Monday, October 23, 2017

A PICA RESSUCITA A MULHER MORTA: versos sacânicos de FRANCISCO MONIZ BARRETO



A pica o instrumento é que no mundo
Mais milagres tem feito e mais proezas;
A pica o melhor traste e das belezas,
Mal que começa a lhes coçar o sundo.

A pica é o cão, que avança furibundo
A plebeias, fidalgas, e princesas;
A pica em chamas Troia pôs acesas,
E a Dido fez descer do Urco ao fundo.

É a pica – carnal, possante espada,
Que o mundo, perfurante, emenda, entorta,
E tudo vence, como bem lhe agrada.

A pica, ora e calmante, ora conforta;
Sendo em dose alopática aplicada,
A pica ressuscita a mulher morta.



Francisco Moniz Barreto (1804-1868)
nunca foi respeitado como poeta.
Natural de Salvador, Bahia,
ele publicou em 1855
dois volumes de poesias
com o nome "Clássicos e Românticos"
que foram solenemente ignorados.
Já seu talento como repentista
e sua facilidade para improvisar versos
fazem dele um talento único
na história da poesia brasileira.




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