Friday, January 13, 2017

CAFÉ E BOM DIA #47 (por Carlos Eduardo Brizolinha)



O primeiro livro que li em janeiro de 2016 foi Albert Camus (Mondovi, 7 de novembro de 1913 — Villeblevin, 4 de janeiro de 1960) nasceu na Argélia, foi escritor e filósofo e escreveu o Avesso e o Direito quando tinha 22 anos. O Avesso e Direito é um livro pequeno, tem só 109 páginas, contando com 20 páginas só de prefácio. Mas é lindo, incrível ver como o Camus pode ter escrito esse livro com só 22 anos. Na verdade, particularmente, acho que os jovens tem muito a dizer, só não são escutados. Esse livro contém 5 peças que para ele são 'ensaios literários', ele fala sobre a solidão, sobre a ausência de Deus, sobre o amor, sobre a morte, sobre o absurdo da condição humana, tudo de uma maneira poética, que quem já leu Camus, sabe como é. É lindo, e no mais, não custa nada, são poucas páginas. Vai aí um dos trechos que eu mais gostei: "Isso tudo não se concilia? Bela verdade. Uma mulher que se abandona para ir ao cinema, um velho que não é mais ouvido, uma morte que nada resgata, e então, do outro lado, toda luz do mundo. Que diferença faz isso, se tudo se aceita? Trata-se de três destinos semelhantes e, contudo, diferentes. A morte para todos, mas a cada um a sua morte. Afinal, o sol nos aquece os ossos, apesar de tudo."



A doença mental como máscara da loucura surgiu recentemente na história da civilização ocidental. Considerando “História da loucura” de Foucault o autor faz um apanhado sobre a gênese da loucura em que a retrata de forma não convencional, consideram a priori a razão. sendo assim, a loucura emerge da relação com uma razão que necessita dela (loucura) para existir como razão. A gênese histórica da loucura segundo três grandes momentos: 1) um período de liberdade e de verdade que inclui os últimos séculos medievais (principalmente o século XV) e o século XVI, 2) o período da “grande internação”, que abrange os séculos XVII e XVIII; e 3) a época contemporânea, após a Revolução Francesa, quando cabe à Psiquiatria a tarefa de lidar com os loucos que abarrotam os asilos.Com o passar do tempo o louco foi colocado, cada dia mais, fora do universo comum social, excluído, colocado à margem da sociedade. Considerando que a história da loucura não é a mera história de um tipo psicológico, isto é, do louco, mas a história daquilo que tornou possível o próprio advento de uma Psicologia, podemos dizer também que além verdade dessa Psicologia estar inscrita na história da loucura, é a própria Psicologia que paradoxalmente pretende dizer a verdade da loucura. O homem contemporâneo passou a ser aquilo que o discurso competente do conhecimento diz que ele é: doente de índole histérica, depressiva, esquizofrênica etc.; cuja linguagem é delírio; cuja visão é alucinada; cujo comportamento é obsceno; cujo mundo é irreal. Em suma, enquadrável nas “espécies patológicas” que originariamente foram produzidas pela própria Psiquiatria em decorrência dos procedimentos classificatórios e critérios morais que nortearam a organização interna dos hospícios. O filme de Phillippe de Broca " Esse mundo é dos Loucos " convida nos a viver nossos delírios num mundo de loucuras pacifica.



A hora e a vez de Jean Genet, que nascido em 1907 se fez um personagem sartriniano visto Sartre ter contribuído para dar essa consciência mítica, sendo celebrado por Rotrou e Gheon do martirológico em beneficio de um poeta blasfemador. Genet foi um bastardo associal com razões suficientes para condenar a sociedade da qual viveu exilado. Abriu as portas do teatro cuja linguagem é a liberdade e denuncia desenha o amago do mito dramático e do lirismo imaginário. As máscaras nos dão horas de convívio com o horror, chás de tília com gardenal. Descemos aos infernos em "Alta Vigilância" , mas sou atraído pelo Balcão com a carga letal de ironia, com a mecânica cruel da sociedade e seus jogos perversos. Uma catedral do deboche e do mal com capela para todos os santos. Genet fascina por ser um humano sem limites, vai até o cerne, faz o teatro cumprir sua função que desde as origens dionisíacas é profanar o sagrado e sacralizar o profano. Genet nos aponta para onde olhar, nossos olhos são dirigidos para o martírio da humanidade obcecada pelos humores e comida por moscas, destruindo a si mesma. Embora o estrago tenha sido menor nesta releitura, ainda saímos com hematomas.



