‘’
SEIS PERSONAGENS À PROCURA DE UM AUTOR.’’ – PIRANDELLLO.
Santos,
07 de maio de 2.003.
‘’
aplicabilidade, - do método.
‘making-off’
– da carpintaria’’
‘’
William Blake aplicado à dramaturgia;
Corpo
e Alma, Arte e biografia, unidade pós-moderna do real e simulacro.’’
- fractal – estrutura geométrica
complexa cujas propriedades, em geral , repetem-se em qualquer escala. Diritambo - primitivamente
- canto de louvor ao deus grego Dioniso.
- ( o Baco dos romanos ).
- composição poética sem estrofes
regulares quanto ao número, de versos e pés. Diritambos.’’
Santos,
09 de maio de 2.003.
‘’
A palavra, Tom , a palavra mesmo que excede seu elemento, - transcende, - se
redefine.
- Comecemos a leitura: seu processo e
gestação,
- ( em cabines pouco maior que um quarto
),
- ambientação imaginária, o texto ao
leitor atento e ali! (aponta) a dupla contracena quase silenciosamente. Vamos!
( mão em riste )
- leiam em conjunto uníssono.’’
[
ambientação : composição de clima adequado(...) cena literária ].
- desenformado – retirado da forma (Ô)
desmoldado. Adjetivo : ‘desenformado’.
Palavras
desenformadas. Midiático / mediático.
Ametria
– ausência ou anomalia de medida; desordem. ( trompetes / trumpetes );- nexo
entre
o
aleatório; - a palavra é um passo bem / mal dado: corre estrada.
‘’
achei o método! rever pontualmente o calhamaço, reter erros na seleção;
estrutura básica conceitual; ‘metodológica’. Poesia aplicada ao palco! Insights
ambulantes, deambulantes! Poesia cotidiana; dobrar a lírica melancolia. ‘O
MÉTODO’; fixar um ponto: desdobram-se artifícios, o nexo causal se impõe---
-----
subjetivo é tudo! ‘’
----
do método: em transe / trânsito; verdade se estabelece, consolida, na
contundência do poético ( ‘o fazer ofício’ ),- ‘práxis’ literária.
‘separa
o poema da prosa: extorquindo o romance, - torná-lo refém do conceito : desestrutura
as formas e fluem interagindo --
‘poetizar
a prosa dramatúrgica’; da ‘peça em prosa’,- poesia intrínseca.
‘’Nota
, Tom, teu canto de estudo e reflete a variedade, o que concerne à permanência,
a solidificação no punho de um brado: poetizar!
Abstrair
do vasto ou preciso conteúdo. Tom, ao cabo de tudo ,na ponta se fixa a Poesia
contida.’’
Santos,
10 de maio de 2.003.
‘’
Parece tanto Arte quanto confissão . Cedemos a deixa, - ator canhoto esmera no
efeito preciso em lado oposto. ‘’
[
‘’Deus é o eterno confidente nessa tragédia de que cada um é o herói.’’
Baudelaire.]
‘’
confissão, Tom , ou técnica de lembrança: sentir mais de novo. Trilharemos
outra vez o caminho de retorno: representamos o preenchimento desse hiato
repetido: nascimento e morte. Tom, lê muito os que amaram! Montaigne amou um
amigo, Wilde um amante,
Pessoa
o desejo de ambos juntos. Trilogia de leitura: retórica dos ensaios, exaltação
do apego, dramatização do desamparo.’’
[
‘’ Só te verei um dia e já na eternidade? Bem longe, tarde, além, jamais
provavelmente. Não sabes aonde vou, eu não sei aonde vais, Tu que eu teria amado
---- e o sabia demais.’’ Baudelaire.]
‘’
poetizar , como dizia, abstrair : leite de pedra; o romance menos linear
possível , seja até o grau do entendimento.’’
[
A BIBLIOTECA ].
‘’
Tom, - a literatura não tem ordem cronológica, é indivisível por suportes ou
narrativas, - sente isso como essa rebentação infreme? Fluxo ordenado, isso é
nota de cartório ou obituário;- literatura sem Tempo numerado / o Tempo da
literatura é de espera e arranque. Batente, chuva na calha. A literatura por
mais ordinária inspira o que sobrevêem de melhor à ela: ato, soneto, enredo,
entrecho... trama tosca / estereotipada: transporta isso ao exagero ou reduz em
Essência; (des) – tensiona - refaz. ‘Limar’, diria Borges sobre ajuste ao
imaginário, o esboço.’’
Santos,
10 de maio de 2.003.
