Sunday, November 4, 2018

RESCALDO DE UMA ELEIÇÃO TUMULTUADA, MAS DE LIÇÕES IMPORTANTES (por Alvaro Carvalho Jr)



Em toda sua história, que não chega a ser tão grande assim, o Brasil nunca teve eleições tão tumultuadas como essa que se encerrou domingo passado. Foram meses de agressões físicas e verbais, xingamentos mentiras, ofensas; enfim valeu tudo: dedo no olho, passar a mão na bunda, xingar a mãe, cusparada pontapé no saco e tudo mais. Ruim? Péssimo, mas como dizia minha mãe, sempre se tira algo de bom desses momentos de crise. E, se formos inteligentes, poderemos transformar completamente nossa vida política daqui para a frente. Basta analisar os números finais do pleito e teremos uma surpresa que, na verdade, não sei se agradável ou preocupante.

Pois bem. De um universo de 104.838.753 votantes, 30,87% simplesmente não participaram do pleito. Uns anularam seus votos, outros votaram em branco e outros, a maioria (21,30 %), simplesmente preferiu ir para a praia. Mesmo considerando que a não participação no pleito seja um comportamento político, trata-se de uma massa suficiente para colocar um candidato no segundo turno, caso todos resolvessem apostar num só nome. E, caso esse nome já tivesse alguns correligionários, levaria o caneco no primeiro turno, enterrando Bolsonaro e Haddad na mesma cova.

Assim, isso vem provar  a total falência do atual sistema político brasileiro. Não dá mais para conviver com ele; um facilitador e criador de bandidos, de falcatruas e o que é mais preocupante ainda: um sistema mercantilista, onde pequenos partidos vivem desse famigerado Fundo Partidário, nascedouro dessa vilania chamada “coalizão política”, que seria melhor definida como formação de quadrilha, simplesmente. Mas essa são as regras atuais e a democracia exige que leis, boas ou más, devem ser obedecidas e respeitadas. Por isso, esse último pleito nos ensina e adverte, que chegou a hora de mudar, de alterar completamente todo o sistema, optando por algo que funcione de maneira clara, transparente, onde o eleitor seja o rei da cocada branca.

Caso contrário, continuaremos a eleger presidentes como é o atual caso de Jair Messias Bolsonaro: eleito por maioria simples, mas sem a representatividade que pensa ter. Claro, seus admiradores afirmarão que “do alto dos seus 57 milhões e votos”, tem força para fazer grandes alterações. Não discordo, mas volto aos números e o ambiente no qual ele foi eleito:

Jair Bolsonaro teve, exatos, 57.797.847 votos, ou 55,13% do universo de eleitores. Mas, aí é que a coisa pega. Pergunto: quantos  apoiaram seu nome com certeza? Quantos acreditam mesmo no programa que apresentou aos eleitores, se é que apresentou algum? Ou será que um percentual muito, mas muito mesmo, alto o apoiou simplesmente para afastar o PT do caminho, cansados de tantos anos de bandalheira explícita diariamente nos jornais? Essa é a grande questão.

Por outro lado, Fernando Haddad atingiu os 47.040.906 votos, ou 44,87% do universo de eleitores. Volto a perguntar: quantos votaram acreditando mesmo num programa apresentado pelo candidato? Quantos tiveram certeza do que estavam fazendo? Ou quantos eleitores simplesmente votaram em seu nome para tentar fugir d ameaça fascista que Bolsonaro representava, depois de declarações assustadores e intimidadoras?

Chegamos à conclusão de que, ao final, fomos para o segundo turno sem uma verdadeiera opção, sem uma verdadeira opção, sem um candidato que pudéssemos chamar de estadista, coisa rara nos dias de hoje. Fica claro que esse vácuo de votos brancos, nulos e abstenções deixa em aberto uma enorme espaço para o surgimento de algum movimento –- desde que bons nomes e seriedade -- que venha alterar completamente nosso atual espctro político. Lembrem-se, numa somatória de brancos, nulos e abstenções, chegamos ao insano número de 42.466.402 eleitores. É muita gente desinteressada da política e que não quer participar. É muito triste.