Lucy é uma leitora de seis a oito livros por ano, mas é uma cinéfila de marca maior. Betty é uma leitora compulsiva e muito seletiva com relação a filmes. Falávamos da Ásia e nem sei dizer como chegamos a Marguerite Duras, mas a fervura cresceu quando disse que um crítico de literatura incluiu a autora como noveau romance. Pura cretinice! É uma autora que carrega sua escrita de anustia existencial e sempre me fez conviver com narrativa de tempo diluído, além de tédio e estranheza de esta no mundo. Obviamente fui vaiado. O livro mais discutido foi o que nós três lemos "A Vida Tranquila" , segundo livro da autora e "O Amante" raiz de tantos contrapontos. Em "A Vida Tranquila" com seu pano de fundo bucólico a trama se encorpa quando um rapaz mata o tio por ser amante de sua mulher. Acaba por se suicidar quando descobre que sua mulher se interessa por outro. Como uma pessoa que lê tão pouco pode ter uma precisão tão grande? Lucy finaliza seu comentário considerando que o ponto chave do livro é a reflexão, onde a narrativa de Duras nos leva a descoberta da própria nulidade. Ouvi ainda que devo me obrigar a ler "Uma Barreira Contra o Pacifico" que propõe um amor desmesurado pela vida. uma esperança infatigável, incurável que transforma o desespero na esperança. Literatura de Marguerite Duras não deve ser classificada como noveau romance, sei lá o que levou o critico avaliar como. Me ocorre lembrar que Isabel, mulher de multi presença também adora Marguerite.



Wilde x Huysmans. O primeiro passo foi ler "O Retrato de Dorian Gray". Li quando ainda estava no colégio interno sugerido pelo preceptor Hugo Breinner, Livro inesquecível como inesquecível são as considerações criticas do preceptor Hugo que estão límpidas na minha memória . A segunda vez que li foi nos anos 70, fora presenteado pelo amigo Ataualpa e quis rememorar. Nos anos 90 fiz minha última leitura para ajudar uma amiga no TCC. Neste inicio de ano leio o ensaio biográfico critico de James Laver e subtraio uma preciosa informação. Três anos atrás, Flávio Amoreira me apresentou o livro "As Avessas" que me encantou, acabei ganhando de presente de Maisa Reis. Obviamente Laver mostra o quão respeitado o nome Oscar Wilde é. Wilde foi inúmeras vezes a Paris, numa das suas viagens toma contato com a escola decadente francesa. Ainda que Buadelaire houvesse chagado a Inglaterra através de Swinburne, foi ele que intronizou o mestre francês nos círculos literários ingleses, mas o impacto para Wilde foi "Breviário da Decadência" . A Rebours de Huysmans houvera sido publicado em 1884 e não é precipitado ver efeito em Wilde. O caráter de "Des Esseintes" deve ter incendiado as ideias de Wilde. O santo esteticismo ardendo com chama viva, Huysmans apaixonado pela pintura de Gustave Moreau que é elo de uma das paixões de Des Esseintes, Salomé, A história de Salomé compartilhada por Oscar Wilde. Pulo "O Príncipe Feliz e Outras Histórias" muito próximo do estilo de contos de franceses, escritos com qualidade indiscutível, mas não há literatura mais arrebatadora do que "O Retrato de Dorian Gray", toma a base de uma história já contada e nos dá uma direção escrita com sensibilidade inigualável.

BOM DIA E CAFÉ COM SORVETE.



Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada à Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
onde bebe vários cafés orgânicos por dia,
e da loja de equipamentos de áudio ORLANDO,
do amigo Orlando Valência.






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