Friday, April 22, 2016

O GENIAL CINEASTA JOHN WATERS COMPLETA 70 ANOS DE IDADE E NÓS AQUI COMEMORAMOS

por Chico Marques


John Waters nasceu em Baltimore, Maryland, em 22 de Abril de 1946, há exatos 70 anos.

Ao longo de sua carreira como roteirista e diretor de cinema, aprendemos que a aparentemente inofensiva a aprazível Baltimore -- palco de todos os seus 17 filmes -- pode ser um lugar muito estranho para um garoto crescer.

Lá ele iria conhecer uma legião de homens e mulheres estranhíssimos dispostos a trabalhar de graça em seus filmes absolutamente independentes -- muitos deles num padrão de produção semelhante aos clássicos filmes trash do lendário Ed Wood, um de seus mentores artísticos e "espirituais".

Para aquem não sabe, esses filmes realizados nos Anos 70 e 80 eram estrelados por sua trupe regular de colaboradores, conhecida como Dreamlanders, composta entre outros por Divine, Mink Stole, David Lochary, Mary Vivian Pearce e Edith Massey.

Pior: a partir de 1977, Waters começou a trabalhar com criminosos condenados como Liz Renay e Patty Hearst, e nunca negou guarita para estrelas sem boa reputação no meio artístico, como a atriz pornô juvenil Traci Lords. 


Como Waters, pouco a pouco, passou de um realizador de filmes subterrâneos para uma personalidade de Hollywood, realizando comédias de humor negro para um público restrito, ainda é um mistério que até hoje desafia explicações.

Hoje, em tempos de correção política a toda prova, certamente uma carreira como a dele seria inviável.

Mas, apesar de contar com grana de Hollywood, é sempre bom lembrar que todos os seus filmes foram realizados com orçamentos muito modestos.

São filmes amorais, selvagens e libertinos, onde a inocência meio abobalhada do final dos anos 50 e início dos anos 60 quase sempre serve de pano de fundo para as histórias mais inusitadas e pervertidas possíveis.


O sucesso comercial só chegou a partir de Hairspray, de 1988, que lucrou 8 milhões de dólares nas bilheterias dos Estados Unidos.

Foi só depois disso que seus filmes começaram a ser estrelados por atores mais familiares do grande público, como Johnny Depp, Edward Furlong, Melanie Griffith, Chris Isaak, Johnny Knoxville, Martha Plimpton, Christina Ricci, Lili Taylor, Kathleen Turner e Tracey Ullman.


Para quem não sabe, John Waters também é um escritor realizado, fotógrafo e artista visual.

Já publicou vários volumes de suas façanhas jornalísticos, coleções de roteiros de cinema e obras de arte.

E se hoje ele trabalha pouco -- seu último filme foi rodado 12 anos atrás --, é sinal mais do que claro que Hollywood mudou, e não comporta mais subversivos que desafiam classificações como John Waters.

Hoje, ele circula pelo Planeta Terra com um one-man show onde conta histórias divertidíssimas sobre sua vida e seu universo temático: Baltimore.


Pois bem: John Waters completa 70 anos de idade e nós aqui selecionamos dois de seus trabalhos mais selvagens do início de carreira nos Anos 70 e quatro de seus filmes mais "maduros" para celebrar essa data especialíssima.

Lembrando que todos esses filmes estão disponíveis para locação na Vídeo Paradiso.






PINK FLAMINGOS
(Pink Flamingos, 1972, minutos)
Longa-metragem americano de baixo orçamento, escrito e dirigido por John Waters, lançado no circuito underground, onde alcançou notável sucesso e tornou-se ícone do cinema bizarro. O filme conta a trajetória da drag-queen Divine e sua família na competição contra o casal Connie e Raymond Marble pelo título de "pessoas mais sórdidas do mundo", insensatamente almejado. O longa traz uma coleção de cenas bizarras. Em uma delas, mãe e filho praticam sexo oral. Na outra, mais chocante ainda, Divine se alimenta de fezes. O trabalho do diretor John Waters ainda conta com cenas de nudez frontal (na mais chocante delas, a câmera foca o ânus de um dos atores) e de sexo bizarro entre um casal e uma galinha. A cena mais nojenta de todas é a de um banquete com fezes de cachorro. Naquela época, os filmes ‘underground' passavam à meia-noite, junto com os pornôs, mas com a divulgação que conseguiu ‘Pink Flamingos' acabou atraindo multidões. Waters afirmou em uma entrevista que nunca faria um outro filme nos moldes de ‘Pink Flamingos', talvez por acreditar ser impossível superá-lo. Para estômagos muito, muito fortes.


