Tuesday, October 17, 2017

ALLEN GINSBERG EM VERSOS SACÂNICOS


CANÇÃO

O peso do mundo
é amor
sob o peso
da solidão
sob o peso
da insatisfação


o peso,
o peso que carregamos
é amor.



Quem vai negar?
Nos sonhos
toca
o corpo,
em pensamento
constrói
um milagre,
na imaginação
angustia
até nascer
na forma humana--
em busca de um coração
queimando na pureza--
pois o peso da vida
é o amor,



mas carregamos este peso
fatigados,
para podermos descansar
nos braços do amor
afinal,
poder descansar nos braços
do amor.



Não há repouso
sem amor
Repouso algum
sem amor
Não há sono
sem sonhos
de amor--
enlouqueça ou trema
obsecado com anjos
ou máquinas,
o desejo final
é amor
--nada pode ser mais amargo
e inegável
e insuportável
se negado:


o peso é pesado demais


--devo dar
sem receber
como o pensamento
é dado
na solidão
na excelência
do excesso.



Os corpos quentes
brilham juntos
na escuridão,
a mão se move
para o centro
da carne,
a pele treme
na felicidade
e a alma sobe
feliz até o olho--



sim, sim,
é o que
eu queria,
sempre quis,
Eu sempre quis
voltar
para o corpo
onde nasci.


Allen Ginsberg (1926-1997) foi não apenas
o poeta norte-americano de maior prestígio
da segunda metade do século XX,
mas também o grande rebelde romântico
e poeta-anarquista contemporâneo.
Promoveu, em parceria com Jack Ke­rouac, William Burroughs,
Gregory Corso e Lawrence Ferlinghetti,
uma revolução na linguagem e nos valores literários
que se transformou em rebelião coletiva,
na série de acontecimentos revolucionários
que foi o ciclo da Geração beat na década de 50,
e da contracultura e rebeliões juvenis dos anos 60 e 70.
Ginsberg e seus companheiros da Beat Generation
romperam com o beletrismo,
o exacerbado forma­lismo que dominava a criação poética
e o bom-mocismo do ambiente acadêmico.
O Uivo, publicado em 1956, rendeu um processo
por pornografia contra sua editora, a City Lights.
(por Claudio Willer)




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