Sunday, November 12, 2017

CAFÉ & BOM DIA #80 (por Carlos Eduardo Brizolinha)



Sarah Bernhardt bordou flores no texto para teatro de Alfred de Musset. Graças a ela a peça de Musset foi encenada muito embora ' Lorenzaccio ' tenha recebido uma enxugada para reduzir seus 5 atos mais epilogo. Peça escrita no ano de 1833, ano em que escreveu mais duas peças de teatro e encenada em 1896. Ninguém ousava montar a peça pelo alto grau de dificuldade na montagem com também pela complexidade do personagem principal Lourenço de Médici. Armand D'artois fez a adaptação e Sarah subiu ao palco no papel masculino de Lourenço. Não foi o primeiro papel masculino de Sarah que já houvera representado personagens de Moliére, Racine, Rostand entre outros, mas foi Lorenzaccio o ponto mais alto de sua expressiva carreira muito embora tenha sido peça de curta permanência. De Musset não fez um teatro fácil, popular e nesta peça construiu diálogos que exige muita atenção pela quantidade de personagens em torno dos centrais. Musset nos dá clima shakespereano a medida que Lourenço cresce na trama. Alexandre tirano de Florença reina com seus desmandos com apoio de seus favoritos. Lorenzaccio é sábio, austero, virtuoso sonhando ser um novo ' Brutus '. Para ganhar confiança do mandatário e assimila participando dos seus feitos e converte se em rufião. O crescendo da peça se dá com a decisão de Lorenzaccio matar Alexandre, esse impulso é tudo o que restava de sua antiga virtude. É uma severa avaliação de Musset se o mal pode justificar um bem na ação politica. Os atos nos leva a refletir sobre a honestidade, eficiência, identidade, sinceridade e o fim do encobrimento do vazio.


Entremeando releitura de uma obra de folego tenho visitado meu acervo de peças de teatro e meu olhos pousaram no castelo de Elsinore. Fazia muito tempo da minha leitura de Hamlet. A primeira vez com tradução de Carlos Alberto Nunes e a segunda traduzida por Millôr Fernandes. Li também algumas biografia de Shakespeare e Hamlet, sempre me deparo com inúmeras peculiaridade e fartas polêmicas tais como ter sido encenada em 1589 com diferenças para a que conhecemos produzida em 1600. Não li os apontamentos das diferenças que foram apontadas por Gabriel Harvey. Hamlet é um espinheiro de teorias tais como a de Peter Alexander, um dos mais abalizados biógrafos que diz ter sido Kyd o autor da primeira versão, mas segundo outros estudiosos não passa de uma simples versão, pois não há documentos comprobatórios para sustentar a tese. Nem mesmo sustentado por outra tese de que Shakespeare chegou em Londres no ano de 1590. O fato é que nada mácula Hamlet que chega até nós desde sua primeira publicação completa feita por James Robert e Nicholas Ling na rua Fleet Street 1604 no ano de 1604 coincidentemente. Poucos autores tiveram suas vidas tão estudada, tão zelosamente acompanhadas quanto Shakespeare e mesmo hoje temos vasculhadores de documentos e bibliotecas na ânsia de saber mais e mais. Me vem na memória a figura de Paulo Fancis que fez o registro de sua consideração no jornal FSP dizendo ser ' Tudo que se precisa saber sobre a vida está em Hamlet ' e mais, ' É uma obra de clareza exemplar, tudo o que nós já sentimos, viremos sentir ou possamos sentir '. Ouso plasmar imagens onde estão Laurence Olivier, Sara Bernhardt, Sergio Cardoso como fantasma do pai de Hamlet, Ofélia e Claudio = rei da Dinamarca. A imaginação pode tudo e Hamlet é o que podemos char de obra maior.


Domingo Ramos (Edição da Porto-Lello), especialista português em Shakespeare, nos oferece ricas informações. Estava eu em busca de colher informações sobre a obra e acabei por avançar na leitura atingindo o capítulo dedicado a Macbeth. Ah Lady Macbeth! Não fosse ela, nada se consumava pois é quem dá firmeza ao braço de Macbeth; é ela quem termina a obra que ele franqueia no último momento. Ela passa a ser um instrumento do crime e seu maior beneficiário; ela é alma, a força, lamina final. Bem poucas mulheres na história do teatro tem um perfil tão forte, uma presença maligna tão formidável. Minha mãe cosidera Lady Macbeth o mais alto patamar da carreira de atriz. Lay Macbeth é grandiosa, trágica, desenha uma nitidez toda clássica. Criação de um jato do gênio, firme, preciso e personagem feminina que ocupa lugar ao lado das criações mais dramáticas, tais como Medéia, Clitemnestra. Macbeth e Hamlet são obrigatórios, dos maiores textos da literatura. Macbeth desceu dos palcos para brilhar na música com Rouget de Lisle pôs em libreto e Chelard em música. Verdi com libreto de Piave montou sua ópera exibida em 1847. Na pintura inspirou Delacroix, Muller, Maclise, Cattermole e Corot. Em 1970 Paulo Autran (Que saudade!) e Tonia Carrero protagonizaram uma grande montagem no TBC segundo minha mãe que assistiu e segundo considerações de Bárbara Heliodora. A tradução da Barbara tem em pdf.


