Wednesday, January 25, 2017

ONANISMO (uma reminiscência publicitária de Carlão Bittencourt)



“O que eu gosto na masturbação
é que você não tem
de dizer nada depois”
(Milos Forman)


O redator estava atrasado. Passava da meia noite quando chegou à festa de lançamento do Anuário do Clube de Criação de São Paulo, no Palace. Lotado.

Riu. Melhor assim. Antes tarde do que nunca. Afinal, àquela hora, quem precisava ir embora já tinha se escafedido. Quem ficou, foi para meter o pé na jaca. Com tudo. Homens ao bar!

No balcão, pediu ao barman um uísque à la Vinicius de Moraes. Sabe como é? Copo alto, gelo cristal e uísque até a boca. Perfeito. Apesar da sede, desértica, ficou mexendo a bebida com o dedo até o copo embaçar. Pronto. Matou o drinque de um longo e delicioso gole. Mais um, por favor. Gêmeo idêntico.

Enquanto esperava, tragou o cigarro e espiou o salão. Indócil mulherio. Que agito! Podia ouvir as vozes e gargalhadas de onde estava. A noite prometia. Pegou o segundo copo e entrou na festa. De cabeça.

Logo de cara, esbarrou numa mesa amiga. A ruiva da cabeceira abriu-lhe um sorriso que dizia tudo. E o decote ainda mais. É hoje. Sentou praça junto daquelas sardas.

Três horas depois estavam atracados no carro. Dele. Em frente ao prédio. Dela. Pediu para subir. Negativo. Mas a mão que abria sua braguilha, dizia-lhe que nem tudo estava perdido.

Com o bimbo livre, desfraldado e orgulhoso da ereção, recostou no banco e deixou a moça mostrar a que vinha. Deu azar. Ela foi de mão. Melhor que nada. Salve Onã, rei dos solitários!

Cinco minutos depois, sentiu que a ela não era do ramo. Mal de ritmo, acelerava e desacelerava, como motorista amadora. Uma tristeza. Resolveu dar uma mãozinha. Isto é, um palpite. Sussurrou:

"Pega mais na base...isso, assim... Agora toca em frente, benzinho, rápido..."

A ruiva bem que tentou fazer a vontade do freguês, mas não acertava a mão. Deu outra dica:

"Insista na cabecinha, por favor..."

Novo fracasso. Definitivamente, ela não entendia do assunto. Fez força para se concentrar, pensando na esposa, Rosa. Quem sabe? “Rosinha, sim, bate um punhetaço!” Sem sucesso.

A dor que vinha do saco escrotal se estendia por longos minutos. Insuportáveis. Suava em bicas. E a ruiva não melhorava o desempenho.

Finalmente, concluiu: “Chega de terceirização! Quem gosta das coisas bem feitas que as faça.”

Empurrou a mão da moça. Num assomo de loucura, continuou ele mesmo o serviço, bem ao seu modo, gritando para a pobre coitada, pasma, ao seu lado:

"Vê se aprende, ô sarará, é assim que se descabela um palhaço!!!"


Carlão Bittencourt
é redator publicitário
e cronista.
É autor de
"Pela Sete - Breves Histórias do Pano Verde"
(2003, Editora Codex),
um mergulho no universo
dos salões de bilhar de São Paulo
e escreve todas as quartas
em LEVA UM CASAQUINHO.




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