publicado originalmente em Colunas & Notas
O documentário canadense “Marcas da Água”, de 2013,
usa como estrutura para seu desenvolvimento,
a preparação de um livro fotográfico,
mostrando a interação entre seres humanos,
animais e a água do planeta,
em seus mais variados estados.
Em alguns momentos do filme,
a contemplação toma conta do espectador
de tal modo, que tem-se a impressão
de estar-se assistindo a algum capítulo “perdido”
do clássico filme-cabeça de 1982,
“Koyaanisqatsi”, ou de sua “sequela”,
“Powaqqatsi” (1988), ambos de Godfrey Reggio,
tal o envolvimento entre som e imagem,
e a força desta união.
Mas, na verdade, esta força expressiva tem um reverso,
e este é justamente a falta de ritmo destas passagens.
O documentário perde-se, em vários pontos,
num desfilar sem fim de belas imagens de leitos de rio,
paisagens praticamente imutáveis,
ao som de monocórdia melodia induzindo,
ao invés de um estado de êxtase desejado
pelos realizadores, um estado quase letárgico,
não necessariamente agradável
para quem assiste ao filme.
Passa certa sensação de “muito barulho por nada”.
Talvez por isso não fique clara a intenção da produção.
Questionar o uso indiscriminado que se faz da água no planeta
– objetivo mais do que nobre?
Transformar belas e contundentes imagens em poesia visual?
Contextualizar a realização do livro a respeito...
Da água?
Seja qual for o objetivo,
parece-me que as imagens e os depoimentos colhidos
-- e utilizados de maneira confusa e parcial --,
por todo o mundo (EUA, China, Índia),
numa maratona de 200 horas de filmagens,
mais 75 horas de imagens de arquivo,
acabaram por resultar num filme de 90 minutos
a respeito da água e do uso que se faz dela,
mas sem muito foco e quase nenhum apelo.
E também fica no ar uma pergunta:
se temos o maior rio do mundo em volume de água,
porque não há nem sequer uma menção
ao Amazonas no documentário?
Plasticamente bonito.
Experimente!
MARCAS DE ÁGUA
Watermark
(2013 - 92 minutos)
Direção
Jennifer Baichwal
Edward Burtynsky
Em cartaz no
Cinespaço Shopping Miramar
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