No fim do século XIX a maioria dos pintores procuraram aprovação através de jurís de exposições em salões estabelecidos ou se rebelavam em mostras de vanguarda. Latour não, seguiu seus próprios instintos e mostrou suas renderizações delicadas e agudamente observadas de flores, naturezas mortas e retratos grupais. Certo é que esteve associado aos impressionistas e a Edouard Manet em particular, ocorre ter permanecido como pintor acadêmico tradicional ao longo de sua carreira. Esteve num período de agitação artísticas, no fim do romantismo e afirmação do realismo, naturalismo e simbolismo. Em toda a história da arte, há um grupo muito pequeno de pintores cujo trabalho é imediatamente reconhecível: Fantin pertence a esse grupo, mesmo admirando intensamente o trabalho de Manet se recusou a juntar se aos impressionistas. Os auto-retratos de Fantin-Latour das décadas de 1850 e 1860 mostram a influência de Eugène Delacroix e dos românticos. O interessante que mesmo tendo o pai como pintor, ensinou-o a desenhar fez Fantin-Latour seguir na trilha do pai entrando na École des Beaux-Arts em 1854, mas foi expulso após três meses por falta de progresso. O treinamento real foi no Louvre, onde ele gozou de uma reputação como um brilhante copista, Mas enquanto Manet chocava a burguesia com seus insolentes nus em Olympia e Le Déjeuner sur l'Herbe , Fantin-Latour pintou imagens quentes de suas irmãs lendo e bordando. As figuras aparecem isoladas umas das outras, cada uma envolvida em seus próprios pensamentos. Latour pintou muitos artista dentre os quais Verlaine/Rimbaud amor registrado no poema de amor de Verlaine Green lê como uma descrição de Still Life (The Engagement) : "Aqui estão os frutos, as flores. . . e aqui está o meu coração que bate apenas para você. / Não o rasgue com as duas mãos brancas ". Foi uma figura tímida pois após a morte de Fantin-Latour, sua viúva deu seus arquivos ao museu em sua cidade natal de Grenoble. Eles incluíram mais de mil fotografias em preto e branco de mulheres nuas. Os modelos ao vivo eram caros e Fantin-Latour.


Li algumas críticas sobre arte contemporânea que me tirou da condição de solitário. A primeira foi em 2010 de Ferreira Gular que diz; Se há um tema sobre o qual estou sempre indagando é a situação atual das artes plásticas, precisamente porque exorbitaram os limites do que -segundo meu ponto de vista- se pode chamar de arte. Sei muito bem que alguém pode alegar que arte não se define e que toda e qualquer tentativa de fazê-lo contraria a natureza mesma da arte. Em 2011 o jornalista Sergio Martins defende. Li um autor de literatura de expressão, pena não lembrar o nome neste momento, que tem opinião idêntica a opinião de Gular. Embora os artistas conceituais critiquem a reivindicação moderna de autonomia da obra de arte, e alguns pretendam até romper com princípios do modernismo, há algumas premissas históricas que podem ser encontradas em experiências realizadas no início do século XX. Os ready-mades de Marcel Duchamp, cuja qualidade artística é conferida pelo contexto em que são expostos, seriam um antecedente importante para a reelaboração da crítica dos conceituais. Minha posição pode ser considerada conservadora, mas não é. Me vem a cabeça o pintor, escultor e poeta francês Marcel Duchamp se mudou para Nova York em 1915. Em 1917, inscreveu a obra “Fonte” na exposição daquele ano da Associação de Artistas Independentes de Nova York. Tratava-se de um urinol de louça assinado pelo pseudônimo “R. Mutt”. Nos dias de hoje tudo parece igual, pior são as teorias que fundamentam. Descobri RUBEN OSTLUND através de Elaine Guerine que com “The Square”, o diretor Ruben Ostlund tenta criar um retrato sarcástico e de humor negro que envolve os limites da arte. Faz isso a partir das escolhas (profissionais e pessoais) de um curador de um museu sueco às voltas com uma nova e polêmica instalação, a “The Square” do título. É algo como um quadrado desenhado no chão onde as pessoas lidam com situações de respeito e tolerância ao próximo. Não teria eu a capacidade de desenhar o que penso, Ruben desenha por mim, certamente por Gular e dá um tratamento sensível do comportamento humano dentro da arte conceitual que os anos 60 e 70 dizem ter sido pioneiros, mas e Duchamp? Arte deixa de ser primordialmente visual, feita para ser olhada, então olhem o filme ' SQUARE '.



Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada à Rua Bahia sem número,
quase esquina com Avenida Mal. Deodoro,
bebe diversas xícaras de café orgânico
ao longo de seu dia de trabalho.




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