Friday, July 6, 2018

SOFRIMENTO (por Alvaro Carvalho Jr)



Sofrimento?

Nem tanto, nem tanto...

Se há um torcedor de futebol que não pode reclamar da vida é o brasileiro. O futebol parece nascer no nosso DNA, tal a intimidade e o prazer de jogar que nos envolve. Ao longo de todas as Copas do Mundo, o Brasil é o único time que nunca faltou a qualquer delas; um assíduo frequentador e o melhor, o que mais ganhou. Com isso, criou um péssimo hábito nos seus torcedores: a vitória é obrigatória, compulsória. E, como todos sabemos, além de imponderável, jogo é jogo e são permitidos três resultados: vitória, empate ou derrota. Para os brasileiros, vitória, vitória ou vitória. E fim de papo.

Esse comportamento mostra o glorioso caminho brasileiros em Copas. Nenhuma equipe apresentou os mais fantásticos mágicos da bola como o Brasil, rotina que começa lá atrás com Leônidas, Heleno de Freitas, Didi, o mágico Garrincha, Ronaldinho Gaúcho, Zico, Zito, Ronalducho, Rivaldo e o inigualável e maior jogador de todos os tempos, um senhor chamado Edson Arantes do Nascimento, alcunhado de Pelé. Claro, alguns nomes não aparecem (são tantos...), o que mostra a força e o talento que parecem esbanjar pelos nossos campos.

Assim, a vitória de 2 a 0 sobre o México, cá entre nós, foi supervalorizada pela imprensa, particularmente o pessoal da TV, que teve momentos até patéticos, com demonstrações de um ufanismo chato e bobo. Basta uma rápida análise do jogo, para se perceber que o goleiro mexicano, Guillermo Uchoa, fez cinco defesas difíceis, e na sua entrevista ao final do jogo não se lamentou de nada. Pelo contrário, elogiou o time brasileiro, elogiou a determinação na luta “pela vitória e a habilidade” que, segundo ele, “é imbatível”. Já nosso goleiro hollywoodiano, Alinson, foi para o vestiário no final e nem precisou passar desedorante. Nossa defesa, bem colocada e com uma sincronia quase perfeita, deixou-o de camarote assistindo o jogo. Apenas um chute de longe que ele colocoiu para escanteio. Ora, para um jogo de Copa do Mundo, o México fez pouco, muito pouco..

Tivemos os primeiros 25 minutos iniciais, quando o México chegou até a dar a impressão de que poderia nos surpreender. Mas, passado o ímpeto inicial, as coisas foram colocadas nos devidos lugares e o Brasil, mesmo ainda insosso, conseguiu equilibrar o jogo, criar duas boas chances e voltar arrasador no segundo tempo. É necessário que nossa torcida aprenda uma filosofia que a torcida argentina conhece com perfeição: “aprender a sofrer”. Sim, com a evolução que o futebol vem apresentando em todas as seleções, os jogos ficarão cada dia mais complicados. Como dizem os analistas mais veteranos, “não existem mais bobos” no futebol. Qualquer garoto –- e até as meninas, felizmente -- adoram chutar uma bola, discutem táticas e elegem seus ídolos. Futebol transformou-se num produto de consumo mundial, como coca-cola, ipad, celular e outros trastes. Com uma diferença brutal: é saudável e praticado ao ar livre...

Agora, só nos resta aguardar a Belgica nesta sexta. Temos condições de sobra para chegar até a final, mesmo tendo pela frente seleções cotadas e muito bem armadas. Para nós, resta aprender a sofrer, entender que não somos mais tão bons assim como imaginávamos e que o futebol, para ser perfeito, exige coletividade. O individualismo fica apenas para aquela faixa final do campo, onde somente os realmente grandes sabem a decisão a ser tomada. Posso me enganar, mas estou achando que a seleção tem tudo para chegar às finais. E aí, a grande ironia: só falta o Brasil ser campeão do Mundo durante o governo Temer e com o ex-presidente marginal e boquirroto na cadeia. Definitivamente, este é o país da piada pronta.

Bom... nesta sexta tem mais. Preparem seus corações. Inté.


Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado
e trabalhou para vários jornais e revistas
ao longo de 40 anos de carreira.
Colabora com LEVA UM CASAQUINHO
quando esquece que está aposentado.


No comments:

Post a Comment