Tuesday, April 5, 2016

FRED ASTAIRE E GINGER ROGERS DANÇAM SEM PARAR HOJE NO CINECLUBE PAGU, 19 HORAS

por Judith Crist
para a New York Times Magazine
(publicado em Agosto de 2009)



O cinema já teve muitos casais clássicos. vários deles somente em 1934, ano de estréia dos filmes Aconteceu Naquela Noite, Suprema Conquista e A Ceia dos Acusados. Em termos de dança, porém, nunca houve outro casal que glorificasse o amor romântico de forma tão definitiva.

Dançando juntos, Astaire e Rogers expressaram muitos aspectos do amor: a conquista e a sedução, as conversas sagazes e a receptividade às mesmas, a provocação e o desafio, a surpresa da recém-encontrada harmonia e a feliz reconquista do romance perdido, a alegria frívola e o acordo mútuo, a sensação do perfeito equilíbrio do poder, a tragédia da partida e, não menos importante, o sentido do amor quando encenado. É estarrecedor como tantas dessas nuances já podem ser percebidas desde a música Night and Day, primeiro dueto romântico do casal em A Alegre Divorciada.

A história já foi contada diversas vezes. Depois de anos de parceria com sua irmã Adele, Astaire (1899-1987) deu início a uma nova fase romântica ao contracenar com Claire Luce em 1932 em palcos londrinos com a peça The Gay Divorcee (sem tradução para o português), de Cole Porter, que teve destaque com o número Night and Day. Ao chegar a Hollywood, em 1933, Astaire já era um astro completo. Quando ele e Rogers (1911-95) alcançaram o quarto e o quinto maiores cachês da RKO com o filme Voando Para o Rio naquele ano, o flerte rápido da dupla durante o número The Carioca se tornou a sensação do filme.


A peça The Gay Divorcee não demorou ser adaptada para o cinema sob o título de A Alegre Divorciada, com um novo time de estrelas. Astaire e Rogers fizeram mais sete filmes juntos para a RKO na década de 1930. Para suas coreografias, Astaire fazia especificações para a equipe de filmagem estabelecendo padrões inalcançáveis: filmar os dançarinos em quadro aberto, sem close-up; manter as tomadas de reações ao mínimo; seguir a coreografia com a câmera com o menor número de tomadas possíveis de preferência em apenas uma.

Ele continuou contracenando com diversas outras mulheres seus fãs gostam de debater quem teria sido a parceira ideal, desde Ginger: Rita Hayworth? Cyd Charisse? Eleanor Powell? Gracie Allen? Mas, apesar de ter desenvolvido a maestria de seus solos nos anos 1940, sua química com Rogers nas telas nunca foi alcançada em outra parceria.


Ao assistir Astaire e Rogers dançando Night and Day em A Alegre Divorciada é difícil dizer o quanto Astaire adaptou a coreografia desde sua atuação com Luce e na ocasião do filme, Rogers ainda não mostrava toda a suavidade e desenvoltura ao dançar que viria a ter dois anos mais tarde. Mesmo assim, já vemos a alquimia Astaire-Rogers com força total. Muito disso tem a ver com as reações multifacetadas de Roger para Astaire.

As tantas restrições são visíveis no rosto atento de Rogers. Vários são os aspectos que tornam sua atuação impressionante: suas pausas súbitas ao se dirigir a Astaire (como se admitisse a existência de um campo de força entre eles); ou quando a certa altura ela se comporta como uma sonâmbula indefesa enquanto em outros momentos parece estar se divertindo a valer; ou ainda em sua maneira extremamente doce de dar a entemder que amar (e dançar com um parceiro) é algo que ela está feliz em ir aprendendo com o tempo; as ondulações que em certos momentos tomam conta de seu corpo, através da espinha dorsal até as pélvis; os passos largos e determinados com os quais ela se afasta dele em certo momento e depois, quando ele a impede, sua misteriosa desenvoltura ao quase lhe dar uma bofetada (e seu jeito suave ao observá-lo enquanto ele rodopia pelo salão). A forma como Astaire mantém o controle nos prende a atenção. Porém, a maneira como ela reage, envolvida da cabeça aos pés, dão a profundidade ao dueto.

Dois anos depois de atuar em A Alegre Divorciada, Rogers atingiu seu apogeu em Ritmo Louco (1936). Naquela época ela já tinha o corpo de dançarina mais bonito que as telas já haviam mostrado. As tomadas de suas pernas no número Pick Yourself Up (elas são reveladas durante o sapateado por sua saia na altura do joelho) já são o suficiente para nos fazer engasgar. Ela conseguia arquear sua coluna de diversas formas, todas elas aparentemente repletas de sentimentos; sua cintura fina era arrebatadora.

Apesar de tudo, ela nunca aparentava um ar de superioridade. Na verdade, ela não se comportava ou se apresenta como uma mulher bonita. Sua simplicidade e espontaneidade (basta observar suas mãos e braços) eram pontos centrais de sua atratividade. Apesar de sempre guardar tais qualidades, em algumas partes de Ritmo Louco (e em outros filmes importantes da dupla) ela e Astaire se tornam divindades e, juntos, traçam o exemplo perfeito de glamour, amor e dança.

A ALEGRE DIVORCIADA
(The Gay Divorcee, 1934, 107 minutos)

Direção
Mark Sandrich

Roteiro
Dwight Taylor
Kenneth S Webb

Elenco
Fred Astaire
Ginger Rogers
Alice Brady


Oficina Cultural Pagu
Rua Espírito Santo nº 17
Santos SP

Curadoria: Marcelo Pestana e Carlos Cirne


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