e aposta no melhor. Se será atendida, não podemos confirmar. Porém, desapontada ela poderá ter reações surpreendentes. Prefiro apostar em dias melhores, apesar da espera cruel...

Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado
e trabalhou para vários jornais e revistas
ao longo de 40 anos de carreira.
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quando quer e quando sente vontade,
pois, como dissemos acima,
Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado.



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