-dizer
para o encantamento : espiralada frase correspondia / ‘tropo’
cidadania podia ser concedida por
decreto dos
atenienses; cidadão por nascimento ou
por adoção, impunha-se o registro do mesmo nas
circunscrições que constituíam a
cidade-estado: demos, trítias e tribos.
Classe censitárias
(experiência histórica); Grécia insular.
Poeta – experimento; metecos ( os que
habitam com) eram os estrangeiros domiciliados em Atenas.
coloquializar, do autor autodidata; o
escritor pleno, absoluto: diálogo ator-escritor.
@ ‘há espécies de pensadores e artistas;
o autodidata é a mais terrivelmente dura posição independente de sustentar.’
@ arte-final / arte e finalidade.
Reparos, polimento, a lima de Borges.
‘’ as duas partes de Henrique IV são
plenas de imagens que refletem a preocupação de Shakespeare com a construção’’
[ ‘a estrutura e imensa fundação da
terra].
‘’ como alguém que desenha o modelo de
uma casa.’’ -[Não fazer poesia como produto acabado, mas trocá-la por
estruturas pré-existentes / expondo a fio seus afazeres / laçando sua
dor----------- traçando
definida. O poema / método: tecer os
fios dos
desdobramentos / relêr os esboços sem importância
cronológica estreita / flexibilizar os traços / distender as imagens do poema.]
Santos, 13 de maio de 2.003.
29 de maio/ 2.003.
‘’Manual do Ator Pensante.’’
- dialogação: princípio pressuposto do
texto.
‘peça em prosa’, definição aproximada do
Diálogo.
‘commedia dell”arte, uma forma teatral do
gênero ‘comédia pastelão’, com personagens
tradicionais (Arlequim, Colombina,
Pierrô, Pantaleão) e falas improvisadas pelos intérpretes no palco.
‘’A épica e o burlesco,- estudemos a
apresentação das Formas. Burlesco como apropriação prosaica da comédia cósmica:
aurora boreal, no translúcido desse copo
azul
de vinho. Burlesco : Tom te apresento o
teatro de bolso, nas paredes escrevinho, realço a luz de retinir do plástico.
Brilho saído das cópias
mal-feitas de Campanella: toldaram a
vista de
fulgor sintético, mandando longe a luz
dos rios.
Mataram os rios quando eles mesmo entram
nas tuas cidades. A trama foi morta
como o Rio. Esquecemos que somos atuantes títeres de
infindável trama? Mutante cenário de
poeira
que se molda e toca ao contato? Salvemos
o Rio, Tom, é o princípio para caminho longo.’’
‘’Tom , ainda será possível catarse?’’
O que comove ainda? Onde lançam dardos
os condutores da Alma? Toda cena é deformação
perene de mau esboço.’’
Santos, 31 de maio de 2.003.
[
o manual a partir de Barthes, Jakobson, Stalinavsky.]
Pauline
Kael: ‘’ Esta é nova imagem do cinema americano, mostrando o jovem como um
animal belo e conturbado, tão cheio de amor e indefeso.
Talvez
o pai não o ame, mas a câmera, em compensação, o adora! A câmera oferece ao
público um produto tão irresistível, exigindo desse mesmo público exclamações
tipo --- Olhe que desespero bonito.!’’ Pauline Kael.
Sobre
James Dean, o rosto de ator, o impulso.
Adorno,
- o ator pós-moderno.
- ‘’ A interpretação ainda é necessária
, Tom?
- Até que ponto...? Tom, quem serão os
atores?
- O que será ser? Tom...’’
Santos,
03 de maio de 2.003.
‘’a
locução, o vocativo, o enunciado construído ao ser dito / re-‘dizido’; o poema
na narrativa ou tragédia se empresta de boca-em-boca : numa se redime dos excessos e
deficiências: Tom!
Molda
a frase, mas lembra que antes de ti ela já não foi tua! Não pertencimento é a
regra! Toma emprestado como doença de que se cura com purgante! Toma retendo
sem lamúria, nem ‘desdizeres’.’’
[
a sopeira dispõem-se sem gênero , irreflexiva, “‘existente ‘ na ‘ocorrência’].
‘formalista’ ou ‘conteudista’ , aprecio que leia Jakobson e o mestre
Constantin; perdoa-se mais autor sem erudição que ator nada lido ou
perscrutador! Tom, guarda a aura, não te expõem muito além das milhas do palco!
Os meios de apresentação variegados fazem-te perder Alma!
O
vôo, o baile, a foto em mau recinto, a revelação definitiva de amor : deixa- te ator quando assim te apresenta.
