(1ª temporada, episódio 08)
Parecia um terremoto, tudo na casa começou a vibrar.
Quando consegui levantar e fui até a janela, vi um helicóptero estacionado no gramado.
Pedi pra minha mulher ficar na cama, enquanto ia lá fora saber que diabos estava acontecendo.
Ao me aproximar do helicóptero, cujas hélices ainda giravam bem devagar, o piloto já estava fora do aparelho, sem capacete, me estendendo a mão.
- Prazer, meu nome é, Speed. Vim pegar o senhor. Espero não ter me atrasado. O tempo tá meio ruim pra aqueles lados.
- Você vai me levar exatamente pra onde Speed?
- Pro galpão. Fica a uns 250 quilômetros daqui. Mas o tempo melhorou e está ficando bem limpo. Vai ser bem rápido, uma boa viagem, eu garanto.
- E por que vamos até esse galpão?
- Pro pessoal filmar. Está tudo preparado há dias.
Perguntei a Speed se ele não queria entrar e tomar um café, convite que aceitou prontamente.
Quando entrei na cozinha, minha mulher já tinha colocado água para ferver pro café e, sentada na mesa, manuseava o livro pardo, com o cheque jogado ao lado.
Apresentei os dois e comecei a procurar o celular, até que desisti e decidi pedir o celular de minha mulher. Liguei pra mim e escutei o toque que vinha de dentro do banheiro.
Fui até lá, fechei a porta, sentei na privada e apertei a foto idiota de meu amigo na minha lista de contatos.
Ele atendeu rápido, como se estivesse dormindo com o celular debaixo do travesseiro.
- Que merda é essa?, perguntei.
- Ah, é você? Então, ia te avisar com mais antecedência, mas tá tudo acontecendo tá rápido que esqueci.
- O que esse psicopata do Speed tá fazendo com aquele helicóptero no meu gramado?
- Ele vai te trazer.
- Trazer aonde?
- No galpão, quer dizer, a gente transformou o galpão numa espécie de estúdio pra você gravar as chamadas.
- Chamadas de quê, puta que pariu?
- Pro lançamento do livro. Agora vai vender não só na internet, mas em todas as livrarias também. Vamos colocar os vídeos on line e na TV a cabo também. Legal, né?
- Mas, na hipótese de eu gravar os vídeos, vou dizer o quê? - Anunciar que o “Escrachando o Demônio” vai estar à disposição de quem quiser comprar. Ah, já fechamos com uma livraria em Montevidéu e outra em Buenos Aires. Já tem um cara fazendo a tradução. Esquemão, né?
- Eu não vou mostrar minha cara, nem fodendo.
- Então, já tem um esquema. Você vai virar meio escritor fantasma, ninguém vai saber direito quem você é, se você existe mesmo ou se é tudo golpe publicitário. Por isso, você vai aparecer disfarçado, com uma iluminação tosca só revelando tua silhueta e partes do teu rosto de vez em quando.
- Disfarçado de quê? Homem Aranha ou o Coringa?
- Não seria má ideia, mas a princípio bolamos um lance diferente. Sabe aqueles caras do Blues Brothers?
- Eu não vou me vestir que nem aqueles caras. Vão me reconhecer fácil.
- Claro que não. Até porque a gente ia ter que pagar muita grana pelos direitos autorais. Você só vai usar óculos escuros, com um chapéu de gangster em cima de um lenço com as cores da bandeira da Jamaica, tipo Keith Richards. Ninguém vai te reconhecer. Vai ser assim também nas palestras pra divulgar o livro.
- Que palestras?
- Pega a porra do helicóptero que eu te explico melhor aqui, ao vivo. Você vai entender tudo.
- E aquele cheque?
- Que cheque?
- O que veio no pacote com o livro.
- Ah, é um pagamento adiantado das vendas on line. Mas te garanto que vai ultrapassar bastante aquele valor, quando os vídeos começarem a viralizar.
- Cara, eu não vou fazer bosta nenhuma disso.
- Olha, faz assim. Pro Speed não perder a viagem (ele é um cara muito ocupado e caro), vem com ele até aqui e a gente conversa melhor. Faz tempo que a gente não se encontra pessoalmente, né?
- Você também tá nesse tal galpão?
- Tô morando aqui.
E desligou.
Quando consegui levantar e fui até a janela, vi um helicóptero estacionado no gramado.
