Saturday, July 14, 2018

UM TRISTE RETRATO (por Alvaro Carvalho Jr)




A fração de jogadores da equipe brasileira que desembarcou no Galeão depois de eliminada da Copa do Mundo da Rússia, era um retrato triste e melancólico do que se transformou o País nos últimos tempos. Mostrou ainda os erros cometidos por toda comissão técnica e escancarou (ou denunciou?) talvez o mais importante: como nossos principais jogadores não têm mais qualquer identificação com sua torcida. Exagerando, talvez até com o País.

Uma boa parte da equipe ficou na Espanha, outra em Paris, outra em Londres, outra na Alemanha, onde têm casa, uma vida faustuosa, bajulação dos dirigentes de seus clubes e sequer lembram de suas origens humildes. No Galeão desceu uma meia dúzia que veio apenas para rever familiares, encontrar amigos, voltando em seguida para seus países de moradia. Apenas três jogadores ainda atuam no Brasil, Fagner, Cássio e Geromel voltaram, realmente para suas origens: dois para o Corinthians  (Fagner e Cássio) e outro para o Grêmio, Porto Alegre, o zagueiro Geromel. Se considerarmos os 23 convocados, o percentual de “brasileiros”, na seleção é bastante pequeno.

Talvez por isso, por mais que se esforce, a torcidade brasileira não consegue se identificar com a seleção como em tempos idos. O que se vê, nos dias de jogos, é muito mais a curtição do meio feriado não previsto, do churrasco, da reunião dos amigos. E se caem em finais de semana com feriados próximos, então, é a perfeição! Vestem-se as camisas, colocam-se bandeiras nos carros,r churasqueiras são acesas como se fossem altares aos Deuses do Futebol, cervejas são geladas com capricho e a festa começa. Mas, na verde, onde entra o futebol nesse meio todo? Nas redes sociais, por exemplo, a maioria dos memes publicados foi de raiva com a desclassificação para a Bélgica, mas não com o futebol em si, mas com o feriado previsto na terça-feira e com outro feriado dia 9 de julho, segunda, tudo cancelado!!! Terrível...

O futebol, na verdade, nem deve ser discutido. Perdemos para equipes melhor organizadas, para equipes onde os técnicos alteram suas táticas no meio da partida, têm jogadas e mais jogadas ensaiadas e nquanto o treinador brasileiro ficava ao lado do campo sem tomar atitude. Na verde, sem saber o que fazer. São dois os problemas de Tite. Está completamente defasado das novas maneiras de administrar uma partida e é extremamente teimoso. Essa combinação gera um ser estranho, teatral de má qualidade que prefere enfiar a auto-juda goela abaixo dos jogadores a novas táticas do futebol. Não podia dar certo mesmo.

Mas ele não é e nunca será o único culpado. Crucificá-lo agora é uma atitude irresponsável e desnecessária. O leito já foi derramado e tentar juntá-lo agora é impossível. Questiono apenas sua continuidade, pois, além da auto-ajuda, não se viu nada de novo na equipe. Tite sequer teve a competência de enfrentar grandes seleções na fase preparatória e pelos resultados na Copa do Mundo -- sabemos exatamente como andam as seleções sul-americanas, equipes que o Brasil já cansou de sacudir ao longo dos anos. Portanto, sem um futebol forte ao seu redor, o Brasil perde completamente o prumo, não tem como se comparar. Não sabe o que ocorre de novo no mundo do futebol e fica marcando passo. Triste.

Assim, nossa seleção é um retrato claro do momento em que está enfiado o País. Dividido, sem forças para retormar o caminho do futuro e nas mãos de muita incompetência. Aliás, incompetência é algo do qual não conseguimos nos livrar. Nos últimos 13 anos, especialmente, a mistura de incompetência e manutenção do poder irresponsávelmente, jogou o País na lama; quebramos economicamente, socialmente e moralmente. Recolher os cacos agora e tentar remontar esse quebra-cabeças será um trabalho hercúleo. O mesmo se pode usar para o futebol. A recuperação do futebol brasileiro levará um bom tempo (tenham paciência para festejar o hexa...) e tem um ingrediente mais sério ainda: como nos livrarmos, primeiro, da incompetência e em segundo, como nos livrarmos dos bandidos que tomaram de assalto a CBF. Exatamente como fizeram com o Páís...

Não temos treinadores -– nenhum, na verdade -- que estejam atualizados, que conheçam bem o futebol moderno e nem temos um mágico que nos faça retornar aos tempos em que os clubes formavam craques, jogadores de futebol e não super atletas. Enquanto professores de Educação Física mantiverem essa mentalidade de que um jogador de futebol é um atleta, a coisa não vai andar. Sim, jogador de futebol é um atleta, mas ele depende demais de sua criatividade, de sua malevolência, de sua elasticidade para atingir os altos padrões. Os professores de Educação Física correm no sentido contrário, tentando formar jogadores que consigam correr “180” minutos, tal o preparo condicionado por eles. O problema é que uma partida dura apenas 90 minutos e o excesso de preparo, na maioria das vezes, tira do jogador o que ele tem de mais importante, que é a criatividade. É discutível? Claro, mas os grandes craques (com suas exceções) não são muito chegados a treinos extenuantes. Enfim, só temos uma saída: dar tempo ao tempo e sonhar.

Final



Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado
e trabalhou para vários jornais e revistas
ao longo de 40 anos de carreira.
Colabora com LEVA UM CASAQUINHO
quando esquece que está aposentado.

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