Corria
o animado ano de 1984. Um jovem, no seu
primeiro emprego, começando a vida, 25 anos apenas, via-se enrolado com a
Polícia Federal por desvios no Banco do Estado da Bahia. Seu nome era Geddel
Vieira Lima, filho de Afrísio Vieira Lima e Marluce Quadros Vieira. Foram
precisos 33 anos para que, finalmente, o agora maduro e conhecido meliante
batesse com as costas na cadeia, por determinação do Juiz da 10ª vara Federal
de Brasília, Vallisney Oliveira.
Na
sua justificativa para a prisão preventiva, o juiz demonstrou que ao longo
desses 33 anos talvez tenha sido o único que entendeu o comportamento marginal
do filho de dona Marluce:...“reitera na atividade delituosa de lavagem de
capitais e outros delitos de forma sorrateira”. Interessante a utilização dessa
palavra -– “sorrateira” -- ou seja, aquele que age escondido, de maneira vil, age
pelas caladas, matreiro, dissimulado, disfarçado. Um canalha, enfim.
E
o Juiz tem razão. Ao longo dos anos que vieram pós 1984, Geddel Vieira Lima
sempre esteve ligado a alguma coisa ilegal, irregular. Em 1994, lá estava ele
envolvido com a máfia dos “Anões do Orçamento”, quando seu nome apareceu em um
papel encontrado na casa de um ex-diretor (adivinhem...) da Odebrecht com um
número sugestivo, 4%. Acabou inocentado, mas aqueles eram outros tempos.
Envolvido na política, usava com sapiência e inteligência (como todo bom
meliante...) o tal fôro privilegiado, uma maluquice que nossos políticos
inventaram e que os livra de uma série de problemas. Basta se eleger para
qualquer coisa e lá está o manto protetor.
Tempos
depois, já como Ministro da Integração Nacional, foi abertamente acusado de
direcionar altas verbas do ministério para aliados políticos, como se o dinheiro
público pudesse ser usado ao bel prazer de quem está no poder. Fica claro,
portanto, que se há algo que Geddel pouco liga é a moral, a ética, a
honestidade. Aliás, isso parace ser um DNA familiar. Seu irmão, Lúcio Vieira Lima (PMDB), está atolado até o pescoço
com a dinheirama encontrada no tal apartamento em Salvador onde as digitais de
Geddel foram encontradas pela Polícia Federal. Mamãe, Marluce Quadros Vieira
Lima, recebe a mixaria de R$ 26 mil da Caixa de Previdência da Assembléia do
Ceará, onde seu marido, Afrísio, atuou por 16 anos. Uma aposentadoria de dar
inveja a qualquer um...
Mas,
de qualquer forma, da tragédia é preciso se tirar uma lição. Antes de qualquer
coisa, fica claro que este País é uma verdadeira balbúrdia. Foram precisos 33
anos para que uma denúncia anônima indicasse os tais R$51 milhões, grana viva,
para a Polícia Federal. Durante esse longo período nenhum orgão público,
Receita, Polícia, Procuradoria ou seja lá o que, conseguiu prender o meliante,
mesmo com seu nome aparecendo regularmente nas páginas policiais. O nosso País
parece casa sem portão, onde todo mundo entra faz o que bem entende e sai. Na
verdade, uma grande e ignóbil avacalhação.
E
a coisa fica pior se considerarmos que 23 anos atrás o nome Odebrecht já
aparecia no meio da lama. Lá estava ela distribuindo bilhetinhos com os números
de comissões para marginais. Mais um vez, nenhum orgão do governo se preocupou
em checar, investigar e abrir inquéritos contra esse cancer terrível que é a
corrupção. Não tenho a menor idéia de como as coisas ficarão daqui para a
frente, particularmente depois que o ex-presidente boquirroto foi acusado por
seu braço direito, o popular “Italiano” nas planilhas de Odebrecht (sempre
ela...), mas a reação da população no desfile de 7 de setembro em Brasília,
quando aplaudiu de pé a caravana da Polícia Federal, mostra a necessidade que o
povo tem de um País correto, sério e sem ladrões.
A
carência foi escancarada na rua, num dia de sol e diante de todas as
“autoridades” que estavam no palanque oficial. Prova que nossa população é
honesta e aposta no melhor. Se será atendida, não podemos confirmar. Porém,
desapontada ela poderá ter reações surpreendentes. Prefiro apostar em dias
melhores, apesar da espera cruel...
Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado
e trabalhou para vários jornais e revistas
ao longo de 40 anos de carreira.
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quando quer e quando sente vontade,
pois, como dissemos acima,
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