Pedi pra minha mulher ficar na cama, enquanto ia lá fora saber que diabos estava acontecendo.
Ao me aproximar do helicóptero, cujas hélices ainda giravam bem devagar, o piloto já estava fora do aparelho, sem capacete, me estendendo a mão.
- Prazer, meu nome é, Speed. Vim pegar o senhor. Espero não ter me atrasado. O tempo tá meio ruim pra aqueles lados.
- Você vai me levar exatamente pra onde Speed?
- Pro galpão. Fica a uns 250 quilômetros daqui. Mas o tempo melhorou e está ficando bem limpo. Vai ser bem rápido, uma boa viagem, eu garanto.
- E por que vamos até esse galpão?
- Pro pessoal filmar. Está tudo preparado há dias.
Perguntei a Speed se ele não queria entrar e tomar um café, convite que aceitou prontamente.
Quando entrei na cozinha, minha mulher já tinha colocado água para ferver pro café e, sentada na mesa, manuseava o livro pardo, com o cheque jogado ao lado.
Apresentei os dois e comecei a procurar o celular, até que desisti e decidi pedir o celular de minha mulher. Liguei pra mim e escutei o toque que vinha de dentro do banheiro.
Fui até lá, fechei a porta, sentei na privada e apertei a foto idiota de meu amigo na minha lista de contatos.
Ele atendeu rápido, como se estivesse dormindo com o celular debaixo do travesseiro.
- Que merda é essa?, perguntei.
- Ah, é você? Então, ia te avisar com mais antecedência, mas tá tudo acontecendo tá rápido que esqueci.
- O que esse psicopata do Speed tá fazendo com aquele helicóptero no meu gramado?
- Ele vai te trazer.
- Trazer aonde?
- No galpão, quer dizer, a gente transformou o galpão numa espécie de estúdio pra você gravar as chamadas.
- Chamadas de quê, puta que pariu?
- Pro lançamento do livro. Agora vai vender não só na internet, mas em todas as livrarias também. Vamos colocar os vídeos on line e na TV a cabo também. Legal, né?
- Mas, na hipótese de eu gravar os vídeos, vou dizer o quê? - Anunciar que o “Escrachando o Demônio” vai estar à disposição de quem quiser comprar. Ah, já fechamos com uma livraria em Montevidéu e outra em Buenos Aires. Já tem um cara fazendo a tradução. Esquemão, né?
- Eu não vou mostrar minha cara, nem fodendo.
- Então, já tem um esquema. Você vai virar meio escritor fantasma, ninguém vai saber direito quem você é, se você existe mesmo ou se é tudo golpe publicitário. Por isso, você vai aparecer disfarçado, com uma iluminação tosca só revelando tua silhueta e partes do teu rosto de vez em quando.
- Disfarçado de quê? Homem Aranha ou o Coringa?
- Não seria má ideia, mas a princípio bolamos um lance diferente. Sabe aqueles caras do Blues Brothers?
- Eu não vou me vestir que nem aqueles caras. Vão me reconhecer fácil.
- Claro que não. Até porque a gente ia ter que pagar muita grana pelos direitos autorais. Você só vai usar óculos escuros, com um chapéu de gangster em cima de um lenço com as cores da bandeira da Jamaica, tipo Keith Richards. Ninguém vai te reconhecer. Vai ser assim também nas palestras pra divulgar o livro.
- Que palestras?
- Pega a porra do helicóptero que eu te explico melhor aqui, ao vivo. Você vai entender tudo.
- E aquele cheque?
- Que cheque?
- O que veio no pacote com o livro.
- Ah, é um pagamento adiantado das vendas on line. Mas te garanto que vai ultrapassar bastante aquele valor, quando os vídeos começarem a viralizar.
- Cara, eu não vou fazer bosta nenhuma disso.
- Olha, faz assim. Pro Speed não perder a viagem (ele é um cara muito ocupado e caro), vem com ele até aqui e a gente conversa melhor. Faz tempo que a gente não se encontra pessoalmente, né?
- Você também tá nesse tal galpão?
- Tô morando aqui.
E desligou.
um jornalista que tem preguiça de perguntar,
um escritor que não tem saco pra escrever
e um compositor que não sabe tocar.
(mesmo assim escreveu dois romances
e uma quantidade considerável de canções
ao longo dos últimos 40 anos - nota do editor)
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