Wednesday, September 13, 2017

SEM ÁCIDO ÚRICO E SEM GRAVIDADE (uma crônica de Marcelo Rayel Correggiari)


A vantagem de se ter uma família de leitores(as) é jamais passar perrengue sobre o que escrever na semana seguinte.
Meu irmão dá umas sapecadas de (Luigi) Pirandello, por exemplo... e uma penca de páginas sem pé, nem cabeça, em famigerada rede social. Porta adentro da sala, compartilha conosco uma notícia que viu no WikiCiência.
Nada espetacularmente fora-do-comum: um desses vídeos da Nasa com uma tripulação falando sobre o dia-a-dia a partir de uma estação espacial. Um troço pouco criativo e trepidante. Trepidante... trepidante mesmo, foram, como sempre, os comentários.
O que corrobora a velha máxima de que o brasileiro lê muito... redes sociais. Ninguém, necessariamente, indaga o que se lê: pouco importa o conteúdo.
Meu querido irmão foi atrás de comentários vindos de algum terraplanista. Nada constava. Há um grupo significativo, hoje, de pessoas que consideram que a Terra é plana (e a boa e velha anedota de que até o nome indica que ela seja plana: Planeta. Se fosse redonda, chamar-se-ia “Redondeta”).
Sim! Utilizamos mesóclises nessa Mercearia!
Até mesmo esse plano merceeiro já teve uma experiência estranha em torno do embate ‘Terra redonda X plana’: em Groomsport, Irlanda do Norte, assim como em Bellyhome, é possível se ver a Escócia do outro lado do canal, e parte de suas montanhas. Se a Terra tivesse mesmo alguma curvatura, ver-se-ia ‘as alterosas’ do meio até o cume, e não desde o sopé.
Ou alguém errou o cálculo da curvatura da Terra, ou a Terra realmente é plana.
Encerrando esse breve tergiversar, voltemos aos ‘comments’ da postagem de vídeo.
Muitas perguntas sobre detalhes pouco nobres da fisiologia humana. “Como é que aperta a descarga?!”, por exemplo. Realmente, é de se imaginar: fezes largando o esfíncter e se enfronhando em algum canto de equipamento da espaçonave. Teria cheiro?!
O comandante aborrecidíssimo no seu relatório diário: “ (...) Tem merda ‘pra’ todo lado... (...)”. Esqueçam as metonímias...
Outra indagação feita nos comentários seria no caso de rolar uma ‘transação’. A ereção deve funcionar sem grandes sustos... ou não?! A pressão arterial e circulação sanguínea colaborariam?! Vai saber, ‘né’?!
Sem gravidade, é possível completar o álbum de figurinhas do Kama Sutra sem maiores danos para juntas ou ligamentos dos joelhos. Outro questionamento é se a parte ativa do ‘embate amoroso’ realmente precisa “... ter pegada...”. Tudo indica que sim: afinal, fica chato a parte passiva da cópula ir parar no outro lado do cômodo quando mal começaram os ‘primeiros movimentos da partida’.
Uma sugestão seria o método “carezza” para se dar bem numa hora como essa, o que gera uma outra pergunta se pompoarismo funciona sem gravidade.
Deve rolar... pensamos... quem sabe?!
O que, de longe, permite afirmar que, por medo ou traumas, os romances em locais onde há gravidade são ultimamente tão fugidios, tão sem o compromisso de ‘gostar de alguém’, que muito se assemelham a relacionamentos em estações espaciais: envolvimento gravitacional ‘zero’.
Ou seja, de volta à Terra, corpos sob efeitos da gravidade. Já os sentimentos... não. Hummm... mau sinal (ou começo)!
Se na hora de beber água rolam aquelas bolhinhas líquidas, já se é possível imaginar o martírio de um reles xixi?! Deve ser um evento, aquelas bolhas saindo do canal da uretra, ganhando os ares do banheiro, o(a) sujeito(a) tentando catá-las para colocar de volta na privada... um troço!
O que sugestiona todos a pensar que os xixis são engarrafados: vai que uma daquelas bolhinhas se volte contra o(a) dono(a)?! Cheirar à urina o resto do dia... afff... ninguém merece!
Aliás, se os xixis sobem em ausência gravitacional, sobem também as taxas de ácido úrico?! Quais as peripécias nutricionais para manter tudo “... numa boa”?!
Concluindo, ‘posts’ em redes sociais são um saco! O que valem são os comentários...
Esse merceeiro já desistiu da campanha “Por favor... sintam alguma coisa!”, sempre no intuito de devolver a paixão à paixão. Um porre essa bosta de envolvimento sem força gravitacional alguma.
Merceeiros(as) românticos(as) só se ferram! Quando acham alguém legal, é um toró de medos, discursos tipo “Modo Avião” da Ludmilla. Puta, que saco! Há mister de se ter algum colhão para meter o pé no acelerador dos sentimentos e dos afetos.
Ô, bichinho complexo esse tal de ser humano...
Em suma, sentimentos e afetos não-gravitacionais sempre nos reservam uma jornada pontilhada de fortíssimas emoções negativas. Haja! A fim de alguém e o pezinho da pessoa em questão se direcionando com extrema precisão a ‘notre derrière’. Por mais que se tente iluminar o espírito, não há quem aguente...
Tentemos código morse... quem sabe...
Sinal de fumaça... mensageiro do século XIV... a esperança... ah, a esperança...!
Carro de mensagem com aquele áudio turbinado “... se joga, criatura!!!”, nem pensar... é muito ‘xabú’!
Enquanto isso, especulamos sobre subidas de ácido úrico em ambientes sem gravidade. Se os afetos continuarem antigravitacionais, pensamos que não sobrará pedra sobre pedra.


Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO

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