O ATOR TRAFICANTE E O NOBRE DE DUBAI
(1ª Temporada, Episódio 10)
Nos tempos em que andou tentado dar pequenos golpes em estúdios de pequeno e médio porte em Los Angeles, meu amigo conhecera um ator que se tornara seu amigo. Hoje, pra sobreviver, ele vendia crack e “outras coisas de qualidade garantida” nas esquinas da cidade.
Se ainda conseguisse localizar o ator-traficante, ele seria a pessoal ideal.
Ideal pra quê? Bem, pra voltar a atuar, agora no papel de um nobre da corte de Dubai, que, por se sentir desprestigiado nas bilionárias transações do governo com enormes corporações multinacionais, queria sua parte em toda essa putaria financeira nebulosa.
Primeiro, no entanto, era preciso convencer Speed a se expor novamente àqueles políticos da pasta. Ele se reaproximaria de alguma maneira do grupo e daria sinais de que tinha uma informação que “valia ouro”, obtida através de uma seguríssima fonte da Polícia Federal, a quem fizera, no passado, um inestimável favor de caráter familiar.
Não sei se todo o piloto de helicóptero clandestino tem a falta de um ou vários parafusos na cabeça, devido ao fato de aceitarem enfrentar riscos fatais, tanto no ar quando em terra. Seja como for, na cabeça de Speed deviam faltar não apenas vários desses parafusos, mas também algumas engrenagens importantes ao instinto de sobrevivência da raça humana.
Achou o plano “perfeito” e disse que já estava dentro.
Localizar o ator-aposentado-traficante não foi tão difícil assim. Meu amigo tinha muitos contatos em Los Angeles e não somente em pequenos e médios estúdios.
Costumava invadir festas de celebridades em busca de alguma chance de arrumar trabalho e, principalmente, para se chapar, mas acabava saindo dessas festas, quase sempre, sem condições de dirigir.
Em algumas dessas ocasiões, pegou caronas com motoristas de algumas dessas celebridades, que, por estarem mais chapadas ainda do que ele, o convidaram para “saideiras” em suas mansões.
Enfim, conversa vai, conversa vem, em alguns desses casos, acabou ficando amigo de verdade de alguns astros e sabia que, estes, por questões de solidariedade, compaixão, fidelidade ou seja lá o que for, continuavam a se abastecer com o traficante-aposentado-ator.
Levantou um empréstimo com um dos agiotas lituanos que ainda não o conhecia bem e foi pra Hollywood. Em três dias, tinha encontrado seu homem parado, bem cedo da manhã, numa das esquinas mais movimentadas da cidade. Abraçaram-se efusivamente e meu amigo, aproveitando-se do início da ressaca do ex-ator, começou de imediato a expor seu plano de oferecer-lhe um emprego para voltar a atuar.
Por volta das quatro da tarde, na mesa de um boteco a quilômetros de distância de onde se encontraram, os dois finalmente fecharam um acordo na base do aperto de mãos.
Viajaram no dia seguinte e foram direto pro galpão que meu amigo acabara de alugar, pra discutir e ensaiar detalhes de como um ex-ator traficante se transformaria em um alto membro da nobreza de Dubai. Em paralelo, Speed, que também participava das reuniões, ia preparando o caminho para ter contato novamente com os políticos da pasta.
Foi mais ou menos a essa altura, que meu amigo me ligou perguntando como poderia entrar em contato com meus amigos hackers.
Sem pensar muito, dei as coordenadas, com medo de perguntar exatamente pra quê.
Sem sequer imaginar, muito menos perguntar, fique sabendo, no dia daquele primeiro encontro no galpão, que meu amigo “e alguns investidores” já tinham grana suficiente para comprar os direitos autorais do uso das imagens de alguns personagens de histórias em quadrinho e filmes.
Minha única e vaga noção sobre o processo é que o “depósito de confiança” dos políticos da pasta havia passado por contas de empresas fantasmas de diversos paraísos fiscais, até ir parar na conta de uma companhia encarregada de implantar rede de água e esgoto numa tal Ilha Santa Lúcia, também ali pela região do Caribe.
Senti um arrepio no fundo da espinha ao perceber que ele estava falando sério sobre o assunto e que, de alguma maneira, eu já estava envolvido na confusão.
um jornalista que tem preguiça de perguntar,
um escritor que não tem saco pra escrever
e um compositor que não sabe tocar.
(mesmo assim escreveu dois romances
e uma quantidade considerável de canções
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