Explicação para esse fenômeno existe. A proletarização de nossa vida política é de responsabilidade das lideranças que hoje dominam os partidos. Como se fossem capitanias hereditárias, vivem do dinheiro que vem do poder e de homens autoritários que não querem, em absoluto, largar o osso. Vamos usar dois casos emblemáticos: PSDB e PT. Ao longo dos anos, desde nossa democratização, ambos polarizaram o cenário nacional, alternado-se no poder sem dar a mínima chance para alguém. Partidos dominados por meia dúzia de iluminados e por indíduos que, de maneira mais dura ou suave, mas sempe com força suficiente para empurrar uma montanha, decidem tudo.

Ninguém vai ao banheiro fazer xixi, no PT, sem antes pedir licença ao presidiário Lula. Chegamos ao cúmulo, nestas últimas eleições, de o seu candidato ir semanalmente à cadeia onde seu líder está preso por corrupção, pedir orientação para a campanha. Ridículo é elogio. E no PSDB, ninguém abre o champagne sem antes perguntar ao FHC qual a temperatura da bebida. Sentado numa confortável poltrona do século XV, dita os caminhos que o partido deve seguir, sempre fantasiado de democrata incorrigível. Mas não larga os talheres de prata.

Diante dessas posturas, homens de bem e inteligentes não se submetem aos caprichos de pessoas sabidamente dominadoras. Preferem entregar suas inteligências na iniciativa privada, onde, pelo menos, são respeitados pelo que pensam e assumem postura independente em qualquer circunstância. Homens sérios e de bem não serão nunca fantoches de pseudos líderes. Esses homens que se acham os donos da polítioca brasileira deveriam ir para casa, cuidar dos netos e deixar o Brasil andar com as próprias pernas. Permitir que gente jovem, com novas idéias, comecem a empurrar este País para a frente.

Posso estar enganado, mas acredito que o centro seja a grande tendência do brasileiro, apostando que Sergio Buarque de Holanda esteja certo. Não somos belicosos como os americanos e nem duros como os europeus. Podemos ser pessimamente educados e sem compostura. Se temos violência nas ruas, é o resultado de um sistema educacional destruído e de uma segurança abandonada. Eduque e acerte a segurança e tenho certeza de que nossos índices de criminalidade  serão surpreendentes.

Claro, precisamos enterrar de vez esses partidecos que surgem em todas as eleições. Vejam o caso do Eymael, o democrata cristão, que já entrou em hibernação e, ao lado de Marina Silva, voltará dentro de mais dois anos. Arrisco-me a dizer que personagens como Boulos (?), cabo Daciolo e outros menos cotados não ajudam em nada na democracia. O povo deveria execrá-los via voto. E só não incluo o NOVO nessa lista apenas porque elegeram um governador (Minas Gerais), 8 deputados federais e nem sei quantos estaduais, numa demonstração clássica de que a população anda louca correndo atrás de algo que mude o atual espectro político do País.


Enfim, entre mortos e feridos, todos se salvaram. Com todos os tumultos,  brigas, xingamentos e agressões, nossas instituições estão funcionando perfeitamente. As urnas eletrônicas, tão criticadas, fizeram seu papel com perfeição e a democracia foi consagrada. Não me venham afirmar que não temos democracia no País. Temos e estamos aperfeiçoando dia a dia. Foi um domingo de festa. Nosso grande problema, ainda, é o da compostura, detalhe que minha mãe corrigia com bom chinelo nas mãos e muito castigo. Mas que demos uma aula de consciência democrática, HÁ!, demos. Claro, com um xingamento aqui, outro alí, mas agora em tom bem mais baixo...Adiós.


Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado
e trabalhou para vários jornais e revistas
ao longo de 40 anos de carreira.
Colabora com LEVA UM CASAQUINHO
quando esquece que está aposentado.



1 comment:

  1. Excelente matéria...
    Sou uma que votei no Bolsonano no segundo turno pra tirar o PT...
    Nunca seria meu voto caso houvesse outra opção...

    ReplyDelete