Tuesday, March 12, 2019

ROCK PARA ENTRETER O SOL (por Flávio Viegas Amoreira)



Com esse calor nenhum intelectualismo resiste ao doce far niente o som despojado dalguma bandinha cult indie solta ao vento restaurador. Canicula senegalesca abrasadora sensação de sufocamento que pede desregramento de todos sentidos e poros uma entrega radical aos sonidos que nos resgatem confiança e não sei porque cargas d’água e aja água para refrescar curto ouvir “There’s Too Much Love” do Belle & Sebastian, sorvendo frutas da estação.  Descobri que aquele lindinho filme gay brasileiro usa essa canção divina como tema: “Hoje eu quero voltar sozinho”, assistiram?  Recomendo aos estetas, aos sensíveis, aos que amam atemporalmente, faça quarenta ou 10 graus nesse litoral encantado pelos deuses da transgressão tranqüila.... Em 2019 nesse espaço do “Casaquinho” quero refletir sobre Nicks Drake e Cave, rock indie irlandês & a inserção do rock no cinema dos anos 70 onde ferveu como nunca... começo ano com um poemeto dedicado aos que sinergicamente sentem o rock feito poesia:

“na disposição da estante sob a foto de Jim Morrison / sem preguiça da mente / a intenção da lida / sair as ruas com olhos despregados da razão / afinal os domingos mais que nunca são para sempre imperceptível essa esquina tem florido um caminho e outro quem sabe o mundo real tenha sido esse arbusto
e o mundo nada previsível para seres desatentos ainda se surpreendem com chuvas de verão
pouso a mão em teu peito dourado de sol e teus mamilos sagazes
nenhum objeto ou relicário
nem foto porque os tempos são outros
de ti a lembrança só até o próximo encontro
e reter teus pelos pubianos
num verso inspirado entre bibelôts cobertos de pó
porque contigo ando descalço pelas rotas de Dublin até notar a aparência rubra
das frutas da estação / o viço das hortaliças
sem perder o horário do trem ardendo nos trilhos dilatados por esse verão
atípico teu nariz me vem a lembrança e tua boca safada cuidando de ajeitar a dobra
do meu chapéu rançoso de uso pelo caminho do tecido com o mesmo veludo de teus dedos ligeiros amor!
na beirada da janela nenhum vaso / quem sabe uma boa avenca ou suculenta
já que a paisagem me consome sem esforço / e penso: o que faz os golfinhos felizes
não é o cansaço empreendido dos seus membros nem a caça dos peixes
o que faz os golfinhos felizes amor!
talvez a existência das ondas
a suprema alegria do mar!”

[Flávio Viegas Amoreira, poeta]



Poeta, contista e crítico literário,
Flávio Viegas Amoreira é das mais inventivas
vozes da Nova Literatura Brasileira
surgidas na virada do século: a ‘’Geração 00’’.
Utiliza forte experimentação formal
e inovação de conteúdos, alternando
gêneros diversos em sintaxe fragmentada.
Participante de movimentos culturais
e de fomento à leitura, é autor de livros como
Maralto (2002), A Biblioteca Submergida (2003),
Contogramas (2004) e Escorbuto, Cantos da Costa (2005).
Este é seu mais recente trabalho publicado:


No comments:

Post a Comment