"E
quando soar o sino, não estiveres por perto
o
templo ainda reverbera em ti o sentido daquele instante
não
mais consolação / ainda assim o silêncio compartido ecoa dum maio que também
partia depois da magia duma noite sem retorno
não
tens mais aquele maio / nem mais aquela precisa noite
volta-te
ao mar da tua origem: a ele pede reflexos que retenham a lembrança: que as
vagas contenham nas ondas o pó do teu destino
quando
o inverno diz mais uma vez solidão
responde
terno: tiveste num maio passado pausa ao tormento:
foste
o homem com seu amado
das
ruas em silêncio / do vinho ainda em teu hálito;
cálamo
num casto leito
paixão
tão em teu repouso
a
vida não é entendível
compreender
no vácuo do absurdo
no
gesto donde escreve
foste
apartado do meu tempo / mas desde o copo a boca nenhum amargor
ou
ranço / poeto, esvoa-ço
é
a manhã que me sopra e preenche a fala dos homens que crêem nas páginas em
branco / vai por quem quiseres e aceita que a folha siga
como
o ocaso que arde ainda no fogo
torna-te
ode / elegia
eras
um corpo
agora
queda na estante / só amanhece no rosto que move a escrita
longe
é onde a ausência é menor que o desespero
impossível
é o estado da desistência no bom acaso mal percebido
poesia
é a razão sobrevoando de asas soltas
é
amor de caso pensado;
se
amas, mergulha. nada deve ser deixado pela metade
nem
o naufrágio se tanto queiras...
hoje
estou livre da paixão de teu corpo, embarcou um oceano em mim..."
Poeta, contista e crítico literário,
Flávio Viegas Amoreira é das mais inventivas
vozes da Nova Literatura Brasileira
surgidas na virada do século: a ‘’Geração 00’’.
Utiliza forte experimentação formal
e inovação de conteúdos, alternando
gêneros diversos em sintaxe fragmentada.
Vem sendo estudado como uma das vozes
da pós-modernidade literária brasileira
em universidades americanas e européias.
Participante de movimentos culturais
e de fomento à leitura, é autor de livros como
Maralto (2002), A Biblioteca Submergida (2003),
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