Tuesday, May 7, 2019

CONTORÇÃO, RETORÇÃO E DISTORÇÃO (por Marcelo Rayel Correggiari)


"(...) Isso explica porque acho que os pós-modernistas também estão errados. Eles dizem algo como: "Há um número infinito de interpretações do mundo". Isso realmente é verdade. Mas, aí, eles cometem um erro ao afirmar: "Nenhuma interpretação tem privilégio sobre qualquer outra interpretação". ERRADO! ERRADO! É aí que as coisas começam a desencarrilhar. (...) Há um número infinito de interpretações, mas há um número finito de soluções. As soluções são restringidas pelo mundo, e pelo nosso sofrimento no mundo, e também restringidas pelo fato de que uma pessoa restringe a outra. É por esse motivo que eu acho que eles estão terrivelmente enganados. (...) Nunca vi, durante todos esses anos de trabalho como psicólogo clínico - e isso é algo que me aterroriza de verdade - nunca vi alguém sair ileso de qualquer coisa nem mesmo uma única vez! (...) Talvez vocês não concordem, talvez vocês acreditem que pessoas podem sair ilesas o tempo todo. Eu digo: nunca vi isso. O que eu vejo mesmo é: algo acontece. E alguém vem e retorce a trama da realidade. Há certo "sucesso" no início porque essa pessoa não abre a mão que mantém esse retorcimento, mas, dois anos depois, algo sai do controle. Essa pessoa sai de si e diz: "Isso é tão injusto!". Então, rastreamos sua origem: "O que aconteceu?". "Isto". "E antes?". "Isto". "E antes?". "Isto". "E antes?". "Oh...! Olha! Isso! Isso é o que deu errado!". Sim, porque você pode retorcer a trama da realidade sem abrir sua mão para que ela volte ao normal. Não funciona desse jeito! E por que funcionaria?! O que você vai fazer?! Retorcer a trama da realidade?! Acho que não! (...) Caminhamos num limite muito fino e estreito, e temos sorte quando as coisas degeneram em direção ao caos e rapidamente nos movemos em direção à ordem. E não é uma coisa simples se manter nessa linha. Você pode dizer que está na linha porque as coisas carregam um significado profundo quando você se esforça em se manter nessa linha. Mas se você não está existencialmente aterrorizado quanto às consequências de se desviar do caminho, você realmente não está em si. E é isso que eu vejo quando olho para essa imagem: "Cuidado! Porque há regras! E se você violá-las, ... que Deus te ajude! (...)"

[PETERSON, Jordan B. “Série Bíblica III: Deus e a Hierarquia da Autoridade”. YouTube, publicado em 06 de junho de 2017, disponível a partir do minuto 88’ em www.youtube.com/watch?v=R_GPAl_q2QQ]

