Wednesday, April 8, 2015

A OBRA MÁXIMA DE PATRICIA HIGHSMITH, HOJE, ÀS 19 HORAS, NO CINECLUBE PAGU.


por Will Polvieri
publicado originalmente em SALADA DE CINEMA

A primeira impressão é a que fica.

O ditado popular serve como lei para a apresentação dos personagens em um filme: é neste primeiro momento que a audiência vai estabelecer ou não um vínculo de confiança com o personagem.

Para cumprir esta tarefa, muitas produções optam por apresentações extremamente descritivas, para que não restem dúvidas sobre quem é quem.

Mais arriscado, no entanto, é fazer como “O Talentoso Ripley”: criar uma sequência que explica pouco, mas que deixa muitas pistas sobre o golpista mais engenhoso do cinema.

A sequência de créditos é a responsável por apresentar Tom Ripley ao público. Após encontrá-lo arrependido de tudo que viveu, o espectador é transportado para uma cobertura de Nova York, onde o personagem toca piano em uma festa de milionários. Pelo brasão no paletó do jovem, o Sr. Greenleaf o identifica como amigo de faculdade de seu filho Dickie e o convida para uma conversa no dia seguinte. Ao fim da festa, Tom devolve o paletó a um amigo e corre para seu real emprego: ele trabalha no banheiro de um teatro. No segundo encontro com o Sr. Greenleaf, Tom é convidado para ir à Itália convencer Dickie a retornar aos EUA. Ripley aceita, se prepara para a viagem e logo embarca rumo ao Mediterrâneo.

Narrativamente, a sequência inicial apresenta quase toda a sinopse de “O Talentoso Ripley”. Falta apenas dizer que Tom se encanta com a vida de Dickie, muda os planos e cria artimanhas para ter uma vida de luxo igual à do herdeiro milionário. No entanto, mais que criar a base do roteiro, os 8 primeiros minutos de filme dão muitos indícios sobre o caráter do protagonista.


O que fica mais evidente é sua faceta dissimulada e oportunista. Mesmo sem conhecer Dickie, Tom não revela à família Greenleaf que o terno não lhe pertence e que tudo não passa de um mal entendido. Pelo contrário, ele embarca na mentira e a sustenta mesmo sabendo da dificuldade de sua tarefa na Itália, uma vez que sequer conhece o herdeiro. Aproveitando-se da informação de que Dickie adora jazz, Ripley se obriga a decorar canções e artistas do gênero e usará a música para se aproximar do playboy. O que também não deixa de evidenciar um comportamento calculista e premeditado.

No entanto, do mesmo jeito que desvenda o golpista, a sequência de créditos também o torna complexo ao expor suas fraquezas. Quando nos deparamos com Tom arrependido logo no começo, por exemplo, sua imagem surge fragmentada por um efeito visual, como se ele vivesse aos pedaços. Em outra cena, quando ele observa o concerto por trás das cortinas, vemos apenas metade de seu rosto, como se ele sempre mostrasse apenas uma parcela de si.

O mais desconcertante, porém, aparece de maneira rápida quando surge o título do filme. Antes de a palavra “talentoso” aparecer na tela, seu espaço é preenchido rapidamente por uma série de outros adjetivos. Alguns, são qualidades (inocente, amável, bonito, inteligente, sensível, adorável, apaixonado, delicado e agradável). Outros, defeitos (obcecado, solitário, reservado, misterioso, perturbado e confuso).

Com isso, fica a dúvida: afinal, quem é Ripley? É o bonito ou o solitário? E mais: cada adjetivo descreve sua personalidade ou é apenas a imagem que ele quer passar?

Talvez o grande talento de Ripley seja não deixar claro com quem estamos lidando.

Assim, por mais que a gente ache que o conheça, pode ser que estejamos justamente caindo em sua armadilha.


O TALENTOSO RIPLEY
The Talented Mr. Ripley
(1991  •  139 minutos)

Direção e Roteiro
Anthony Minghella

Baseado em romance de
Patricia Highsmith

Elenco
Matt Damon
Jude Law
Gwyneth Paltrow
Cate Blanchett
Philip Seymour Hoffman
Jack Davenport

Quarta
8 de Abril
19 horas
CINECLUBE PAGU
OFICINA CULTURAL PAGU
Rua Espírito Santo, 17 
quase esquina com Av. Ana Costa
Campo Grande, Santos SP 
Telefone:(13) 3219-2036

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