Thursday, November 2, 2017

MESMO... (um poema-crônica de Marcelo Rayel Correggiari)


Mesmo diante da canalha,
mesmo diante da choldra,
mesmo depois de martirizarem o seu sonho
e te roubarem completamente o chão;
mesmo com o fim de quase tudo,
mesmo com o estabelecimento das dores,
mesmo com a chegada do luto,
mesmo diante do ‘pouco caso’
e do escarnecimento sobre tudo o que se sente,
mesmo diante desse corte,
a amputação,
vinda desse silêncio dolorido e lancinante;
mesmo diante das falsas promessas,
mesmo diante de uma alucinação alheia,
mesmo diante do pântano que o outro te oferta,
mesmo diante do gesto covarde,
mesmo diante desse outro que afirma
ser o Amor um delírio de sonhadores;
mesmo diante do engodo,
mesmo diante do embuste,
mesmo diante da impostura,
mesmo diante da mentira,
mesmo diante do infortúnio
que da vida a esperança retira;
mesmo diante do raso,
mesmo diante do profundo,
mesmo diante do laço
dessas quedas somadas ao longo do caminho,
Não ceda;
não recue,
não permita a vileza!
Ame!
Ame até cair pedaços...
... justifique um coração de carne e ame até sair sangue.
Coragem!
Deixe de lado a covardia e arque com as consequências
[de uma transformação para melhor.
Banque as consequências de se ter colhões e ovários
[para se bater o pau na mesa
[e trazer o sonho de volta.
Traga o sonho de volta! Ame!
Sonhe na solidão; materialize-o!
Corte todos os sons ao redor,
corte a polifonia,
mergulhe nos instantes em que a vida real
[é quase sempre longe de tudo;
Corte essa merda, porra!
corte esses ruídos compensatórios,
por esses estímulos rasteiros,
[da vida miserável que tanto insiste em preservar...
Banque as escolhas erradas,
banque as escolhas certas,
banque a paz
[e o amor genuínos que bateram à sua porta.
banque as merdas que faz,
banque as coisas boas que chegam,
traga para perto,
carinho,
seja atento(a)...
... a se permitir ser amado(a).
Adense-se!
Adense-se, porra!
Vai ficar nos critérios rasteiros
[de tudo aquilo que te falaram?!
Vai comprar ideia de jerico
[e dizer ‘amém’?!
Onde e quando prevalecem teus sentimentos
[em meio a isso tudo?!
Adense-se!
A vida é ingrata para quem é covarde!
A vida é ingrata para quem vive em direção
[à porta larga;
Banque o que sente!
Banque o que sente, caralho!
Não largue, não esmoreça
[não abandone o que sente lá dentro;
Tenha coragem, porra!
Ninguém falou que seria fácil,
ninguém falou que seria simples;
ninguém disse que seria
[um ‘mar-de-rosas’
um sonhos de cinema,
[um conto-de-fadas.
Troque essas camadas!
Troque essas camadas por novas!
Em menor número,
[mais leves;
Permita-se!
Permita-se ser amado(a)!
O amor não aceita ofensas!
O amor é disciplinado!
O amor bate à sua porta, e você...
[o que é que você faz?!
Escarnece,
corta,
cospe,
regorjita,
bate,
vilipendia,
xinga,
trata mal,
violenta,
esmurra,
chuta,
espanca,
trai,
debocha,
espanta,
afasta...
Foi isso o que você aprendeu sobre o Amor?!
[foi isso que te ensinaram?!
É! Acho que chegou a hora de você desaprender!
O Amor não aceita ofensas.
O Amor verdadeiro bate à sua porta e é preciso
[coragem e densidade para deixá-Lo ficar em sua vida.
Ele não convive com escolhas erradas
[nem com critérios rasos,
[nem com fugas rasteiras;
[nem com ruídos de celebrações,
[muito menos com as costumeiras compensações.
O Amor é exigente!
[não acata leniências quaisquer da falta de empenho.
Não acata o discurso obtuso de não se criar expectativas
para, logo em seguida, se acender uma vela à esperança.
O Amor possui suas regras,
[suas disciplinas,
[e nada que saia disso pode ser chamado de Amor.
Arrume-se!
Arrume essa casa que há dentro de você.
Arrume essa bagunça...
Faça associações decentes,
[e não com os velhos monstros que vivem a te devorar.
O Amor é apegado!
O Amor é apegado a tudo o que lhe permite respirar.
É Ele quem permite ver o que ninguém mais vê.
Mesmo diante da canalha,
mesmo diante do lamaçal da escumalha,
mesmo diante da falta repentina de chão,
mesmo diante do estabelecimento das dores
[e a chegada do luto,
crie expectativas,
espere,
apegue-se,
apaixone-se,
sinta,
afete-se,
entristeça-se,
silencie-se,
Sinta, porra! Sinta!
Porque o Amor baterá em sua porta...

[e seria muito bom e gostoso você deixá-Lo entrar.

Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO



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