Querido freguês, querida freguesa, lutadora Mercearia ainda de portas abertas para melhor atender nossos(as) clientes.
Apensar dos pesares, ...
O mundo é bonito, mas pródigo em sepultar, nem que seja dentro do oco sob os estrados de uma cama, qualidades, sonhos, histórias, percursos, itinerários, mais um monte de coisas.
Resiliência, insistência ou teimosia?! Sabe-se lá...!
Muito esse cansado merceeiro já proseou sobre a interferência, e o quanto não deveríamos confiar tanto nas coisas e pessoas. Entregar ‘validação’ nas mãos dos outros pode ser uma merda brutal.
Sim! Somos nós mesmos que confeccionamos tal sepulcro. Um pouco na conta dos outros, é certo, mas um pouquinho, sim, na nossa própria conta.
Se tem um sujeito que chega às raias do brilhantismo é esse Jordan Peterson. Mestre! Tido como conservador, anti-“politicamente correto” (o que, ultimamente, anda um saco, apesar de entender perfeitamente a pertinência do requerimento), machista, raivoso, entre tantos adjetivos completamente incabíveis, o psicólogo clínico e professor da Universidade de Toronto é um dos pouco ao redor do planeta, hoje, que fala ‘coisa-com-coisa’ e, portanto, recebendo predicados totalmente fora-de-questão justamente por falar sobre ‘as coisas como elas realmente são’.
Se tem alguém nesse ‘mundão’ que paga caro por falar a verdade, esse cara é o Jordan Peterson.
A abertura da coluna de hoje é um pequeno pedaço de duas horas e meia de palestra-aula: a famosa Série Bíblica, onde Peterson dá um show de intertexto, infelizmente, não mais encontrado nos melhores cursos de Letras país afora.
Como somos pródigos em avacalhar as coisas! Ainda bem que se ergue, vez e outra, alguém como Jordan Peterson.
Principalmente porque ele é um daqueles sujeitos que não se cansam em ‘malhar a ferro frio’: é capaz de virar a própria vida do avesso em nome de não mais se cair em ‘ciladazinhas’ que, em geral, enlouquecem gente, a mesma gente que vai parar com os costados na clínica dele.
Aí está a força dele: ele fala a partir da experiência de psicólogo clínico. Ele não fala “de orelhada”! Sabe do que está falando porque tem o assunto a partir de uma vivência profissional: o negócio não é somente estudado, mas igualmente visto, vivido.
Aí, fodeu! Quando ele abre a boca para sentar o relho, é, foi ou será! Até o Olavo de Carvalho já se pronunciou a respeito dele: “Ele não erra uma!”.
O difícil na tarefa de derrubá-lo é que ele parte da Ciência, humana ou biológica. Aí, fodeu (parte II, “A Missão”)! O combate dele contra a porra da hipocrisia que assola o mundo (e parte do querido Canadá, em especial, a “Terra do Politicamente Correto”) possui um alicerce em que qualquer confronto contra ele exige da outra parte muito fôlego dissertativo (como dizia o saudoso Prof. Itagiba).
O pior (ou melhor!): ele é traquejado no debate. Sabe aquele debate “da barra pesada”?! Ele detona em todos! Seria até curioso vê-lo diante da ‘intelligentsia nacional’: os(as) queridos(as) fofuchos(as) compatriotas, repletos de Hannah Arendt (mas que adoram foder a vida do próximo, diga-se de passagem, no pior show de hipocrisia quase ombro-a-ombro com os canadenses), sendo devidamente jantados(as) ao longo de 180 a 300 segundos.
Nesse trecho de abertura da coluna de hoje, ele analisa uma imagem de Moisés descendo do monte com as tábuas da lei, passagem que, inclusive, está no prefácio escrito pelo também brilhante Norman Doidge do best-seller mundial de Peterson “12 Regras para a Vida – Um antídoto para o Caos” através de uma anedota judaica:
“(...) Eles haviam sido escravos do Faraó e submetidos às suas regras tirânicas por 400 anos e, após isso, Moisés os sujeitou ao deserto inclemente por outros 40 anos para purificá-los de sua servidão. Agora, finalmente libertos, estão desenfreados e perderam o controle dançando loucamente em frente a um ídolo, um bezerro de ouro, exibindo todas as formas de corrupção corpórea.
Tenho boas... e más notícias, —brada o legislador para eles. — Quais vocês querem primeiro?
— As boas notícias! —responderam os hedonistas.
— Consegui convencê-Lo a reduzir de 15 para 10 mandamentos!
— Aleluia! — exclama a multidão desenfreada. —E as más?
— Adultério ainda está na lista. (...)”
Uma de nossas responsabilidades, e que bem explica a coisa ter chegado na merda que chegou, é nossa vã tentativa de “... pegar a realidade e retorcê-la em nosso favor”.
Sabe o ‘forçar a barra’?!
O que Peterson explica é que isso tem um sucesso inicial até bom. O problema é que, com o passar do tempo, o troço fica “relativo”.
É aí que começa a bosta!
Vejamos o caso da famigerada ‘esquerda’ nacional: nada pode melhor exemplificar o trambolho do que ‘a canhota’ verde-e-amarela. Não faz o ‘mea culpa’ nem fodendo! Põe a mão na realidade, vão retorcendo, retorcendo, retorcendo, só que, no dia em que a soltam (por ‘n’ motivos & circunstâncias), percebem que a realidade em questão é uma que só existe na cabeça dela, e não “a de fato”.
O mesmo vale para seus/suas componentes: jogam a cortina-de-fumaça (“... foi golpe...”, “... ninguém larga a mão de ninguém...”, “Lula livre!”) e se descolam da realidade com uma potência muito, mas muito maior do que qualquer portador(a) de psicose.
A coisa sai de um simples ‘embate político polarizado’ e parte para um seríssimo problema de saúde mental que produz o seu oposto: a mesma coisa, só que com a ‘chave invertida’, que responde pelo nome de direita e que produz as mesmas sandices de outrora.
Porra! Aí é de foder!
Seus componentes (da direita é até compreensível, mas, dos oriundos da esquerda, é do cu cair da bunda!) partem para “O Show da Locupletação”: falam muito em “lugar de fala”, mas não hesitam nem um pouquinho em ‘se meter na área dos outros’. É de foder! Promovem um discurso e fazem o contrário, um ‘sambarilóvi’ doentio, autorizam-se com o tal “lugar de fala” para desautorizar todos os demais autorizados em participar do debate.
Isso até funcionou durante bom tempo com esse abatido merceeiro. Certamente, não funciona nem um pouquinho com Jordan Peterson.
Simples: porque Peterson sabe o resultado da merda. Essas divisões inteiras, numerosas, de gente perdendo a saúde mental porque ‘retorceu a realidade’ para conseguir alguma vantagem instantânea. Em certa hora, a ‘conta não fecha’. Quando isso ocorre, dana-se a correr para os braços do psicólogo clínico.
Jordan Peterson é bem enfático: “Não inventa!”, só para parecer ‘bunitinho’ na foto ou ser lembrado(a) pelos(as) amiguxos(as) quando algum “eventinho” estiver por perto. “Isso não é vida”, diria Peterson. “Isso é RP!”. Nem sempre as relações guardam glórias e saber lidar com as dores delas oriundas é que ajuda a manter a saúde mental.
Até mesmo porque isso o(a) ajuda em situações-chave: quem fabrica carros costuma ser péssimo(a) merceeiro(a) (e vice-versa). Meter-se na seara dos outros?! Que feio! Essa quebra de fronteiras também é a quebra da decência mínima necessária até mesmo para manter relacionamentos e amizades duradouras.
Cabe, aqui, um pequeno “senão”: quase sempre os relacionamentos não são feitos para ‘realmente se conhecer a outra pessoa, o outro lado’. Ultimamente, pessoas se relacionam apenas com “uma ideia” do que seja o outro, e não com o outro como realmente é.
Esse negócio de lidar “com uma ideia do outro” é que anda botando tudo a perder.
Por sorte, de vez em quando, surgem pessoas e profissionais como Jordan Peterson.
Para a nossa sorte... ou para a nossa alegra!



Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 47 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É autor de Areias Lunares
(à venda na Disqueria,
Av. Conselheiro Nébias
quase esquina com o Oceano Atlântico)
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO

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