A vantagem de se
tocar um ‘secos & molhados’ é que há certa informalidade no tratamento de
pessoas & coisas.
Às vezes, era para
ser leve, mas acaba não sendo.
Em outras, há peso,
mas se procura alguma leveza.
O ‘mundão-de-meu-Deus’
não está para brincadeiras: show de ódio, raiva, xingamentos, intemperâncias,
intolerâncias... e mais uma dúzia de péssimos sentimentos.
Em todas, uma espécie
de ‘cagaço monumental’ contra as quase sempre costumeiras (e frequentes!) má-interpretações.
Os conteúdos não
andam sendo o mais simples dos mundos. Logo, é preciso dar um jeito na
bagaceira-transgênica para que a ópera não saia do tom.
Numa avalanche de
informações diárias, há de se concordar que a ‘caozada’ se avizinha (fake news!).
Em alguns casos, com o claro objetivo de destruir, por completo, a reputação de
uma pessoa.
Contra isso, andam
pintando, aqui e acolá, tentativas de se dar autoria aos conteúdos. A primeira
abordagem sempre recai sobre as questões de ‘copyright’ (direito autoral). Algo
bem longe de ser simples, simples, ‘simplérrimo’...
Quem acompanha
direito & webesfera, já ouviu falar sobre os artigos 11 e 13 de uma lei de
meios tramitando na União Européia que, em breve, entrará em vigor. Os dois
artigos trazem liberdade para empresas de VOD e redes sociais de retirarem do
ar qualquer conteúdo que contenha, por exemplo, dados & conteúdo produzidos
(sob muito esforço & custo) por terceiros (leia-se empresas de comunicação,
jornalismo).
Uma lógica para lá de
simples: uma empresa de televisão gasta uma nota preta para colocar um
informativo no ar, e a galera pega trechos inteiros das reportagens para
colocar em seus próprios vídeos.
Sem contar que os
canais de ‘vlogueiros’ se “monetarizam” volumosamente apenas repassando
conteúdo no qual não gastaram um tostãozinho para produzí-lo.
‘Tá’ fácil, ‘né’?!
Pois bem, pelos tais
artigos 11 e 13, se a empresa que fornece a hospedagem desses canais sacar a
manobra sinistra e fizer nada, sofrerá consequências razoáveis. Ou seja, esses
serviços & empresas terão, quase que obrigatoriamente, de tirar do ar
conteúdos que contenham material produzido previamente por quem for.
E, então?! Censura?
Defesa do direito autoral posto que o conteúdo foi produzido com grande esforço
por uma empresa jornalística, que investiu uma dinheirama para ‘tornar carne’
tal conteúdo?!
Em que ponto a nossa
prática do compartilhamento em redes sociais, até mesmo de links de notícias e
reportagens especiais, não pode ser encarado com uma espécie de “pirataria”?!
Só que, agora, o
‘espírito de torquemada’ anda se alastrando de uma forma que, logo, logo, ter
uma rede social pode ser encarado como delito, seja de transmissão ou de
conteúdo.
A Google, detentora
do Você Tubo (YouTube), na linha do “não indicar vídeos que contenham material
de terceiros”, ampliou o tamanho da ‘pegada’ e pode, na maior, interferir no
seu direito a entrar em contato com as coisas do mundo de acordo com o que você
deseja.
Não indicar um vídeo
desse ‘imagético’ merceeiro porque ele utiliza material dos outros e monetariza
sua mercearia com algo que ele não produziu é até compreensível.
Agora, não indicar
vídeo, e colocá-lo na 84ª posição após utilizar a ferramenta de busca, porque
foi considerado por essa mesma empresa como “conteúdo tóxico” (ou inadequado),
ruim para o(a) usuário(a), é um limite para lá de tênue e bastante perigoso.
É tirar do(a)
usuário(a) o direito de procurar aquilo que bem entender por intermédio desse
site (e sua respectiva ferramenta de busca). A empresa pode, de cima para
baixo, achar “desenho animado” uma coisa altamente alienante (ou divulgador de
‘teses estapafúrdias’) e dificultar tanto a indicação quanto a busca dessa
forma de conteúdo.
Se, por exemplo, a
Google considerar ‘receita de bolo sem farinha’ algo que pode se tornar nocivo
ao(à) seu/sua usuário(a), ele, além de não sugerir como ‘vídeo relacionado’,
coloca na posição 132ª da busca mesmo que seja a postagem mais indicada e vista
sobre esse assunto.
A lista atual, hoje,
inclui temas como “cura milagrosa para doenças terminais (ou graves)”, “terra
plana”, “11 de setembro”, entre tantos que a Google acredita ser apenas “...
delírio da cabeça de algumas pessoas na face da Terra”.
