Pois é, caro(a)
freguês: mais um ano que chega ao fim.
Na certeza de
que, em questão de dias, horas, minutos, começará a segunda temporada de 2018.
Não nos
iludamos: 2019 tem tudo para ser uma repetição desse “tudo o que sempre foi”,
“o mais da mesma coisa”, disco de vinil arranhado e ruim de escutar.
Precisar-se-ia de muita paciência e boa vontade para acreditar que “... daqui
‘pra’ frente/tuuudo vai ser difereeente...”.
O ser humano,
ultimamente, anda a se tornar um bichinho bem previsível e quase nada criativo.
Chegou a hora de darmos ‘adeus’ para aquelas ‘supresas boas’, notáveis, que
faziam nossas vidas ainda valerem a pena.
Uma espécie de
‘canção de despedida’ para “... os felizes acidentes”.
Cálculo fácil de
fazer: como gostaríamos que aquelas pessoas que amamos, pais, mães, filhos,
grandes amigos, estivessem, em questão de dias, horas, minutos, junto com a
gente no “deeeeez, noooooove, ooooooito, seeeeete...”.
Muita gente
amada e querida ficou pelo caminho.
Selos fechados,
e somente o Senhor, ou a entidade máxima pertinente à crença do querido(a)
freguês(a), é capaz para qual prato a balança penderá.
Duro! Ficamos
sem essas pessoas.
Na tentativa de
continuar, apesar da enorme tristeza dessas ausências, tentamos olhar o
réveillon como um momento festivo na tal “... renovação da esperança...” de que
nossos próprios desaparecimentos ainda demorem um pouquinho mais para
acontecer.
E um fluxo
monumentalmente caudaloso de saudade.
Convenhamos,
réveillon pode ser uma festinha bem do cão, mesmo. São inúmeras famílias que
relatam perdas de entes queridos ao longo da virada do ano em situações e
acidentes bem trágicos.
Muita droga,
cabeça feita, ‘chapando o coco’ com bebida e substâncias, “... ‘vamu ficá’
doidaço!”. Acidentes automobilísticos, comas, overdoses, cortes, tombos,
afogamentos: a lista que resulta em perdas inestimáveis é gigantesca.
“A morte é parte
da vida”... ‘Humm... OK!’. Mas há situações que não precisariam chegar onde
chegam. Com alguma prudência, a diversão é garantida e todos voltam para casa.
Em termos
proporcionais, claro que as fatalidades do réveillon constituem a minoria.
Chato?! Triste?! Sim, mas a minoria.
É como se
existisse uma ‘mão invisível’ de uma entidade protetora universal guardando
mesmo aqueles(as) que se excedem (sabe-se lá o porquê) na tal ‘virada de ano’.
Dizem as más
línguas que ‘cu de bêbado não tem dono’, e há uma questão “sobre-o-natural” que
talvez ampare essa afirmação.
Reza certa
recente lenda que no famigerado bairro do Aparecida, ditoso operador do
judiciário foi alvo dessa ‘bença’ proveniente da entidade universal protetora
de bebuns, réveillon e bebuns no réveillon.
Após longa
ingestão de álcool com amigo de ex-profissão, o sujeito chegou em casa
‘miando’. Após extensa manobra para entrar no elevador, acertar o andar e sair
do dispositivo, achou-se certo de não portar as chaves do apê.
Que engano!
Entre o
desespero de entrar em casa para uma cama quentinha e sem lembrança de que as
tais chaves estavam na sacolinha que carregava, sentou-se no corredor do prédio
para sacar do celular. Viva o WhatsApp! Foram quatro mensagens para sua mulher,
que dormia dentro do apartamento do casal. Contatos bem curtos, nada desse
negócio de textão, com intervalos de quase 20 minutos entre cada um.
Um canto
desesperado de “... amor, abre a porta que eu cheguei...”.
“... amor, você
‘tá’ aí dentro...?!”.
O peso da
biritagem o empurrava para os braços de Morpheu. A impressão que se tinha é de
ele, junto com o amigo, tinha bebido ‘... até a gravata do garçom’. No rincões
do Brasil, diz-se “lambeu até a rolha”.
“... amor, abre
a porta...”.
A digníssima, lá
pelas três da manhã, estranhou a ausência do cônjuge. Olhou para um lado, para
o outro... passou a mão no telefone e nada de uma ligaçãozinha sequer para dar
o ar da graça. ‘Estranho’, pensou, diante da promessa horas antes de chegar em
casa em tempo hábil.
Abriu o
‘uáifái’, e as quatro mensagens do queridíssimo pulularam na tela do telefone.
Ainda com a ‘roupa-de-baixo’, abriu a porta do apê e a cena encontrada era
digna de uma série dessas de CSI.
Dava para passar
o giz em torno do corpo estendido no chão. “Acorda, bem...”. “Huuuummm...”.
“Acorda, acorda... entra!”. “Huuuummm...”. “Acorda, filho da mãe! Não vou ficar
aqui a noite toda”. “Huuuummm...”. “Olha, não vou ficar te pajeando a noite
inteira. Levanto daqui a pouco ‘pra’ trabalhar, já esqueceu?!?”.
Para tentar
resumir toda a ópera-bufa, o camarada entrou engatinhando em casa. Quando
namorou a tendência de partir para a esquerda, a porta do quarto, ouviu da
mulher:
“Na-na, na-na,
na-na!!! Segue reto... segue reto! Fica aí na sala e dorme no sofá!”.
Segundo o “... o
boletim de ocorrência...” fornecido pela cônjuge, só por milagre o ditoso não
perdeu os pertences: o telefone jazia há meio-metro de distância do corpo
cultivado no álcool, e a bolsinha com a chave dentro estava sobre o capacho da
porta.
Ah, essa
entidade universal protetora dos embriagados e dos réveillons!
Que essa
proteção esteja com absolutamente todos e todas em mais um giro do calendário
que, em breve se inicia.
Feliz
segunda-temporada de 2018 a todos(as)!
Tá bom! Tá bom!
Que o próximo ano seja de grandes conquistas, realizações, paz, saúde
(principalmente!), prosperidade (vem ‘ni mim’, criatura!), harmonia e um montão
de coisas boas para tudo e para todos(as)!
Feliz 2019!
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 47 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É autor de Areias Lunares
(à venda na Disqueria,
Av. Conselheiro Nébias
quase esquina com o Oceano Atlântico)
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO
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