Saturday, December 2, 2017

PAÍS DISTRÓPICO... (uma crônica de Álvaro Carvalho Jr)



Vivemos num estranho e doentio País.

A novidade da semana chega via Justiça, o poder que deveria melhorar, e muito, nossas vidas, mas que tem trazido apenas revolta e ódio. Pois saibam que alguns juízes da Justiça do Trabalho resolveram não seguir as novas regras da reforma trabalhista aprovada no Congresso Nacional. Assim tipo: não gostei, então não vou respeitar! Como se fossem Deuses, um grupo de juízes parte para um confronto que deverá gerar vários problemas e o principal deles é a famosa "insegurança jurídica", tão comentada e tão criticada por todos.

Não se está aqui avaliando a qualidade das novas regras. Não se está, também, defendo a ou b, partidos, ideologias. Está se avaliando que existem novas regras aprovadas por um Congresso legalmente eleito. Portanto, a nova lei, já promulgada e em plena atividade, deve ser respeitada. Juiz não tem direito e muito menos poder para, simplesmente, afirmar que não vai aplicar a lei. O seu cumprimento é a mais importante responsabilidade de um juiz. Ele é que dá confiança e segurança para a sociedade encontre pilares fortes para se sustentar. Mas, se juízes resolvem criar jurisprudência própria e aplicar a lei conforme seus interesses ideológicos ou pessoais mesmo, estamos dando a partida para o totalitarismo jurídico. E isso não é bom...

Há um aspecto nesse imbróglio todo que precisa ser analisado com muito cuidado. O que pretendem esses juízes com a criação desse "Juízo popular"? Fica a impressão que pretendem apenas aplicar as leis que os interessa; ou fundir suas crenças com a Justiça. Ora, um juiz não é Deus; não pode simplesmente decidir o destino deste ou daquele aos bons ventos de suas crenças. Não gostam da nova lei? Lutem para que seja alterada, mas, enquanto isso, não lhes resta outro papel a não ser cumpri-la. Como se pode ver, não é tão difícil assim...

Recordista...

Não, não estou falando de esportes. Infelizmente, falo de homicídios. Pois saibam que o número de assassinatos no País supera a soma de muitos outros países, a maioria do primeiro mundo. Outros subdesenvolvidos como nós e outros miseráveis. Os números são aterradores, considerando-se a relação população/número de mortes: o Brasil chega ao assustador índice de 28,9% de mortes num universo de cada 100 mil habitantes! Se considerarmos que nossa população beira os 210 milhões, descobrimos eu mais de um quarto da população morre assassinada todos os anos. Ou seja, qualquer cidadão brasileiro corre um risco altíssimo de ser assassinado a qualquer momento, risco bem maior do que a soma de muitos países.

Para complicar ainda mais o problema, descobre-se que a relação pobreza/desigualdade, mantra dos progressistas, cai por terra quando descobrimos que países como Nigéria (9,79% em cada 100 mil), Bangladesh (2,51% em cada 100mil), Indonésia (0,50% em cada 100 mil) ou o Paquistão (7,81% em cada 100 mil) tem renda per capita muitíssimo inferior à brasileira. O Paquistão, que além da pobreza vive enfrentando a guerra, tem a renda per capita 10% abaixo da brasileira e a Indonésia tem uma renda per capita 50% da nossa!

Então, pergunta-se: qual o real motivo para tanta violência? Como conseguimos atingir 60 mil assassinatos em apenas um ano? Claro, fatores sociais fazem parte da receita, mas precisamos lembrar as deficiências da nossa Educação, ou essa indestrutível desigualdade que se arrasta pelo País desde o descobrimento e o total desprezo pelo cumprimento das leis como fica bem claro diante do posicionamento dos juízes trabalhistas. Há a necessidade de um estudo sério e profundo para se chegar ao cerne do problema ou continuarão a proliferar as ideias ridículas e imbecis que defendem a pena de morte ou "bandido bom é bandido morto", maluquices que se multiplicam com a velocidade da luz nas redes sociais.

Atravessamos momentos tão estranhos, que gênios como Thomas Sowell, brilhante economista americano vencedor do Nobel, crítico das cotas raciais e defensor de uma economia de mercado, provavelmente seria crucificado numa praça qualquer, logo após o futebol de domingo. A colunista Ana Paula Henkel, brilhante com a caneta como foi na seleção brasileira de vôlei, mostra bem em sua coluna do Estadão que vivemos tempos difíceis, onde o bom senso e os pés no chão são derrotados pelo passionalismo burro. Seu blog, com o título "Thomas Sowell é coisa de preto", chega bem próximo do brilhantismo. Um detalhe: Sowell é preto, tem origens paupérrimas e viveu nos guetos de Chicago.

Sim, o momento em que vivemos não nos deixará saudades. O Brasil de hoje está chato, triste, melancólico e nem mesmo o futebol está nos emocionando. Tem-se a sensação de que vivemos numa bola que se mantém no século 17/18, lutando com todas as forças para se manter naqueles tempos tristes. Qualquer novidade ou mudança nas regras do jogo, mesmo que passadas pelo Congresso, acabam em discussão, dicotomia, uma perda de tempo incrível, um cansaço enlouquecedor.

Sim, vivemos num País distópico....

Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado
e trabalhou para vários jornais e revistas
ao longo de 40 anos de carreira.
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quando quer e quando sente vontade,
pois, como dissemos acima,
Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado.

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