Thursday, November 30, 2017

É PROIBIDO VIVER (uma crônica de Marcelo Rayel Correggiari)


Essa entristecida Mercearia veste luto...
Deixou-nos, há exato uma semana, um dos colunistas dessa casa, o querido e amado Carlos Eduardo Motta, o Brizolinha. Perda tremenda, uma orfandade que essa cidade enfrentará no que tange à livro, Literatura...
... e, acima de tudo, à gentileza e ao carinho por ele sempre manifestados nos cafés e na generosidade.
Tecnicamente falando, sendo esse iletrado merceeiro egresso das Letras oficiais, ele valia bem mais do que 40 ‘pós-doc’s (ou livre-docências) em qualquer grande instituição de ensino superior do mundo...
... e nem por isso lhe subia a arrogância de nos tratar bem mal, nós... reles ignorantes da escrita como Arte. Pelo contrário: ele era nosso amigo, ele nos acolhia e nos acarinhava com seu sorriso, seu café e uma gentil pausa para pitar.
Um dos poucos (quem sabe, o único!) que garantia a esse pedacinho de terra perdido nos mares-do-sul seu derradeiro traço de cosmopolidade.
Vamos empobrecer... como já cantava o saudoso Johnny Hansen com o seu Harry, naquele clássico: “(...) Sky will be grey (...)”.
Uma grande amiga dessa Mercearia chegou a comentar algo como ‘renovação’, ‘... os excelentes, n’algum dia, “passam o bastão” para que os novos ares, outras pessoas, continuem e melhorem uma excelência que já existe’.
Uma continuidade que pessoalmente refuto, mas contemplo. Foi essa mesma grande amiga que me cumprimentou pela coragem de um gesto recente quando atingido mais uma vez por uma recente ocorrência constituída pela boa e velha violenta interferência em sua forma mais grotesca de ‘descolamento da realidade’.
Explicou-se que não é ‘coragem’, mas ‘falta de opção’. O troço é tão descabido que, chega uma hora, não se é possível certa discrição. A comunicação do fato não será pública, mas partes diretamente envolvidas precisam ser avisadas do que vem por aí. Porque é preciso deixar claro (ou notificado!) que, se bobear, será uma realidade que se arrastará por décadas.
A interferência: fruto de uma doença que distorce até mesmo o mundo como ele realmente é. Flagelo de um que, sem os devidos cuidados (até mesmo medicamentosos), tem tudo para deixar um rastro de tristeza e destruição para muitos.
É o ‘povo da gangorra’, querido(a) freguês(a): sentados na extremidade ao rés-do-chão, colocam qualquer coisa ou alguém na ponta elevada para brincarem de ‘subir-e-descer’. Não se atém aos danos provocados por tal exercício: ao invés do bom e velho exame da condução de si próprio(a) no ‘merdelê’ todo, distribuem culpa e responsabilidades que, no frigir dos ovos, são somente delas mesmas.
É aí que você entra ‘de gaiato(a)’, querido(a) freguês(a)! Quando você menos espera, está servindo de contrapeso para um eterno ‘altos e baixos’ que não é seu. E se você sair da gangorra, pode se preparar: a porrada chega!
Você será o ‘grande demônio’, digno dos mais baixos insultos, escárnio, impropérios... em caso de muita sorte do(a) estimado(a) freguês(a), quem sabe, a indiferença, o que pode, dependendo da circunstância, ser a salvação da lavoura!
O ‘povo da gangorra’, no caso do querido(a) freguês(a) ter como vida a pareceria de um ‘ombro-a-ombro’ ao invés do eterno ‘sobe-e-desce’, interfere! Acham que podem. Uma característica desse grupo é um sutil controle que, quando ineficiente, se transforma em escancaradas ameaças (se couber) e uma maledicência sem fronteiras.
Passam horas na polifonia das alcovitagens: uma mecânica que permite se ter alguma impressão de “controle”, de “saberem das coisas” (quando, na verdade, nada sabem), de “estarem atentas a tudo” (quando, na verdade, são engolidas pelo mundo a cada milésimo de segundo).
Craques na divulgação de algo que não são: personagens muito mal acabados de si próprios(as) num interminável arremedo de disfarce de uma densidade que jamais alcançariam. Nada mais fazem do que publicar (aqui, nesse caso, como “tornar público”) um tipo de sabedoria que um dos grandes colunistas dessa casa, o Dr. Luiz Cancello, comumente chama de “psicologia de almanaque” (popularmente conhecido como “filosofia de bar”).
Tudo na mais desalinhada tentativa de seduzir você, querido(a) freguês(a), a tomar assento na ponta mais elevada da gangorra. Afinal, essas pessoas precisam subir e nada mais eficaz do que tê-lo(a) como “... parte mais agradável desse buraco no qual me encontro...” (“... e fui eu mesmo(a) quem cavei essa merda...”).
Doença pura! Pessoas incapazes de ‘virar a página’ delas mesmas, interferindo seriamente em quem já virou a sua faz tempo. Sempre optam pela pior escolha, imersas na crença de que os(as) demais deveriam fazer o mesmo.
Experimente sinalizar a saída dessa espiral descendente: a pancadaria chegará. O que é pior: às vezes, envolvendo gente que nem sabe da ocorrência. No caso de sorte, apenas uma indiferença ao se colocar fora da funesta mecânica dessa pantomima macabra. E caso isso ocorra (a indiferença), agradeça aos céus.

O ‘povo da gangorra’ tem por mote “... ninguém pode viver melhor do que eu...”. A fachada é a do ‘savoir-vivre’, mas o gesto definitivo é a da ‘proibição da vida’. Tenhamos, sempre, boa temperança no enfrentamento de suas vis interferências.

Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO

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