Não procure, de
fato, entender tudo isso diante dos seus olhos.
Apenas entenda
que são circunstâncias inevitáveis, quase sempre frutos de nossas próprias
permissões.
Porque quando,
de início, não se permite que a indignidade seja ‘um norte’, uma disputa alheia
jamais te alcançará. Simplesmente, não se sangra, as aberturas coagulam e nada
daquilo que partiu no último trem realmente deveria ter ficado.
Entenda que tudo
isso não ficaria de jeito algum.
Simplesmente
porque tudo isso te põe a pique. De tudo aquilo que te constitui, não seriam
essas pessoas o melhor do teu nervo pleno e pacífico, frutífero, amoroso até o
último fio-de-cabelo. Entenda: elas seriam protagonistas de trazer à tona o que
há de pior em ti.
Não ficariam de modo
algum.
Por mais que se
quisesse... por mais que fosse pleno o desejo de uma permanência, há de se
revolucionar cá dentro para se amar lá fora. Nem que para isso se depare com a
queda, com as próprias limitações, com a velha perturbação, amiga de longa data, que habita a mente.
Há de se mexer
cá dentro naquilo que precisa ser mexido, mesmo que com muito atraso, para que
se viva o júbilo que te espera lá fora.
Não haveria
espaço na manutenção de tudo aquilo que te rouba a natureza, a essência. Agir
em conformidade do que se gostaria de ter na vida é o início de uma jornada
muito solitária, como mostra boa parte das histórias, mas talvez o único
caminho para o retorno de todas as transformações para melhor.
Não existe o ser
humano “desapegado”: quando algo é muito bom, é natural que nos apeguemos. Tudo
aquilo que nos foi muito bom em algum ponto lá atrás tem plena possibilidade de
voltar nessa mesma estação dentro de formas totalmente pertinentes com aquilo
que queremos, para nos fazer bem... não para repetir todas histórias que nos fizeram tanto mal.
Entenda que não
é todo mundo que deseja participar dessa jornada. E entenda que nem todo mundo
será permitido quando uma nova viagem se inicia.
Não caia na
armadilha de “um novo começo” nada mais ser do que a repetição “do mais da
mesma coisa”, esse troço custoso que te acompanha anos a fio. Tenha a
sensibilidade de não por em pés sobre o cadafalso desse “tudo o que sempre foi”
sem, de fato, definitivamente, mudar a mente e o espírito para gesto em
conformidade daquilo que realmente se quer para a própria vida.
Não adianta
muito se lançar a certas mudanças sentando-se quase sempre no lado errado da
mesa, “hangin’ out with the wrong crowd”, com operações destemperadas e
infantilmente previsíveis. A questão não está no “só faço merda”, mas quando você
finalmente vai ‘cair em si’ e “... parar de fazer merda”.
O que pode ser
um grande início...
E depois de
‘cair em si’, verificar, lá dentro, o que você realmente quer para sua vida: um
exército de pessoas que não hesitam em apunhalá-lo(a) sem grandes motivos
aparentes ou aquelas duas, três pessoas realmente especialíssimas para você,
fiéis até imersas em lava, capazes de te encher de um prazer inenarrável com
somente suas simples presenças?!
Não faça de um
novo ano a repetição do “tudo o que sempre foi”...
Entenda-se!
Busque cura, se for o caso, troque os estímulos traiçoeiros pela perenidade e
consistência oriundas da solitude necessária para o retorno do sonho. Sem isso,
a revolução não acontecerá.
Chegou o grande
dia! Hora de realmente fazer diferente, diferente desse “tudo o que sempre
foi”, com essas mesmas pessoas, com esses mesmos lugares, com esses mesmos
estímulos, cometendo-se os mesmos erros, um ar pesado e rançoso originário
desse grande medo da solidão.
Não combata a
solidão! Entenda que ela é a carregadora da plataforma dessa estação que te
ajudará a colocar na composição toda essa bagagem que você não precisa mais.
Ainda que isso
doa vez e outra, ainda que seja áspera. Porém, é ela que colocará dentro do trem
coisas e pessoas que já deviam ter ido embora há tanto.
A máquina
apita... a composição deixará a estação. Embarque essas coisas que, como já se
viu, não são tuas e tenha consciência do que faz para o retorno desse trem,
trazendo coisas muito melhores e retornos de tudo há tanto desejados.
leciona Inglês para sobreviver,
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO
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