Sinon foi astuto. Com a boa conversa dos estelionatários, convenceu os troianos que o Cavalo de madeira que os gregos haviam deixado nos portões de Troia era apenas um presente para os deuses: essa oferenda garantiria bons ventos e segurança na viagem de volta para casa. Mas o mote principal da conversa foi um desafio: o cavalo era tão grande que os troianos não conseguiriam leva-lo através dos muros da cidade porque se o fizessem, seriam invencíveis numa nova invasão . A conversa funcionou: os troianos pouco ligaram para os dons de profecia de Cassandra, filha de Príamo, que os advertiu sobre as artimanhas gregas, e levaram o enorme cavalo para dentro dos muros. O final da história, contada no incrível livro "Eneida", 12 cantos, de Virgílio (nascido em Mântua, norte da Itália em 70 ac e morto no ano de 19 ac, aos 51 anos), todo mundo conhece, mais de 2 mil anos depois.
O senador Aécio Neves foi uma espécie de Sinon à brasileira. Com a boa conversa que sempre o ajudou, tentou mostrar a todos que o afastamento do senador Tasso Jereissati era necessário. A justificativa é de encher as medidas: nivelar a próxima disputa pela presidência do PSDB, o partido que caminha a passadas largas para a extinção. Fazia um bom tempo que não aparecia um Sinon tão cínico como o senador mineiro neste cenário da política brasileira. Mesmo sabendo que sua decisão provocaria uma enorme cisão dentro do partido, colocou seus interesses acima de tudo e não hesitou em tomar a decisão. Alias, a mesma posição que sempre tomou nas suas decisões no senado, dando preferência, sempre, aos seus interesses.
O triste da história é que o senador Tasso Jereissati, que não é nenhum santo, foi um dos poucos políticos que conseguiu escapar das tormentas que vem derrotando os navios de vários políticos nos últimos três anos. Seu nome não apareceu -pelo menos ainda- em qualquer delação premiada; corrupção é palavra que passa longe de seu personagem, detalhe que é até compreensível: Tasso é tão rico, mas tão rico, que seria necessário vender metade do Brasil para compra-lo. E não sei se seria suficiente.
No afastamento de Aécio da presidência do partido por suspeita de corrupção (os tais R$ 2 milhões que seriam um "empréstimo pessoal ou pagamento da venda de um aparamento"), Tasso Jereissati, logo depois de assumir a presidência interinamente, tomou a posição que a maioria dos tucanos (tanto elementos do partido como correligionários) sonhavam: a saída do governo Temer, abrindo mão dos quatro Ministérios que ainda mantém. Além disso, começou uma espécie de brainstorm, uma autocrítica do comportamento do partido nos últimos tempos, situação que já vinha incomodando. Sempre é bom lembrar que ele foi o único líder partidário, mesmo que interinamente, com coragem de assumir os erros do partido e, apoiado pelos "cabeças pretas", tinha a intenção de coloca-lo no seu devido lugar.
Com essa decisão, Aécio Neves mostra claramente quem é. Não há nada mais triste e deprimente do que a traição. Essa conversa de isonomia nas eleições é conversa prá boi dormir, uma tentativa de justificar o injustificável. Mostra que não entende muito bem o que significa democracia e que o mais importante, no seu entender, é manter o poder a qualquer preço. Igualou-se, ou está tentando, igualar-se ao ex-presidente boquirroto, dono, imperador, rei e tudo mais do PT. O senador mineiro não entende que homens não nasceram com bridões. Homens são livres por si só. Ninguém tem o direito de ditar caminhos a ninguém, muito menos manter pessoas numa só trilha. O País já anda cansado de líderes falsos (o sorriso do senador diz tudo...), de líderes messiânicos, de antiguidades, da idade média. Precisamos de homens sérios para que este País volte a encontrar o caminho do desenvolvimento. da ética e da seriedade.
Assim, o futuro do PSDB parece ser o fim. Transformou-se num partido sem rumo, principalmente depois de Aécio ter entregue a presidência interina para Alberto Goldman, um tiranossauro rex que todos imaginavam já aposentado. O governador Alkmin, como todo bom caipira, isentou de responsabilidade, afirmando que não sabia da destituição de Tasso, foi seco: "Eu não faria". E, para complicar mais ainda o quadro, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que votará em Tasso Jereissati nas eleições presidenciais do partido.
Bem, Aécio conseguiu arrumar sua guerra particular. A ala jovem do partido não aceita sua decisão e teve deputado que garantiu alguns sopapos no senador mineiro se cruzar com ele qualquer dias desses. Vamos esperar para ver o final dessa odisseia. Uma coisa fica bem clara: a nau está sem rumo, sem um bom palinuro, ou seja, um piloto competente como o de Enéias para levar sua nau até o destino final. Feio mesmo foi o bate boca geral no plenário do Congresso, onde o PSDB sentiu o que significa a "baixaria", palavra que nestes longos anos de existência nunca tinha sido usada. O PSDB transformou-se num barraco, mesmo com a analogia grega...
Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado
e trabalhou para vários jornais e revistas
ao longo de 40 anos de carreira.
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Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado.
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