Essa
entristecida Mercearia veste luto...
Deixou-nos, há
exato uma semana, um dos colunistas dessa casa, o querido e amado Carlos
Eduardo Motta, o Brizolinha. Perda tremenda, uma orfandade que essa cidade
enfrentará no que tange à livro, Literatura...
... e, acima de
tudo, à gentileza e ao carinho por ele sempre manifestados nos cafés e na
generosidade.
Tecnicamente
falando, sendo esse iletrado merceeiro egresso das Letras oficiais, ele valia
bem mais do que 40 ‘pós-doc’s (ou livre-docências) em qualquer grande
instituição de ensino superior do mundo...
... e nem por
isso lhe subia a arrogância de nos tratar bem mal, nós... reles ignorantes da
escrita como Arte. Pelo contrário: ele era nosso amigo, ele nos acolhia e nos
acarinhava com seu sorriso, seu café e uma gentil pausa para pitar.
Um dos poucos
(quem sabe, o único!) que garantia a esse pedacinho de terra perdido nos
mares-do-sul seu derradeiro traço de cosmopolidade.
Vamos
empobrecer... como já cantava o saudoso Johnny Hansen com o seu Harry, naquele
clássico: “(...) Sky will be grey (...)”.
Uma grande amiga
dessa Mercearia chegou a comentar algo como ‘renovação’, ‘... os excelentes,
n’algum dia, “passam o bastão” para que os novos ares, outras pessoas,
continuem e melhorem uma excelência que já existe’.
Uma continuidade
que pessoalmente refuto, mas contemplo. Foi essa mesma grande amiga que me
cumprimentou pela coragem de um gesto recente quando atingido mais uma vez por
uma recente ocorrência constituída pela boa e velha violenta interferência em
sua forma mais grotesca de ‘descolamento da realidade’.
Explicou-se que
não é ‘coragem’, mas ‘falta de opção’. O troço é tão descabido que, chega uma
hora, não se é possível certa discrição. A comunicação do fato não será
pública, mas partes diretamente envolvidas precisam ser avisadas do que vem por
aí. Porque é preciso deixar claro (ou notificado!) que, se bobear, será uma
realidade que se arrastará por décadas.
A interferência:
fruto de uma doença que distorce até mesmo o mundo como ele realmente é.
Flagelo de um que, sem os devidos cuidados (até mesmo medicamentosos), tem tudo
para deixar um rastro de tristeza e destruição para muitos.
É o ‘povo da
gangorra’, querido(a) freguês(a): sentados na extremidade ao rés-do-chão,
colocam qualquer coisa ou alguém na ponta elevada para brincarem de
‘subir-e-descer’. Não se atém aos danos provocados por tal exercício: ao invés
do bom e velho exame da condução de si próprio(a) no ‘merdelê’ todo, distribuem
culpa e responsabilidades que, no frigir dos ovos, são somente delas mesmas.
É aí que você
entra ‘de gaiato(a)’, querido(a) freguês(a)! Quando você menos espera, está
servindo de contrapeso para um eterno ‘altos e baixos’ que não é seu. E se você
sair da gangorra, pode se preparar: a porrada chega!
Você será o
‘grande demônio’, digno dos mais baixos insultos, escárnio, impropérios... em
caso de muita sorte do(a) estimado(a) freguês(a), quem sabe, a indiferença, o
que pode, dependendo da circunstância, ser a salvação da lavoura!
O ‘povo da
gangorra’, no caso do querido(a) freguês(a) ter como vida a pareceria de um
‘ombro-a-ombro’ ao invés do eterno ‘sobe-e-desce’, interfere! Acham que podem.
Uma característica desse grupo é um sutil controle que, quando ineficiente, se
transforma em escancaradas ameaças (se couber) e uma maledicência sem
fronteiras.
Passam horas na
polifonia das alcovitagens: uma mecânica que permite se ter alguma impressão de
“controle”, de “saberem das coisas” (quando, na verdade, nada sabem), de
“estarem atentas a tudo” (quando, na verdade, são engolidas pelo mundo a cada
milésimo de segundo).
Craques na
divulgação de algo que não são: personagens muito mal acabados de si
próprios(as) num interminável arremedo de disfarce de uma densidade que jamais
alcançariam. Nada mais fazem do que publicar (aqui, nesse caso, como “tornar
público”) um tipo de sabedoria que um dos grandes colunistas dessa casa, o Dr.
Luiz Cancello, comumente chama de “psicologia de almanaque” (popularmente
conhecido como “filosofia de bar”).
Tudo na mais
desalinhada tentativa de seduzir você, querido(a) freguês(a), a tomar assento
na ponta mais elevada da gangorra. Afinal, essas pessoas precisam subir e nada
mais eficaz do que tê-lo(a) como “... parte mais agradável desse buraco no qual
me encontro...” (“... e fui eu mesmo(a) quem cavei essa merda...”).
Doença pura!
Pessoas incapazes de ‘virar a página’ delas mesmas, interferindo seriamente em
quem já virou a sua faz tempo. Sempre optam pela pior escolha, imersas na
crença de que os(as) demais deveriam fazer o mesmo.
Experimente
sinalizar a saída dessa espiral descendente: a pancadaria chegará. O que é
pior: às vezes, envolvendo gente que nem sabe da ocorrência. No caso de sorte,
apenas uma indiferença ao se colocar fora da funesta mecânica dessa pantomima
macabra. E caso isso ocorra (a indiferença), agradeça aos céus.
O ‘povo da
gangorra’ tem por mote “... ninguém pode viver melhor do que eu...”. A fachada
é a do ‘savoir-vivre’, mas o gesto definitivo é a da ‘proibição da vida’.
Tenhamos, sempre, boa temperança no enfrentamento de suas vis interferências.
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO
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