PROBLEMAS FEMININOS
(Female Trouble, 1975, minutos)
John Waters presta uma homenagem aos melodramas de drive-in sobre "delinqüência juvenil". A mocinha da história, claro, é o traveco Divine, que está sensacional como a adolescente que foge da casa para uma vida de prazeres libertinos, tudo porque ela não ganhou seu sapato de "chachacha" no Natal. Na fuga, ela é molestada por um motorista, que a engravida. Mas ela não deixa que a maternidade interfira nos seus planos de estrelato e se transforma em uma bizarra apresentadora de um espetáculo apocalíptico. É menos asqueroso que o "Pink Flamingos", mas consegue ser tão surreal quanto ele. Destaque para o strip-tease inesquecível de Divine, no explendor de seu 150 quilos. Detalhe: a canção tema foi também marca o início da carreira de Divine como cantora, com a música tema do filme foi composta pela dupla Waters/Divine, e marcou a estreia de Divine como cantora no apogeu da Era Disco.



MAMÃE É DE MORTE
(Serial Mom, 1993, minutos)
Beverly Sutphin (Kathleen Turner) é a esposa que seu marido (Sam Waterston) sonhou, além de uma mãe perfeita. Ela tem, contudo, uma estranha obsessão: nada e ninguém podem afetar a harmonia do seu lar. Quem investir contra sua família, morre. Após uma série de assassinatos, ela é levada a julgamento como uma verdadeira serial killer. Mas apesar de todas as provas contra ela, consegue ser absolvida, dando continuidade a sua obsessão. Kathleen Turner e Sam Waterston estão divertidíssimos nessa deliciosa comédia amalucada. A cena em que a velhinha é morta a golpes de pernil lembra o John Waters dos velhos tempos.


O PREÇO DA FAMA
(Pecker, 1998, 87 minutos)
As fotografias desfocadas do jovem Pecker (Edward Furlong) chamam a atenção de um crítico, que o transforma na mais nova sensação da cidade. O rapaz passa a ser perseguido pela imprensa e pelo público, sendo forçado a decidir se quer prosseguir na carreira ou salvar sua vida pessoal e seu relacionamento com a namorada Shelley (Cristina Ricci). Um filme que destoa um pouco do habitual na filmografia de Waters, já que os exageros narrativos e os toques surrealistas do diretor seguem em tom menor. Mas isso não faz de "Pecker" um filme menor de John Waters. Pelo contrário, é apenas um filme menos selvagem. 





CECIL BEM DEMENTE
(Cecil B Demented, 2000, 88 minutos)
Sinclair Stevens (Stephen Dorff), um cineasta lunático, e sua entourage de maníacos fanáticos por cinema, chamados Sprocket Holes, seqüestra Honey Whitlock (Melaine Griffith), a deusa número 1 de Hollywood, para forçá-la a atuar em seu filme terrorista underground. Aos 40 anos de idade, Honey é bela, rica, talentosa e está no auge de sua carreira, muito embora sua vida pessoal esteja um "deus nos acuda". Curiosamente, de dia Sinclair é o responsável gerente do Senator Theatre, que abrigará a noite da "Première Beneficente para o Fundo Pró-Cardíaco" do filme estrelado por Honey. Já à noite, ele se auto-declara Cecil B. DeMented, cineasta guerrilheiro e líder de cinéfilos renegados. Com o carisma de Charles Manson, o estilo de Andy Warhol e o temperamento artístico de Otto Preminger, Cecil não é um cara violento, a menos que você atravesse seu caminho. Uma esculhambação engraçadíssima ao showbiz e ao culto às celebridades, que colocou Waters de vez no modelo hollywoodiano -- mas, infelizmente, não por muito tempo.






CLUBE DOS PERVERTIDOS
(A Dirty Shame, 2004, 90 minutos)
Sylvia Stickles (Tracey Ullman), uma mulher de meia-idade sexualmente reprimida e mal-humorada, que é proprietária de uma loja de conviniências, fica viciada em sexo após uma concussão e começa a sentir desejos sexuais que fogem ao seu controle. Vaughn (Chris Isaak), seu marido bonitão, que antes tentava em vão seduzi-la, não consegue entender de onde veio seu repentino interesse em sexo. Sua filha Caprice (Selma Blair), dançarina de uma boate de strip-tease com seios gigantescos e um fã clube considerável, também não consegue entender o que aconteceu. O que se sabe é que depois de ser socorrida pelo sexy motorista de guincho Ray-Ray Perkins (Jimmy Knoxville), Sylvia percebe que aquele não é um homem comum; mas um verdadeiro terapeuta que pode ajudá-la a colocar para fora toda a sua sexualidade reprimida, mudando radicalmente seu dia-a-dia e de sua família. Um argumento típico de Waters, com um orçamento maior que o habitual. Não é seu filme mais engraçado, nem o mais selvagem, mas merece ser visto, até porque desde então ele nunca mais dirigiu coisa alguma.

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