Pois, então, essa
setembrina mercearia propõe: beleza, querido(a) freguês(a)! Se você quiser
saber se houve mesmo “teoria da conspiração” no 11 de setembro, você vai
encontrar 131 vídeos de gente dizendo que “ah... isso é bobagem!” antes de você
achar um vídeo que, seriamente, trata sobre o assunto?! E se você, querido(a)
freguês(a), estiver a fim de, sei lá, saber finalmente do que se trata essa
celeuma toda em torno da tal “terra plana”, você terá de se deparar com 213
vídeos de gente dizendo que você é doido(a) antes de achar alguém que procura
informar cientificamente sobre essa possibilidade?!
O que a Google
indicou nesses últimos tempos é que: a. ela acha que “terra plana”, “cura
alternativa de doenças graves”, “teorias conspiratórias sobre 11 de setembro”,
é coisa de ‘doidinho(a)’; b. exatamente por esse motivo, ela colocará na frente
dos resultados de busca um quatrilhão de gente dizendo o contrário apenas para
fazer o(a) querido(a) freguês(a) cansar e desistir de encontrar um vídeo que
trate do assunto com seriedade e/ou base científica (de pesquisa).
Não é censura: é bem
pior que isso! Ela pega todas as opiniões contrárias e faz uma
‘cortina-de-fumaça’ exatamente para que o(a) usuário(a) não encontre os vídeos
mais populares e que são populares justamente porque tratam o assunto com
seriedade e, às vezes, rigor científico.
Não é censura: é bem
pior que isso! É contrasserviço! Não é censurar a “terra plana” ao dificultar
todos os vídeos, mas pegar a opinião contrária e favorecê-la ao colocá-la na
frente.
Perceberam o que está
por vir?!
Do jeito que a coisa
será feita, o interesse do(a) usuário(a) sobre certo tema (e a liberdade de
declarar possibilidades!) pouco importará na disposição das apresentações dos
‘vídeos mais recentes’ ou ‘vídeos mais populares’. Se a Google, detentora do
YouTube, decidir que mercearias são delírios de vossas cabeças, uma ideia sem
pé, nem cabeça, que só traz desinformação e péssimas condições aos(às)
seus/suas usuários(as), ela penderá em favor de todos aqueles vídeos que dizem
que mercearia “... é doidice” e complicará tanto os resultados de busca quanto
os ‘vídeos mais populares’.
Censura ‘mudérna’?!
Porque a empresa, na boa, se defenderá ao declarar que “... que não fazemos
censura! Apenas desfavorece vídeos de ‘conteúdos delirantes’ ao favorecer
aqueles que afirmam que ‘tal tema’ é ‘delírio’. Afinal, não tiramos tais vídeos
do ar!”.
Ah, ‘tá’! Cabe agora
à empresa descrever o que devemos pensar?! Cabe à empresa ‘bater o martelo’
sobre “achismos”?! Ela realmente tem ‘bala na agulha’ para estabelecer qual
tema é ‘delírio’ ou não?!
Perceberam que ela,
ao ‘bel prazer’, pode, repentinamente, decidir que certa área é ‘doidice’ e
fazê-la desaparecer da face da Terra?! E se a próxima área (ou assunto) afetada
for a neurologia, a residência médica, a logística portuária, alguma pedagogia
consagrada, fica como?!
Pois bem! Em algum
ponto da história, independente do motivo, o sol girava em torno da Terra. Já
pensou se a galera, naquela época, postasse vídeos afirmando que era o
contrário?! A Google faria o quê?! ‘Meteria o loko’ e faria desaparecer dos
olhos do(a) usuário(a) as versões que, nos dias de hoje, são a norma corrente?!
Perceberam o tamanho
do desastre?!
Com qual base a
empresa teria como afirmar que a Terra jamais giraria em torno do sol?! Ela é
uma empresa de hospedagem de vídeos, não uma instituição científica que, por
conta própria, teria como entender o quanto seria amalucada a ideia da Terra
girando em torno do sol.
Perceberam o tamanho
da nociva interferência em relação às possibilidades que podem virar informação
exata lá adiante?!
Uma empresa de
hospedagem de vídeo?! Se fosse a Nasa, até entenderíamos. Mas não é o caso! Ela
não teria grande capacidade para interferir em quaisquer possibilidades humanas
e científicas simplesmente trocando censura por favorecimento de clientes que
postam aquilo que simplesmente é música aos seus próprios ouvidos.
Ou seja, vem osso
duro de roer pela frente. Dependendo de como for, se pintar uma caça às bruxas,
de repente, os(as) perseguidores(as) podem contar com a participação do site de
hospedagem de vídeo para terminar de fazer o resto do “trabalhinho”.
É, por essas e
outras, que às vezes fico a pensar que, em breve, ser merceeiro será, acima de
tudo, um ato revolucionário.
“Enquanto Seu Lobo
não vem”, os ‘brecinhos’ estão uma beleza, querido(a) freguês(a)! Algum café
& colóquio nessa Mercearia que custa a pregar as pestanas diante de vários
descalabros mundo afora.
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 47 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É autor de Areias Lunares
(à venda na Disqueria,
Av. Conselheiro Nébias
quase esquina com o Oceano Atlântico)
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO
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