Uma
mula, animal de carga da família dos equinos, é resultado da cruza de duas
espécies próximas, o burro e o cavalo. Dada sua natureza híbrida, o termo mula
estendeu-se, na semântica, a toda sorte de mistura entre duas grandezas
distintas. Viria daí o termo "mulato", creem alguns linguistas,
resultado da mistura genética do branco com o negro. Com muito acerto, nestes
tempos de ascensão das pautas sociais, o termo foi banido, por depreciativo,
comparando o mestiço (outra forma de reduzir a humanidade do negro, não do
branco) a um animal irracional.
Há,
contudo, outra corrente de estudiosos que afirma ser a palavra originária do
idioma árabe. Não tenho elementos, e nem este meu estudo acadêmico tem por
escopo autopsiar tal palavra, já exaustivamente investigada. Meu objetivo vai
além de um singelo vocábulo, miro, na verdade, numa frase.
Da
zoologia aprendemos a diferença entre raça e espécie: raças se cruzam, espécies
não. O Boxer pode cruzar com o Rotweiller, mas o cão não cruza com uma raposa.
O gato siamês procria com a gata persa, mas nunca se há de tirar prole de uma
cruza dele com leoa. Embora sejam ambos felinos, são espécies diferentes.
Fosse
exata esta ciência fantástica, a biologia, tudo seria simples. Não é. Há
espécies que ainda se cruzam: o leão que cobre a tigra produz uma criatura
interessante, o ligre. O cão doméstico, nosso melhor amigo, pode fazer, na
loba, filhotes. O rouxinol cruza com o pintassilgo, gerando o canoro pintagol,
jóia dos passarinheiros. E o jumento produz, fecundando a égua, a nossa mula.
De
comum a todos estes híbridos, criações bizarras do Homem, que insiste em
subverter a ordem da Natureza: são todos estéreis. O produto da cruza de duas
espécies distintas não é fértil, ou teríamos o caos. Pra nossa sorte a Natureza
nos supera em sabedoria.
Deixemos
de prolegômeno e vamos à nossa expressão:
As
mulas são estéreis, mas não eunucas. Gostam de sexo. Temos a notícia de um
casal destes animais que partiu a uma queca depois do protocolo de conquista e
namoro. Sabendo que não gerariam filhos, o macho, que neste aspecto não se
diferençava dos humanos que inventaram a genética, vendo sua parceira pronta a
recebê-lo imiscuiu-se por outro caminho que o convencional. Ao que sua
companheira proferiu a clássica expressão:
"Mas
isso é o cúmulo!"
Tá
bom, parei
Germano Quaresma, ou Manuel Herzog,
nasceu em Santos, São Paulo, em 1964.
Criado na cidade de Cubatão,
trabalhou na indústria química
e formou-se em Direito.
Estreou na literatura em 1987
com os poemas de "Brincadeira Surrealista".
É autor dos romances
"A Jaca do Cemitério É Mais Doce" (2017),
"Dec(ad)ência" (2016), "O Evangelista" (2015)
e "Companhia Brasileira de Alquimia" (2013),
além dos livros de poemas
"6 Sonetos D’amor em Branco e Preto" (2016)
e "A Comédia de Alissia Bloom" (2014)
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