Liuba ou um Montéquio de pileque causa menos dano que a perda do fausto no
prazer mundano. Um ator deve ser só por convicção ou por verdadeiro sofrimento.
Casar?
Isso
é para os principiantes religiosos? A representação bem feita e observada só
tem paralelo à física quântica em valência e incerteza!
Nada
mais verdadeiro que teu fingimento, portanto finge necessário ou sem mais
acompanhamento...’’
[
linha de ação contínua].
‘’O
excesso de exposição soa justificação; não demonstra, mostra. Confessar,
assumir é para bandidos: na verdade, ‘denota’ atuando , sendo no momento.
Lembra, o ator pela voz do escritor é que mais se aproxima de qualquer
possibilidade ou aproximação. Tudo se coloca para adequação do personagem.’’
‘’
Há tautologia nesse impasse contemporâneo: atuar, interpretar, Jimmy, é fundir
espanto com resistência,- essa melancolia toda se converte em possibilidade,
gesto, imprecação, traço, reflexo, -
e todo acúmulo crítico pós-moderno gesta: é um saco a súplica saudosa,
acomodar-se no niilismo : desde já Arte! A literatura , veja:
- se parece tanto fluxo
ejaculatório...’’
‘’
O QUE TORNA A VOLÚPIA TÃO TERRÍVEL É TALVEZ O FATO DE QUE ELA NOS ENSINE QUE
TEMOS UM CORPO.’’ YOURCENAR.
‘’
Cessa aqui nosso primeiro encontro: antes de seguires ao mundo serra acima,
tentemos estabelecer relação de prosseguimento:
pensar
o escritor pelo ator, segues enquanto me alivio refletindo
Arte.
Arte e Mãe sugerem mesmo núcleo. Ventre seguidor .’’
‘’’Sente,aprecia,
percebe e retêm em ti o sentido poético : se explícito ou não à ti só cabe bem
dizê-lo. Que cheio te encontre, contenha mundos, aprofunda, quando regurgita só
expõe a fímbria, a frágil tessitura correspondente.’’
Santos,
11 de julho de 2.003.
‘’Edword
Hill,- roupa esporte e peruca nobre em desajeito: remonta ‘haikais’ em prosa, -
quer ser transposto ao teatro, curto-seco-cool cheio como chat , -‘short-cut’,
-prosa-fragmentada.
Uma
tristeza na cena do banho , pós-banho, ver a paisagem estreita , azul de
sabonete gasto, - quando mais jovens mais passam pêlos, pelos pentelhos ,
desfiando água, verão que imunda o corpo. Um atento espectador se põe no palco:
soberano sobre o intérprete ensaboado, - repete-lhe a fala, segue a deixa,
dão-se as dálias , - vida não cessava naquele enxugar com a cena de porta
aberta. Na primeira fila, o mesmo do que é composto as preliminares de sexos.
Pensava num ato sobre Wickelman; flagrantes ocasionais , desterro na Austrália
– também convidado como autor iniciante deslumbrei com simulação da cena.
Caracteres sobrepostos: atuação requer percepção e prioridade instantânea: onde
atuo primeiro? A lenda precisa ser encenada com ênfase ! alguém porta a lenda
sem restituir : doa-se, fode-se sem volta: ninguém pira de vez no palco! Tom,
ele dita notas taquigráficas de Deus, -hermeneuta insone , sem escrutínio ou
resguardo : rala prá cacete, samba-dança , conecta o que éramos, o que percebemos
um no outro, a prece não atendida. Toda noite recolhe essa esteira e o biombo.
Uma gana, um martírio concentrando tudo que mentimos nele: e chamam-no
farsante!’’
Santos,
15 de julho de 2.003.
‘’’O
ator é um crítico voluntarioso do texto, - Mr. Eliott, - interpassa, repõe
entendimento ao lentificado da palavra escrita, ideada, impressa no instante
intuído. Por que ainda carrega guarda-chuva? Alinha tudo no aparador e senta ao
chá.’’
[‘Um
crítico vale , não pela excelência dos seus argumentos, mas pela qualidade de
sua escolha.’]
‘’Quando
na estréia ou já nos bastidores passo de enfermo ao imponderável são... homem
desprotegido / humanidade desprotegida / êxito impositivo. Não ! interpretando
a metáfora performática , o que é Vida de dentro se mostra. Guerra ao
apressados cartesianos: terapeutas do sucesso, esse terríveis vilipendiadores
do pensamento; a superfície. Miudezas, sem reducionismo. Sopa, chá e biscoito,-
ritual de gueixa de paletó e gravata surrados com pano xadrez de xale. A xícara
e o gole, ninguém que sofrer pensando...’’
