Mercearia...
tecnológica...
Muito se fala
das famigeradas ‘redes sociais’: que “... é isso...”, “... é aquilo...”. Há
muita teoria para uma prática cada vez mais funesta.
A começar pelo
que é ‘tornado público’ (publicar!): sempre uma representação de ‘uma parte do
todo’, uma ‘simplificação’ que nem sempre reflete a ‘complexidade’ inerente a
qualquer ser. Há muita ‘redução’ nessas representações: a vida, mesmo, a de
verdade, costuma ser bem mais acachapante do que sonharia nossa vã filosofia.
Com as redes
sociais, pudemos constatar uma máxima muito praticada por essa desinternetada
Mercearia: que a vida de ninguém dá um livro. As histórias costumam ser as
mesmas e são raríssimamente interessantes. Apesar da complexidade do desfile,
nada que já não tenha sido visto antes.
Eis, aí, o
‘pobrema’: se a vida de ninguém ‘dá um livro’, o que faz todo mundo pensar ‘que
daria’?! As vidas privadas são razoavelmente desinteressantes como
matéria-prima da Literatura: em nenhuma aula dessa disciplina, seja direcionada
a uma língua específica, Teoria da Literatura ou Literatura Comparada, há
discussões tremendamente extensas sobre a vida privada de alguém.
Afinal, é uma
aula de Literatura, não de alcovitagem...
Uma coisa que se
aprende oficialmente nos cursos de Letras (nos bons, é claro!) por intermédio das
aulas de Literatura é que tal área de conhecimento possui uma tecnicidade quase
semelhante à Engenharia, ao Direto e à Medicina. Óbvio que é uma ciência humana
e possui suas particularidades, mas há muita técnica e observações de
regramentos nessa modalidade de Arte.
Não é bagunça,
não...
A arte de narrar
bem a história que se quer contar é o coração dessa disciplina, não a história
em si. É possível, na Literatura, apanhar uma ocorrência pequena da vida e
contá-la de uma forma magistral.
É uma arte
narrativa (sobre ‘como se conta’) com postos avançados, hoje em dia, no teatro
e principalmente no cinema.
Essa arte (a de
narrar!) não dispensa aquele ‘fundamental’ para qualquer coisa: a vocação e o
talento. Esse ‘contar uma história’ pode ter inúmeras formas e maneiras:
agradáveis, inusitadas, ‘chatinhas’, surpreendentes, mas todas encantadoras
pelo sabor que imprimem.
Contudo, isso
não quer dizer que, nas famigeradas redes sociais, tudo é narrativa ou toda
narrativa é cabível.
A internet,
assim como uma rede social, é uma praça pública: aberta 24 horas para a fauna
mais variada que se possa imaginar. Qualquer um pode frequentar tal espaço da
forma como melhor deseja, com qualquer tipo de roupa, por exemplo, ou mesmo sem
roupa alguma: nu(a) ou fantasiado(a) de Pikachu.
A questão em
torno desse espaço (internet, rede social) é que ele jamais filtrará aquilo que
compõe o íntimo de alguém. Se um sujeito é dado a certas ‘saliências’ (e cabe
aqui um substancial eufemismo porque o nome é bem outro!) em sua vida privada,
não se preocupe: o acinte e falta de respeito em ambientes privados logo
estarão à luz do dia, interferindo impiedosamente na vida de pessoas que sequer
imaginamos.
E aí, nesses
casos, é melhor ‘printar a tela’.
É possível
compreender certas motivações que vão ao íntimo do ser humano. Entretanto, isso
não significa deixar de levar o outro em consideração antes de uma tomada de
decisão (o respeito!) por mais que se entendam as contingências que fizeram
alguém ser o que é.
Em caso de
desatenção sobre o acima exposto, podem esperar: abuso a caminho! Em geral na
privacidade dos ‘mensageiros instantâneos’, sob uma perigosa premissa de que
“... não vai sair dali.”. Sai! Sai, sim! As pessoas se conversam, compartilham
telas printadas e, em breve, o nome do(a) querido(a) freguês(a) estará em
“bocas de matildes”.
‘De boa’,
caro(a) freguês(a)?! Chamem para conversar ao vivo e em cores. Bem mais
seguro...!
A postura fora
da internet e das tais redes sociais é o que confere segurança para certos
dados transmitidos com total discrição. O problema é que pessoas assim são cada
vez raras, rasíssimas, gente madura bastante para que certos detalhes e
informações possam ser seguramente compartilhados.
E lembrem-se: jamais
apertem botões como “publicar” e/ou “enviar” sem maiores certezas quando em
assuntos que podem interferir negativamente a vida de alguém. Essa impublicável
Mercearia já passou por isso e não aconselha ninguém. No mundo das baixezas e
dos ataques, tudo o que vai para uma rede social pode causar um dano
irreparável: de reputação a trabalho, de vida amorosa a social.
E deixemos as
peculiaridades e idiossincrasias para os relacionamentos privados e íntimos de
cada um. Nos casos de abuso e desrespeito, quem é vítima sempre se protege: é
cada ‘print screen’ de arrasar quarteirão.
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO
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