Sunday, June 28, 2015

CAMERON CROWE DRIBLA AS ADVERSIDADES E ACERTA A MÃO EM "ALOHA-SOB O MESMO CÉU"

por Chico Marques

"Aloha", novo filme de Cameron Crowe, é uma comédia romântica incomum e fora dos padrões, com diálogos rápidos e inusitados, e que segue num tom debochado, quase altmaniano. Não é um filme em tom menor, como o anterior "Comprei Um Zoológico". Também não é um projeto extremamente ambicioso, como "Vanilla Sky" e "Quase Famosos". É, na verdade, mais um mergulho na alma da América após uma descida ao Inferno em busca de alguma espécie de redenção pessoal, como em "Elizabethtown". Considerando a extrema má vontade com que a crítica recebeu tanto "Elizabethtown" quanto "Comprei Um Zoológico", não é de se espantar que "Aloha" também fosse mal recebido por eles.

E como foi. 

"Aloha" (que aqui ganhou o estranho título "Sob O Mesmo Céu") começou a apanhar da Imprensa Especializada meses antes de seu lançamento, por conta de emails desfavoráveis ao projeto da ex-presidente da Sony Pictures, Amy Pascal, que vazaram para a imprensa. 

Quando estreou finalmente, foi massacrado por críticos que alegaram que o filme, todo rodado e ambientado no Hawaii, é branco demais e mostra poucos havaianos nativos na tela -- uma alegação no mínimo leviana e injusta. 

Para piorar, metralharam o trio romântico Bradley Cooper-Rachel McAdams-Emma Stone, alegando que falta química entre eles -- ou seja, a mesma alegação requentada que já havia sido usada contra Orlando Bloom e Kirsten Dunst em "Elizabethtown" e contra Matt Damon e Scarlett Johansson em "Comprei Um Zoológico".
Na trama, o personagem de Bradley Cooper é um militar que trabalhou para a NASA no passado, e que, depois de fracassar em uma missão de guerra em Cabul, aceita retornar ao Hawaii, sua terra natal, para um novo trabalho de natureza duvidosa para um multimilionário que investe na Corrida Espacial, deliciosamente interpretado por Bill Murray. Inicia uma relação afetiva bastante conturbada com sua assistente, Emma Stone, uma piloto de jatos muito ambiciosa, mas não a ponto de abrir mão de suas raízes havaianas. E, de quebra, resgata uma velha paixão de muitos anos atrás com Raquel McAdams, agora casada com um piloto caladão e com um casal de filhos muito engraçados.

É um filme adorável, com a marca estilística de Cameron Crowe. Desde o sucesso estrondoso de "Jerry McGuire", ele vem procurando saídas para renovar a comédia romântica, alternando drama e comédia em receitas bem dosadas, semelhantes às usadas por James L. Brooks em seus filmes, mas sempre com um diferencial existencial pop -- consequência de sua longa associação com a revista Rolling Stone, onde trabalhou como jornalista nos Anos 70 e 80. 

Daí, é compreensível que publicações caretas e futriqueiras íntimas da Indústria Cinematográfica, como Variety e The Hollywood Reporter, tenham achado o filme "profundamente confuso" e "fatalmente equivocado". 
"Aloha" teve uma bilheteria decepcionante em sua primeira semana. Mas tudo indica que o boca a boca deva permitir que, ao longo dos próximos meses, o filme ganhe público aos poucos no mercado internacional, nas plataformas de  Video On Demand e no lançamento em DVD-Blu Ray, e as contas se acertem, o que deve dar um cala-boca nos detratores de plantão. Apesar de todas as adversidades, "Aloha" está emplacando sua terceira semana em cartaz. Convenhamos: um fiasco não emplaca uma terceira semana, sai de cartaz logo após a primeira.

"Aloha" é um filme delicioso, mas é inegável que tem alguns defeitos. O roteiro flui de maneira inconstante, e os diálogos sempre rápidos nem sempre parecem ter um foco muito claro. Fica a impressão de que Cameron Crowe permitiu a seus atores inserir cacos demais no script. Isso somado ao naturalismo -- nitidamente influenciado por Robert Altman -- das interpretações do trio central, já deve ser motivo suficiente para desagradar ao público habituado com a "objetividade narrativa" em voga em 99% dos filmes de Hollywood de uns anos para cá. Já a direção de Crowe, com muita câmera na mão em movimentos inusitados, tentando passar liberdade de movimentos para os rumos de seus personagens, com certeza vai irritar as plateias mais sisudas e apegadas a convenções.  

Grandes diretores como Peter Bogdanovich, Philip Kaufman e Alan J Pakula -- para não falar em Robert Altman e Woody Allen -- já foram alvos de campanhas difamatórias bem sucedidas como esta que assola a carreira recente de Cameron Crowe, e saíram vivos delas. Crowe é um diretor extremamente criativo, que se reinventa constantemente em termos artísticos. Não é ainda um grande diretor. Ainda tem muito o que crescer. Se deixarem, ele chega lá. Daí, fica a pergunta: a quem interessa tirar a autonomia criativa tão duramente conquistada por Cameron Crowe?

Francamente? Eu -- assim como 99% dos seres humanos frequentadores de salas de cinema -- estou me lixando para as politicagens de Hollywood, que são amplificadas por esse exército de críticos futriqueiros de plantão, que vivem de babar o ovo de Hollywood em troca de presentinhos e de eleger as "bolas da vez" ascendentes e descendentes na cena cinematográfica.

Querem um conselho?

 Assistam "Aloha - Sob O Mesmo Céu". 

Mas antes preparem-se para embarcar numa comédia romântica nada corriqueira sobre um Hawaii bem mais cativante do que aquele que consta nos Guias Turísticos.  
SOB O MESMO CÉU
Aloha
(2015 - 118 minutos)

Direção e Roteiro
Cameron Crowe

Elenco
Bradley Cooper
Rachel McAdams
Emma Stone
Bill Murray
Alec Baldwyn
John Krasinski
Danny McBride
Em cartaz no Roxy Iporanga 4,
 no Shopping Pátio Iporanga




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