‘’
sinto calores na solidão, me envolvem e pedem dizer, expressar, estar diante,
tornam insuportável o calor as vontades de te contar.’’
Santos,
15 de julho de 2.003.
‘’
Esperava tua chegada ontem, mas sei da preparação, e mormente , a rota sinuosa
entre escarpas traiçoeiras até a praia resvalada. Tom, cede à almofada, deita
de frente e te conto
Reconhece
em tudo pré-olhar e retira o travo. Refaz o sonho no período fértil, aproveita
e anota... escreve e corrige. O olhar do saber pelo desejo. O ‘Senhor Azul’ é o
manuscrito aqui estudado, você ator falta erigi-lo. Tudo carece finalização na
peça, no ato, nos contornos da concomitância: o vento do Dia molda o meu drama
ao gosto do método, - liberdade direcionada. Pensei tanto no texto, em nossa
Vida juntos, e notei que formamos a concretização, Tom, de uma metáfora ou
símbolo: o ator espelha em segunda instância, espelhando! o gesto primordial :
brinca, enfara, corrige-se, arremeda, vocaliza... percebe o tanto de humanidade
diante do Universo tens representado mil-maneiras!?
Lançar-se
liberto pelo rochedo, em gesto ou em signo como eu contigo: o intertexto, a
poetização das querelas e fúrias. Ator e escriba gestando algum paralelo
possível. Sabe, entre o teatro e a poesia uma contenda entre gêmeos:
representar antes ou depois de viver, Tom, é tudo assim andrófilo, não se
produz com desígnio de produção definitiva. A casa, essa praia em ferradura, a
colina de onde espreitei o ocaso, - como estando na platéia ou palco , um amor
masculino incompreensível à quem não denote inversão até algo muito próprio,
diferenciado, de acústica e plasticidade em par de anjos. Entendo os
elisabetanos. Interpretar é tão erótico quanto te amar em segredo.’’
[
‘’ Certo os personagens. Mas, aqui, meu caro senhor, quem representa não são os
personagens. Quem representa aqui são os atores. Os personagens ficam ali, no
texto (indica a caixa do ponto)... quando existe um texto.’’
‘’Diretor-
Exatamente. Já que não existe e coube aos senhores a sorte de tê-los aqui,
vivos, diante de si, os personagens...’’
‘’Ah!
garanto-lhes que dariam um belíssimo espetáculo.’’]
Pirandello,
(é preciso distribuir os papéis).
‘’
Encontrar papéis transmutados,- revigorados, entretecidos, o palco se renovando
através da resistência à tornar-se obsoleto.
O
que tornaria o essencial desnecessário, Tom? Inutilizado o que há de substante.
Substante?
Sim
substante, sinal carrado de satisfação renovada pelo mundo.
Não
se fala mais mundo, é preciso mundo! mundo! mundo!’’
[
‘’Com certeza não pensam que sabem representar, não é?’’
Diretor]
‘’
O contrário, Tom, é certeza duvidada. Comecemos pelo contraditório das falas,
dos sintomas, das desejações Poder na atuação, ver-se transtornado.’’
[
‘’ Arranja-se com a caracterização.’’]
‘com
a maquilagem’- Diretor.
‘’Triangulação
primeira entre eu, tu e Pirandello.
Oou
Pessoa que seremos mil. Queneu e Perec, milhares!
Não
pranteia estar aqui eu, tu e a Literatura! Somos tantos
Que
podemos merecer. Aí é o ator percebendo.’’
Falo-te
de Brando pela solidão exigente, representava a partir de sua precariedade
arrogante: amante, soldado, angustiado, sempre destacava-se do conjunto cênico:
a solidão impõem-se quando se atinge grau de especificidade teatral.
Publicado originalmente em
MEIO TOM - POESIA & PROSA
editado por Constancio Negaro.
http://www.meiotom.art.br
MEIO TOM - POESIA & PROSA
editado por Constancio Negaro.
http://www.meiotom.art.br
Poeta, contista e crítico literário,
Flávio Viegas Amoreira é das mais inventivas
vozes da Nova Literatura Brasileira
surgidas na virada do século: a ‘’Geração 00’’.
Utiliza forte experimentação formal
e inovação de conteúdos, alternando
gêneros diversos em sintaxe fragmentada.
Vem sendo estudado como uma das vozes
da pós-modernidade literária brasileira
em universidades americanas e européias.
Participante de movimentos culturais
e de fomento à leitura, é autor de livros como
Maralto (2002), A Biblioteca Submergida (2003),
Contogramas (2004) e Escorbuto, Cantos da Costa (2005).
No comments:
Post a Comment