Thursday, September 21, 2017

AS MINAS DO REI SALOMÃO (uma reminiscência publicitária de Carlão Bittencourt)


“Mulher, patrão e cachaça,
em todo canto se acha”
(Adoniran Barbosa)


Esta historinha não aconteceu numa agência de propaganda. Mas num estúdio de som. O personagem principal é músico, exímio violonista, e autor de jingles antológicos, desses que grudam feito chiclete no ouvido, e a gente não esquece nunca mais.

O cidadão é de descendência árabe, mas tem tudo a ver com o Rei Salomão. É justo, sábio e também tem um fraco pelas mulheres. Assim mesmo, no plural. Tanto que, apesar de casado na época do episódio, ele não se furtava a pular a cerca. Ou as cercas, para ser totalmente honesto. Pois o esganado, fora a primeira dama, ainda desfrutava de uma amante oficial (casada, óbvio) e três namoradas não oficiais.

Tudo bem que ele venha de uma família de sírios libaneses, povo notoriamente conhecido por seu voraz apetite sexual. Mas se relacionar com cinco mulheres, simultaneamente, é digno de registro.

Porque tamanha façanha, além da competência de um leão, exige o sangue-frio de um cadáver. Sem falar, claro, na disposição física. Mas, acredite, o Turco dava conta do recado. E mais: entre uma caixa e outra de cervejas, ainda fazia os tais jingles e lindas músicas para as suas musas.

Posto isso, vamos aos fatos.

Certo dia, uma das moças em questão, ótima também como cantora, lançou o seu CD. Adivinha quem foi o diretor musical do espetáculo? Isso mesmo, o Turco.

Até aí nada de mais, já que essa é a praia dele. O problema é que o maluco compareceu ao evento com a patroa do lado. E, como se isso fosse pouco, também convidou a amante (com o marido, lógico) e as outras três namoradas. Que cara de pau!

Para testemunhas oculares do risco de vida de corria, o celerado chamou a mim e minha mulher, e mais dois casais de amigos. E nos colocou a todos na mesma fileira da platéia. Tranqüilo, foi para o palco, acompanhar a cantora-namorada ao violão. Dá para imaginar a situação? Haja coração!

Eu e os dois amigos, que estávamos inteirados das trampolinagens dele com elas, é que ficamos preocupados de que aquilo acabasse na delegacia. Ou no IML. Porque a armação, insana, tinha tudo para dar errado. Tinha. Mas não deu.

Depois do show, o Turco Louco propôs que fôssemos comemorar o sucesso da noite no Amigo Léo, na Amaral Gurgel. Devido ao adiantado da sede, ninguém recusou.

No bar, sem o menor constrangimento, ele deu um jeito de acomodar todo mundo em volta de duas mesas redondas, que os garçons muito gentilmente juntaram. Dá-lhe chope!

Uma hora depois me dei conta da cena, absurda. Com a patroa de um lado, e a cantora-namorada do outro, o safado do Turco estava de frente para a amante e o marido dela. Depois, vínhamos nós, os amigos, apavorados de que a III Grande Guerra começasse ali. E, na mesa contígua, as duas outras namoradinhas do sacana. Que conversavam na maior animação, sem desconfiar que eram rivais.

Coisa de profissional. O campeão mundial de pôquer seria fichinha para o Turco. Sorrindo, o malandro administrava aquela situação altamente explosiva com a calma de um neurocirurgião.

No final, na hora das despedidas, ainda deu um jeitinho de beliscar o traseiro da amante, naquele aperto da saída do bar. Ou seja, o que para nós parecia o fim do mundo, para o Turco não passava de uma noitada absolutamente normal.

Foi aí que a minha ficha caiu. De vez. E descobri a resposta para um dos grandes mistérios desta vida. Porque o domador entra na jaula, desafia a sanha assassina de cinco leoas, ao mesmo tempo, e sai ileso.

Simples. Porque ele pode.


Carlão Bittencourt
é redator publicitário
e cronista.
É autor de
"Pela Sete - Breves Histórias do Pano Verde"
(2003, Editora Codex),
um mergulho no universo
dos salões de bilhar de São Paulo
e escreve todas as quartas
em LEVA UM CASAQUINHO.

1 comment:

  1. Carlão, o Turco em questão seria o.................., jamais saberão. Kkkkkkkkkk

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