Monday, April 4, 2016

ACREDITO NO RESPEITO, ACIMA DE TUDO (por Antonio Luiz Nilo)



Não sou negro, judeu, pobre, gay, gordo, nem feio... mas sou ateu. Ou seja, também sofro preconceito. Honestamente, eu não consigo entender por que a maioria das pessoas torce o nariz ou me trata mal quando descobre que eu não acredito em deus. Assim como também não entendo qualquer outro tipo de preconceito. No meu caso, tive que aprender desde cedo a não me posicionar em relação à religião justamente para não ter que ouvir coisas do tipo: “Todo mundo tem que acreditar em deus” ou “Quando você estiver doente, sofrendo, à beira da morte, vai começar a acreditar na hora”.

Aprendi desde cedo a não discutir a existência de deus pelo simples fato de saber que seria imediatamente discriminado, visto como um herege, um sujeito carregado de más energias, entre outras acusações. Mas, sinceramente, esse é o tipo da coisa que nunca me afetou. Sempre procurei compreender e ponderar a visão dos religiosos. E acredito que seja de fato muito difícil para um crédulo entender um cético. Mas vocês podem ter certeza absoluta que para um cético é muito simples entender a necessidade de se ter uma religião ou uma crença qualquer. Acho mesmo que a maioria dos habitantes do nosso planeta precisa, e muito, disso. É um conforto mais do que compreensível para quem passa por esse mundo cheio de sofrimentos, diferenças e injustiças e não tem forças suficientes para conceber as dificuldades e atribui-las simplesmente à falta de sorte ou ao acaso. Até porque, na minha maneira de pensar, um dos maiores responsáveis pelo destino das pessoas é exatamente o acaso (mas esse é um assunto que merece um outro artigo... quem sabe o próximo).

Acontece que a voz da maioria não costuma ser a voz da razão (a política é um bom exemplo disso). Acreditar em deus não faz dos homens os donos da verdade e nem lhes dá credenciais para diminuir aqueles que não têm inclinações religiosas. Outro dia peguei um táxi e o motorista me perguntou se eu frequentava a igreja. E eu lhe disse que não tinha religião e que não acreditava em deus. Ele ficou indignado. Tentou, até o fim do percurso, me converter ao catolicismo. Aguentei firme, por educação, e não quis, apesar da maior capacidade de persuasão, convencê-lo a transformar-se num ateu.

Em outra ocasião, tive que fazer um curso para padrinho de casamento. E o padre logo me cravou de perguntas embaraçosas. Mas eu me arrisquei: “Não, não tenho religião”... “sim, eu sou ateu”. Pra quê? Foram quase 30 minutos de sermão. E eu pergunto a vocês: por quê? De onde o padre tirou a ideia de que pode mudar a opinião das pessoas... ou pelo menos a minha? Assim como eu também não tenho a pretensão nem o direito de convencer um padre ou outra pessoa qualquer a virar ateu. E não faço isso por um único motivo: respeito. E assim como eu respeito as pessoas, eu espero sinceramente que as pessoas também me respeitem. Mesmo não acreditando em deus, eu sou igualzinho a todo mundo. Acreditem.




Antonio Luiz Nilo
nasceu em Santos
e é redator publicitário
e diretor de criação
há quase 30 anos,
com prêmios nacionais
e internacionais.
Circulou a trabalho
por todo o país,
com paradas prolongadas
em Brasília, Belo Horizonte e Salvador.
Publicou em 1986
"Poemas de Duas Gerações"
e, mais recentemente, o romance
"Ascensão e Queda de Pedro Pluma"
(à venda em alnilo@gmail.com).
Além disso, atuou como cronista
para o diário Correio da Bahia.
De volta a Santos desde 2013,
Antonio segue sua trajetória
cuidando de Projetos Especiais
na Fenômeno Propaganda
e como sócio-diretor
da Agência de Textos
TP Texto Profissional.



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